Quem se dirige ao povo como mensageiro de Deus, ocupa o púlpito para o momento da pregação ou outra ocasião, deve ter a noção do que é ser ministro de Deus. Esta é uma solene responsabilidade: trazer a Palavra de Deus até Seu povo.
Entre aqueles que a cada semana se deslocam à igreja para ouvir a palavra de Deus, alguns vêm por uma questão de hábito, quase num ato mecânico; esta não é a melhor razão para vir adorar o Senhor e ouvir a Sua voz. No entanto, muitos há que saem de suas casas e se deslocam até à igreja porque precisam ouvir algo que lhes faça bem, lhes acrescente força à vida espiritual, depois de, eventualmente, terem passado por alguma aflição ou dificuldade. E estes, estão à procura de Jesus e sempre o encontram.
Por vezes, a mensagem que recebemos pode não ser a mais agradável ao ouvido – mas, veremos, segundo Deus pode ser a melhor!
Hoje sabemos que a vida dos fiéis seguidores de Deus, foi, na maior parte dos casos, cheia de lutas, dores e obstáculos. Vejamos alguns exemplos da Bíblia.
Noé poderia ter sido considerado um pregador frustrado: por 120 anos advertiu o povo do eminente juízo de Deus, e só conseguiu convencer a própria casa… Ele foi gozado, ridicularizado, motivo de crítica; mas por ter cumprido com a vontade de Deus, salvou-se juntamente com a sua família.
Centenas de anos depois, João Batista parecia ser um fracassado: viveu quase sempre sozinho, com roupas humildes e uma alimentação talvez estranha. A sua pregação de advertência acabou por custar-lhe a vida; no entanto, Ele foi um fiel cumpridor da missão que Deus lhe tinha entregue.
Não apenas na história bíblica, homens se levantaram por ordem de Deus para condenar o erro do povo e conduzi-lo ao arrependimento, à verdade da Palavra Eterna. A história universal conta como Martinho Lutero enfrentou a Igreja Católica Romana, defendendo as verdades expostas na Palavra de Deus que entretanto descobrira. Temos também o exemplo de João Huss, que preferiu morrer queimado numa fogueira a trair a pregação que o Senhor lhe tinha dado a transmitir.
O Antigo Testamento conta, entre outras, duas dessas histórias.
A primeira é a do profeta Natan, enviado por Deus para denunciar o adultério e crime de David. Destemidamente, Natan apontou o dedo a David (o Rei!) e, sobre esse pecado, disse-lhe ‘tu és esse homem’ (II Samuel 12:7).
David prontamente aceitou a repreensão que veio de Deus – repare, veio de Deus e não de Natan – e chorou amargamente pelo seu pecado: ‘então disse David a Natan: pequei contra o Senhor’ (II Samuel 12:13). O Salmo 51 é um emocionante ato de confissão de David perante Deus.
Um outro caso é o de Elias, um corajoso servo de Deus que acusou o pecado de um outro rei. Elias apontou o dedo a Acabe e sobre a ruína do povo disse-lhe semelhantemente: ‘tu és o culpado’.
Elias anunciou também a razão pela qual teve de usar destas palavras, o porquê da desgraça que se abatia sobre a nação. ‘E sucedeu que Acabe vendo a Elias, disse-lhe: és tu o perturbador de Israel? Então Elias disse-lhe: eu não tenho perturbado a casa de Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque deixaste os mandamentos do Senhor’ (I Reis 18:17-18).
Elias apontou que a razão pela ruína era o abandono dos mandamentos de Deus.
Você conhece todos os mandamentos de Deus? Vamos resumi-los brevemente, conforme encontrados em Êxodo 20:3-17.
I Não terás outros deuses diante de mim
II Não farás para ti imagem de escultura
III Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão
IV Lembra-te do dia de Sábado para o santificar
V Honra teu pai e tua mãe
VI Não matarás
VII Não adulterarás
VIII Não furtarás
IX Não dirás falso testemunho contra o teu próximo
X Não cobiçarás
Estes preceitos divinos, não sofreram alterações ao longo dos séculos, nem tampouco a ordem de Deus a Seus servos para proclamarem a Sua verdade foi mudada.
II Timóteo 4:1-2 diz ‘conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há-de julgar os vivos e os mortos, na Sua vinda e no seu reino; que pregues a Palavra, instes, a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina’.
O termo 'longanimidade' aponta para a bondade e a misericórdia de Deus, que produz a hipótese de arrependimento; a 'doutrina', essa manteve-se como fundamental para não por em causa os princípios desde sempre estabelecidos por Deus.
Porque razão Deus continua ainda hoje com esta ordem? Diz logo de seguida em II Timóteo 4:3-4: ‘porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores, conforme as suas próprias concupiscências. E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.’
‘Não sofrerão a sã doutrina’ quer dizer que se afastariam dos princípios de Deus, como que se não vigorassem mais. O ‘amontoar para si doutores’ indica que por motivo do afastamento de Deus, o povo criaria a sua própria doutrina, à rebelia da ordem de Deus.
Deus sabia que infelizmente o povo iria preferir as suas próprias ideias sobre os mandamentos de Deus. O povo iria mesmo interpretar os mandamentos de Deus conforme quisesse e não segundo Sua vontade.
Por isso, Deus precisa que alguém levante a sua voz para defender a Sua Palavra!
Vejamos algumas citações do Espírito de Profecia.
'Em todos os séculos haviam os profetas erguido a voz contra os pecados dos reis, autoridades e povo, dizendo as palavras que Deus lhes dera e obedecendo à Sua vontade com perigo da própria vida.' O Desejado de Todas as Nações, pág. 618.
'Ao servo de Deus, no presente, é dirigida esta ordem: Levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao Meu povo a sua transgressão (Isaías 58:1).' O Grande Conflito, pág. 459.
Hoje, quem ainda levanta a voz para cumprir a ordem de Deus? Quem se assume com coragem de perder honras terrenas, amizades e simpatia de homens, para proclamar e defender as pouco populares mensagens de advertência da parte de Deus?
Tem havido tempo e lugar para cumprir com a ordem de Deus para repreender o povo e trazê-lo ao arrependimento? Ou estamos demasiado preocupados na exaltação da nossa suposta - mas falsa - condição de pré-salvos que nem temos tempo para ouvir a voz repreendedora de Deus?
O pecado é tão ofensivo para Deus, que Ele não usa de palavras mansas nem meias verdades ao lidar com essa praga. Ele trata as coisas pelo seu verdadeiro nome.
'Erros precisam de ser reprovados, o pecado precisa ser chamado pecado, e a iniquidade deve ser enfrentada de modo pronto e decisivo, e afastada de nós como um povo.' Testemunhos para a Igreja, vol. III, pág. 260.
Deus não faz esta advertência por entretenimento, apenas para ocupar a mente do povo com algo; se Ele usa destas palavras é porque algo tremendamente mau precisa ser eliminado!
E porque razão precisa ser esse mal expurgado? Veja: 'o testemunho claro e directo precisa viver na igreja, ou a maldição de Deus repousará sobre Seu povo como repousou no antigo Israel por causa de seus pecados.' Testemunhos para a Igreja, vol. III, pág. 269
Deus não brinca com as palavras – quando Ele diz maldição, é mesmo maldição! Quando Ele acusa e avisa a sentença, Ele quer dizer isso mesmo.
Atente para esta declaração bíblica que mostra que fazer o pecado passar por algo de bem, de justo, é horrível aos olhos de Deus: ‘o que justifica o ímpio e o que condena o justo são abomináveis para o Senhor’ (Provérbios 17:15).
O Espírito de Profecia esclarece ainda: 'se há erros claros entre o Seu povo, e os servos de Deus continuam em frente indiferentes a isso, estão por assim dizer apoiando e justificando o pecador, e são igualmente culpados, incorrendo tão certo como ele no desagrado de Deus; pois serão tidos como responsáveis pelos pecados do culpado.' Testemunhos para a Igreja, vol. III, pág. 265.
Deus não faz ameaças sem sentido, para meter medo, tampouco para se exibir como Todo-poderoso… O que Deus adverte o Seu povo é que se Ele diz que assim será caso o povo decida não voltar atrás, Deus acabará por cumprir o que disse – seja para bem, seja para mal (relembre como foi no dilúvio e com Nínive…)!
Mas, afinal, qual a consequência do desrespeito para com as ordens de Deus?
‘Se o homem não se converter, Deus afiará a Sua espada; já tem armado o Seu arco, e está aparelhado’ (Salmos 7:12).
Acha que Deus vai ter má pontaria ao atirar sobre o pecado? Acha que Deus irá falhar o alvo quando fizer descer os seus anunciados juízos sobre os impenitentes de Seu povo que Ele tanto apelou ao arrependimento? Eu estou seguro que não…
Mas porque razão Deus aponta a Sua flecha fatal contra alguém? Veja o que a Bíblia responde: ‘eis que esse está com dores de perversidade; concebeu trabalhos, e produzirá mentiras. Cavou um poço e o fez fundo, e caiu na cova que fez’ (Salmos 7:14).
Porque é que surge este poço? Porque razão a Bíblia diz que a perversidade, isto é o pecado, é que o cavou? Porque é que muitos tragicamente criam este poço fundo e depois caem nele?
‘Foram-me mostrados em visão muitos casos em que o desagrado de Deus foi atraído por negligência por parte de Seus servos quanto a tratar de erros e pecados existentes entre eles. Os que passaram por alto esses erros têm sido considerados pelo povo muito amáveis e de disposição benigna simplesmente por haverem eles recuado do desempenho de um claro dever escriturístico. Essa tarefa não agradava aos seus sentimentos; portanto, eles a evitaram.” Testemunhos para a Igreja, vol., pág. 265, 266
Paulo, falando sobre as negligências e más condutas dos primeiros cristãos, escreveu um texto tão duro quanto misericordioso: ‘geralmente se ouve que há entre vós fornicação, e fornicação tal, que nem ainda entre os gentios se nomeia, como é haver quem abuse da mulher de seu pai. Estais ensoberbecidos, e nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação. Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus’ (I Coríntios 5:1-5).
O pecado deve ser condenado e ‘entregue a Satanás’ para destruição! O pecador deve arrepender-se para ser salvo no dia do Senhor Jesus! Mas para isso, todo o povo deve entristecer-se pelo pecado, ficar pesaroso, aflito e ciente da calamidade que ele representa.
Que triste é quando verificamos que em vez de se entristecer, o povo continua pelos mesmos caminhos de erro e perdição…
O profeta Isaías anuncia a razão pela qual Deus nem sempre pode estar com o Seu povo amado: ‘eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar, nem o seu ouvido agravado, para que não possa ouvir. Mas as vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o Seu rosto de vós, para que vos não ouça’ (Isaías 59:1-2).
Não há meio-termo para descrever o pecado; não há condescendência possível; não se pode pactuar nem minimamente. O pecado, quando não assumido, não confessado, não expurgado, provoca SEMPRE que Deus não esteja junto do pecador. Isto porque, Deus pode estar onde está o pecador; mas Deus está lá para o perdoar, salvar e fazer mudar de rumo, limpando e apagando o pecado. Deus NUNCA pode estar quando o povo insiste em se manter no pecado!
Alguns apontam os casos de Maria Madalena e Zaqueu; dizem que são exemplos de pecadores com quem Jesus se juntou e afinal, convivia. Caro leitor, saiba que isso não é totalmente verdade...
Maria Madalena e Zaqueu são exemplos de pecadores arrependidos, perdoados, de vida mudada, com outro procedimento! Jesus mudou a vida deles porque eles O aceitaram, se humilharam e receberam o Seu perdão (Maria Madalena deixou de receber homens em casa; Zaqueu deixou de explorar o seu próximo). Por isso Jesus se juntou com eles e até entrou em suas casas!
Quer ver o exemplo oposto? Porque razão Jesus não se juntou nem entrou na casa do jovem rico? Simplesmente, porque ele não se arrependeu, não mudou; continuou com o seu erro que o afastava de Jesus. Quando ouviu a palavra de salvação (de Jesus) que lhe ordenava largar o que era o seu pecado, o que o separava de Deus, ele escolheu, preferindo seguir a vida com esse pecado. E Jesus, certamente com tristeza, deixou-o virar costas e seguir a sua própria vontade…
Por vezes a decisão de condenar o pecado e seguir Jesus implica escolher entre Ele e pessoas que amamos.
A Bíblia esclarece, nas palavras de Jesus: ‘quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim’ (Mateus 10:37).
Deus espera, e até exige, sempre uma reposta de Seus filhos a quem é proclamada uma mensagem. Repare: ‘quando Deus envia aos homens advertências tão importantes que são representadas como proclamadas por santos anjos a voar pelo meio do céu, Ele requer que toda a pessoa dotada de faculdade de raciocínio atenda à mensagem.’ O Grande Conflito, pág. 594.
O que não devemos esquecer, é o trágico e crescente perigo no qual nos colocamos quando propositadamente vamos recusando as sagradas advertências de Deus.
‘A cada rejeição da verdade o espírito do povo se tornará mais entenebrecido, mais obstinado o coração, até que fique entrincheirado em audaciosa incredulidade.’ O Grande Conflito, pág. 603.
A Bíblia lança um ‘ai’ sobre aqueles que insistem em trocar a ordem de valor das coisas, definida por Deus: ‘ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem da escuridão luz, e da luz escuridão; e fazem do amargo doce, e do doce amargo’ (Isaías 5:20).
De quem é que Deus precisa hoje? Que requisitos pede Deus a Seu povo, o mesmo que se diz guardador de Seus mandamentos?
"A maior necessidade do mundo é a de homens - homens que se não comprem nem se vendam; homens que no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens, cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao pólo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus.” Educação, pág. 57.
A fidelidade a Deus tem um preço? O que custará, enfim, ser fiel a Deus?
‘Os que se esforçam por obedecer a todos os mandamentos de Deus, defrontarão oposição e escárnio.’ O Grande Conflito, pág 593.
Sim, a escolha muitas vezes recai sobre coisas e, como já vimos, pessoas que amamos. Mas aqui a escolha é assustadoramente simples: fico do lado de Deus, ou fico contra Deus?
E o que diz a Bíblia sobre esse preço a pagar? ‘Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério’ (II Timóteo 4:5).
Pode-se pensar que por vezes não é fácil proclamar a mensagem de Deus. No entanto, o mensageiro de Deus deve ter a perfeita noção que o Criador não o chama para agradar as pessoas, mas para dizer a Sua verdade!
No fim dos tempos, cada vez mais próximos e evidentes, alguns serão atirados em prisões, ou levados perante poderosos homens, devido à sua fé; e, ali terão de mostrar evidências dessa mesma fé. Pergunto solenemente: como é que queremos estar de pé nesse dia, se hoje nem sequer dentro da própria casa, da nossa igreja, conseguirmos levantar a voz a favor de Deus, denunciando o erro e o pecado contra Ele?!
Deus é um Deus poderoso que já deixou vastas evidências de Sua bondade para com os que lhe são fiéis: ‘lembrai-vos das coisas passadas, desde a antiguidade: que Eu Sou Deus e não há outro Deus, não há outro semelhante a Mim’ (Isaías 46:9).
As coisas passadas são todos os relatos da Bíblia, todas as advertências ao nosso comportamento. Por isso, a voz de Deus ainda hoje clama em busca do pecador, para que mude o seu caminho, para que pense melhor antes de tomar posição contra Deus e abrir a porta ao inimigo.
‘Ouvi-me, ó duros de coração; os que estais longe da justiça’ (Isaías 46:12)! Parece que sentimos o céu inteiro a clamar: vinde em busca da salvação! Arrependei-vos, mudai o rumo da vossa vida e proclamai com coragem as solenes mensagens de Deus para Seu povo!
‘Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações’ (Hebreus 3:15).
Caro leitor, não endureça o seu coração. Entregue-o assim como ele está, cheio de pedras do pecado, ao Salvador, e deixe que Ele o transforme para uma vida nova.
Ah, e levante a sua voz para proclamar a Sua mensagem!