01/11/2006
O aquecimento global não é apenas indesejável, mas também muito caro. Dois relatórios divulgados nesta semana prevêem que os gases de efeito estufa lançarão a economia mundial em colapso se não forem controlados.
O diretor do departamento de mudança climática da ONU, Yvo de Boer, deixou claro quando apresentou o novo relatório de clima da ONU em Bonn na segunda-feira (20/10): "Temos que reagir urgentemente à mudança de clima. De outra forma, será muito caro."
Essa conclusão veio junto com um estudo econômico do Reino Unido sobre o aquecimento global - chefiado pelo ex-diretor do Banco Mundial Nicholas Stern e também divulgado na segunda-feira - que prevê uma crise econômica mundial se a mudança climática não for efetiva e imediatamente combatida.
O relatório da ONU detalha uma tendência preocupante: a medida mais importante da influência humana no clima global -a emissão de dióxido de carbono (CO2)- está novamente progredindo na direção errada. Depois de deter as emissões mundiais de CO2 durante os anos 90, a ONU estima que as emissões de gases que prendem o calor aumentaram de 17,5 para 17,9 bilhões de toneladas entre 2000 e 2004.
Os seres humanos estão se dirigindo para uma catástrofe climática? Quão dolorosas devem ser as medidas contra as emissões? O que vem após Kyoto?
Essas perguntas estarão em pauta na semana que vem em Nairóbi, nas discussões climáticas da ONU. Se os ministros de meio-ambiente e de finanças do mundo vão concordar com qualquer solução é outra questão.
Enormes reduções
Há uma dura batalha pela frente: para provocar uma grande mudança no consumo de energia e na produção pesada, seriam necessárias reduções dolorosas no tráfego e no consumo. Até a metade deste século, as emissões de CO2 precisam ser reduzidas entre 60 e 80% em países industrializados, disse Boer.
Entre 60 e 80%? As diretrizes de mudança climática dos anos 90 nem chegaram perto desse patamar de redução. Durante os anos 90, os níveis de CO2 caíram, principalmente porque o fim da União Soviética causou uma desaceleração econômica mundial, além dos avanços em tecnologia ecológica. As emissões de dióxido de carbono de fato diminuíram entre 1990 e 2004 em 3,3%. Isso pode parecer um sucesso menor em um período de 15 anos -especialmente considerando-se as reduções que o novo relatório sugere- mas ainda assim foi uma conquista.
Para chegar a esse retrato de tendência mundial, o relatório da ONU observou as emissões em 41 países industrializados. Os principais pontos incluem:
- A Alemanha reduziu suas emissões de CO2 entre 2000 e 2004 em modestos 0,7%. Como resultado do colapso da indústria no antigo oriente comunista, os níveis caíram em 17,2% entre 1990 e 2004. Sergej Kononow, da secretaria de mudança climática da ONU, diz que isso "é muito perto da meta do Protocolo de Kyoto".
- As emissões de CO2 nos EUA aumentaram em 15,8% entre 1990 e 2004, incluindo um aumento de 1,3% entre 2000 e 2004.
- Turquia, Espanha e Portugal devem levar o prêmio por lançar ainda mais CO2 na atmosfera. Entre 1990 e 2004, os três países aumentaram suas emissões de gás de efeito estufa em 72,6%, 49% e 41%, respectivamente.
- A principal questão que ficou em aberto no relatório é a Ásia. A China e a Índia, com populações enormes e economias prósperas, nem mesmo foram avaliadas pelo relatório.
O Protocolo de Kyoto previa uma redução de emissões de gás de efeito estufa nas nações industriais até 2012; nessa altura, os países em desenvolvimento entrariam no esforço. Hoje, com a mudança das tendências desde 2000, esse objetivo parece improvável. O fracasso dos alvos de Kyoto pode complicar negociações mundiais porque as pessoas mais afetadas pela mudança climática vivem em países em desenvolvimento. A África será a mais afetada, mas ao mesmo tempo produz uma quantia relativamente pequena de gases de efeito estufa, diz Stern, autor do relatório do Reino Unido.
O comissário da UE Jose Manuel Barroso confessou que países da UE provavelmente não vão cumprir seus alvos de redução de CO2. "Isto não é uma fabricação de alguns ecologistas", disse ele,"este é um sério problema que ameaça o futuro da vida neste planeta".
Ainda assim, Barroso disse na segunda-feira em uma conferência de energia em Lisboa que a questão da competitividade e da segurança de fornecimento eram prioridades.
"Podemos crescer e sermos verdes"
Os EUA rejeitaram Kyoto e não reduziram suas emissões de CO2 desde 1990. Ainda assim, estão lentamente descobrindo seu lado ecológico. Grandes empresas americanas instituíram suas próprias políticas de redução de CO2, e Estados individuais como a Califórnia estão criando suas próprias leis ambientais.
De fato, a Europa não pode simplesmente apontar o dedo para o outro lado do Atlântico. De acordo com o relatório do Reino Unido, a Europa tem que reduzir suas emissões de CO2 em 30% até 2020 e 60% até 2050. "Isso é possível de se fazer", disse Stern. "Podemos crescer e sermos verdes." Ele argumenta que se a mudança climática for ignorada, o dano à economia global será comparável à Grande Depressão ou às guerras mundiais.
O primeiro-ministro britânico Tony Blair disse que o relatório de Stern "demoliu o último argumento que restava para a inação diante da mudança climática". O Reino Unido está promovendo uma nova estrutura que inclua os EUA, China e Índia -que não fazem parte do tratado de Kyoto.
Tradução: Deborah Weinberg
Nota: Que tal um dia semanal de paralisação obrigatório?
Apocalipse 13:16-17
A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome.