terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Gelo da Groenlândia agita debate sobre nível dos oceanos


A antiga cúpula congelada que cobre a Groenlândia é tão vasta que pilotos já se chocaram com aquilo que pensavam ser uma formação de nuvens se estendendo ao longo do horizonte. Ao voar sobre ela, mal dá para imaginar que este gelo pudesse se derreter com rapidez suficiente para tão cedo elevar perigosamente o nível dos oceanos.

Entretanto, ao longo dos seus flancos, na primavera e no verão, o quadro é muito diferente. Durante uma série cada vez mais extensa de anos quentes, uma série de lagos azuis e riachos de gelo derretido tem se espalhado cada vez mais sobre a camada de gelo. A superfície que se derrete escurece-se, absorvendo até quatro vezes mais energia solar que a neve não derretida, que reflete a luz do sol. Cavidades naturais de drenagem, as chamadas moulins, conduzem a água da superfície para as profundezas, fazendo com que em alguns locais ela atinja o fundo de pedra. De forma discreta, mas mensurável, o processo lubrifica as superfícies e acelera a movimentação do gelo rumo ao mar.

E, segundo os glaciologistas, o mais importante é a ruptura de grandes pedaços semi-submersos de gelo onde enormes geleiras da Groenlândia, especialmente na costa oeste, se espremem pelos fiordes ao se encontrarem com o oceano em processo de aquecimento. Conforme essas passagens foram se abrindo, acelerou-se o fluxo de diversos desses rios congelados e rugosos.

"Todas essas mudanças fazem com que atualmente diversos glaciologistas estejam nervosos - para não dizer chocados", afirma Ted Scambos, que é o cientista chefe do Centro Nacional de Dados Sobre Neve e Gelo, em Boulder, no Colorado, e um veterano dos estudos sobre a Groenlândia e a Antártica.

Alguns temem que a elevação do nível dos mares em um mundo em processo de aquecimento possa ser maior do que a estimativa mais pessimista de cerca de 60 centímetros neste século, feita no ano passado pelo Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (os mares subiram menos do que 30 centímetros no século 20). A avaliação do painel não incluiu fatores conhecidos por contribuir para os fluxos de gelo, mas que não são compreendidos de forma suficiente para que se possa fazer com confiança estimativas baseadas neles. Tudo o que o painel pôde dizer foi: "Valores maiores não podem ser excluídos".
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Fonte - UOL (Exclusivo)
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