quarta-feira, 7 de julho de 2010

Comentário ao primeiro sermão apresentado pelo Pr. Ted Wilson como presidente mundial da Igreja Adventista

O Pastor Ted Wilson, novo presidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia mundial, apresentou ontem o Culto de Adoração no último dia da 59ª Sessão da Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. A pregação, com o título, "Segue em Frente", foi um dos mais brilhantes sermões que já ouvi na nossa igreja.

As primeiras palavras do Pr. Wilson como presidente da igreja, produzidas logo após a sua nomeação e eleição como novo líder mundial, foram necessariamente curtas. Daí que, a ocasião deste Culto foi a primeira grande oportunidade de perceber por onde ele quer dirigir a igreja nos próximos anos, qual a sua visão para este movimento e quais as suas ideias mais relevantes que devemos aguardar postas em prática.

Fiquei a perceber que o Pr. Wilson, sem perder a diplomacia e compostura que se exige a quem ocupa aquela posição, não se demora demasiado em considerações superficiais e genéricas; ele explana o seu pensamento de forma clara e concreta, não temendo abordar diretamente o assunto. Isto é bom na medida em que, além de percebermos o seu raciocínio, deixa menor margem de dúvida nas análise que fazemos do seu discurso.

Algumas ideias centrais eu retirei da sua pregação, motivando a igreja a 'seguir em frente'. Suportando-me nas suas próprias palavras (o que farei largamente neste meu comentário), sintetizo-as assim:


Segue em frente...

a) exaltando a Cristo e proclamando a Sua graça;
b) apresentando as mensagens dos três anjos;
c) suplicando reavivamento e reforma;
d) seguindo a Bíblia literalmente;
e) lendo e aderindo ao conselho do Espírito de Profecia;
f) proclamando ao mundo as boas novas da salvação e a iminente segunda volta de Jesus.

Estas tópicos não são conclusões minhas; são, literalmente, aquilo que o Pr. Wilson referiu no seu sermão. E ao longo do mesmo, podemos perceber o desenvolvimento das suas posições.

A pregação começou por reconhecer que vivemos num mundo caótico. Provas disso encontramos nos desastres naturais, no aumento do crime e dos conflitos armados, na agitação política e a deterioração das economias.

Mais ainda, o Pr. Wilson referiu alguns sintomas acusados pelo mundo, que nos dizem respeito mais diretamente, quer como indivíduos e/ou igreja. Por exemplo: a desintegração das famílias, a descrença na absoluta autoridade de Deus, o aumento do espiritismo e, suficientemente significativo, as 'penetrantes e comprometedoras atividades do ecumenismo'.

Talvez esta definição tenha sido o primeiro ponto de grande destaque do seu discurso. Numa altura em que se tenta apresentar o diálogo, o entendimento e a interação como aspetos positivos a promover entre povos e religiões, o Pr. Wilson coloca os esforços ecuménicos na sua lista negativa de sinais da volta de Jesus e como parte de um mundo em desordem.

Mas deixa, desde logo, claro qual é a alternativa a estes sinais: uma 'confiança absoluta na imutável Palavra de Deus', indo ao ponto de afirmar que 'aceitamos a Bíblia como o fundamento para todas as nossas crenças e vemos nas suas páginas a nossa distintiva identidade profética e missão'. Por isso, lembra firmemente que somos identificados pela Bíblia como 'o povo remanescente de Deus', portadores de uma 'distinta mensagem de esperança e um mandato para proclamar a graça de Deus ao mundo'.

A defesa do Sábado bíblico do sétimo dia do ciclo semanal não poderia ficar de fora. Sendo este, principalmente em termos futuros, um ponto fulcral na separação entre o povo de Deus e o do mundo, é-lhe dado um natural destaque entre os Dez Mandamentos da inalterável Lei de Deus. O Pr. Wilson apresenta-o, indiscutivelmente, como a marca específica da aliança para com Deus no contexto das três mensagens angélicas.

Digo que, é pena se esta doutrina tiver que ser renovada entre nós; basta olhar para o nosso nome e perceber que o Sábado está enraizado naquilo que somos. Sem o Sábado, deixaríamos de ser isso mesmo que verdadeiramente somos e sempre seremos!

Um ponto que me fascinou em particular foi a sua abordagem ao Espírito de Profecia, assunto já aflorado no breve discurso de tomada de posse.

O presidente mundial identificou os escritos do Espírito de Profecia como 'outra marca distintiva do remanescente povo de Deus', invocando Apocalipse 12:17 e 19:10 onde lemos, respetivamente: 'aqueles que têm o testemunho de Jesus Cristo' e 'o testemunho de Jesus é o Espírito de Profecia'. O Pr. Wilson considera, sobre este aspeto, que 'Deus nos concedeu um dos maiores dons possíveis nos escritos' do ministério de Ellen White.

Repare nesta análise que ele faz: 'assim como a Bíblia não é desatualizada ou irrelevante, também não o é o testemunho da mensageira de Deus para o tempo do fim'. Eu quero subscrever total e cabalmente esta declaração! E para não deixar a tal margem para dúvida, veja em que termos ele desenvolve este conceito: 'vamos ler o Espírito de Profecia, seguir o Espírito de Profecia e partilhar o Espírito de Profecia'!

O Pr. Wilson referiu também algumas das melhores frases que definem o valor dos testemunhos da irmã White para a nossa igreja. Leia-as:

'Aceitemos o Espírito de Profecia como um dos grandes dons concedidos à Igreja Adventista do Sétimo Dia não apenas pelo passado mais ainda mais importante para o futuro.'

'O Espírito de Profecia provê um conselho clara e inspirado para ajudar a nossa aplicação da verdade bíblica. É o guia enviado pelo céu para instruir a igreja sobre como realizar a sua missão. É um expositor fiável das Escrituras.'

'O Espírito de Profecia é para ser lido, acreditado, aplicado e promovido.'

'Não há nada de antiquado ou arcaico no Espírito de Profecia; é para hoje e até Cristo voltar.'

Achei merecedor de grande atenção o fato do Pr. Wilson ter destacado uma obra em particular. Disse ele: 'existem tantos livros maravilhosos para partilhar, incluindo aquele que Ellen White indicou que desejaria distribuído mais do que qualquer outro: O Grande Conflito'.

Porquê essa atenção? Porque este é o volume que trata pormenorizadamente da grande luta entre o bem e o mal, entre Jesus, Rei do Universo e Satanás, rei deste mundo. Este livro denuncia clara e inequivocamente a grande obra prima de Satanás: a Igreja Católica (cap. 3, p 50).

Há, portanto, um nítido reforço da nossa posição profética, sem qualquer medo proclamar uma mensagem, admito, difícil, mas que é aquela que Deus ordena falar! Isto, em meio a algumas reticências que ultimamente se têm levantado acerca da abordagem que deve haver ao apresentar certos assuntos. Pois bem, aí está a resposta do nosso líder: é para continuar a fazer o que Deus desde sempre nos ordenou!

O Pr. Wilson defende assim esta posição, reforçando algo já apresentado: 'o Espírito de Profecia é uma das marcas identificativas do povo de Deus dos últimos dias e é tão aplicável hoje como foi antes porque nos foi dado pelo próprio céu. Como fiel remanescente de Deus, que nunca tornemos sem efeito a preciosa luz que nos foi dada nos escritos de Ellen White'.

Não devemos, contudo, esquecer que algo maior que os escritos de Ellen White está nas nossas mãos: a Sagrada Escritura.

Eis como o Pr. Wilson o explica: 'o nosso sucesso no finalizar desta obra depende da nossa submissão à Palavra de Deus e à condução do Espírito Santo'. Ele recupera o famoso episódio em que, na sua última intervenção pública perante a igreja, Ellen White tomou uma Bíblia nas suas mãos e afirmou: 'meus irmãos, recomendo-vos este livro!'.

Mas há algo mais que a igreja deve decidir fazer. E aqui continua o meu apreço pelo fato do Pr. Wilson não temer colocar o dedo na ferida, antes preferindo advertir a igreja acerca daquilo que deve existir. Aconselha ele que essa obra final que temos de executar 'depende se estamos ou não prontos para humildemente pedir por reavivamento e reforma nas nossas vidas, pessoal e coletivamente, como igreja, o que levará a um derrame do Espírito Santo na chuva serôdia'.

Novamente recuperando a nossa história, ele recorda uma visão de Ellen White em que Deus lhe revelou que durante a Sessão da Conferência Geral de 1901, era Seu propósito atingir dois objetivos: reorganizar a igreja, o que efetivamente aconteceu; e promover o derrame do Espírito Santo, o que não aconteceu devido à descrença entre os membros e líderes da igreja que não se humilharam perante Deus...

Conslusão do Pr. Wilson: 'precisamos orar seriamente por essa experiência'. E porquê? Por uma única razão: porque 'é o tempo! Jesus em breve voltará!'

Ao olharmos para o mundo à nossa volta, como dizia a introdução do sermão, podemos ficar desencorajados com o que vemos (ora, deveria acontecer exatamente o contrário...). Essa foi a experiência do povo do Israel literal logo após a saída do Egito. E o Pr. Wilson usou magistralmente esse exemplo.

Quando chegaram às margens do Mar Vermelho, a multidão ficou subitamente rodeada, quer pelo mar, pelas montanhas e, pior ameaça ainda, plelo furioso exército do Faraó egípcio. Por incrível e ingrato que pareça o Pr. Wilson levanta a séria questão que, como Adventistas, nos deve fazer refletir profundamente: 'porque é que quando Deus está a guiar, ficamos com medo?'...

Pensemos se não é esse o conceito desgraçado no qual baseamos muitos dos nossos comportamentos: mesmo sabendo que esta é a igreja de Deus, que Ele nos dirige e dirigirá até ao fim... agimos com medo?!!!

Olhemos para o que Deus ordenou ao povo que estava perante o mar para percebermos o que Ele nos diz hoje; em meio a essa aparente derrota dos israelitas, qual foi a ordem de Deus? 'SEGUE EM FRENTE'!

Deus ordena que avancemos! Temos uma missão, uma mensagem, uma terra para conquistar; então AVANCEMOS!

O Pr. Wilson refere: 'o Senhor lutará por nós, Ele abrirá o caminho. Ele providenciará a vitória para a Sua igreja. Mas nós devemos confiar Nele, devemos humilhar-nos perante Ele, devemos obedecer-Lhe e devemos seguir a Sua liderança!'.

Ele aponta quais são alguns dos inimigos que temos e perante os quais por vezes agimos como se fossem maiores que o próprio Deus: secularismo e liberalismo na interpretação bíblica, confusão religiosa e espiritual, dificuldades na vida pessoal, familiar ou social, etc.. Ainda assim, no meio disso tudo, mais urgente se torna o apelo de Deus: 'Segue em frente', independentemente das circunstâncias. E, conclui o Pr. Wilson, 'quando a voz de Deus fala claramente' para avançarmos, 'devemos obedecer à Sua ordem' e 'nunca perder a total confiança Nele'.

Apesar do mundo ter mudado radicalmente, a missão da Igreja Adventista não se alterou um milímetro. 'Deus tem um plano para a sua vida e para a Sua igreja', disse o Pr. Wilson. E atente para este outro conselho seu: 'nunca duvide acerca do destino deste poderoso movimento do Advento. Ele está nas mãos de Deus'.

E como seguir em frente? Ao mesmo tempo, fazemos outra pergunta: como não andar para trás?

Mais uma vez, o Pr. Wilson afronta novas ideias que se têm tentado introduzir entre nós, mas que deveriam provocar a maior repulsa. Eis o que ele destaca:

a) não aceitemos novos métodos só porque são novos e estão na moda;
b) testemos tudo conforme a suprema autoridade da Bíblia e o conselho dos escritos de Ellen White;
c) afastemo-nos de métodos espirituais não bíblicos, baseados em misticismo;
d) usemos adoração e práticas musicais cristocêntricas, baseadas na Bíblia;
e) não confundamos cenas de origem pagã onde a música e a adoração é tão focada na emoção que perdemos o ponto cenral da Palavra de Deus;
f) recusemos métodos que enaltecem o apresentador e diminuem a apresentação;
g) não sucumbamos a teologias fanáticas que nos afastam dos pilares da verdade Bíblica e dos fundamentos das crenças da nossa Igreja.

E, caso haja confusão e discórdia, eis o que sabemos e devemos fazer: 'mantenha-se pela verdade, ainda que caiam os céus'.

O Pr. Wilson arrisca uma declaração que muito apreciei ouvir: 'as históricas crenças bíblicas da Igreja Adventista do Sétimo Dia não serão alteradas'. Quando parecem surgir novas vagas de entendimento sobre aquilo que deve ser o Adventismo moderno, eis que esta sentença atira por terra qualquer vontade de mudança não sancionada pela verdade Bíblia, e que normalmente surge como resultado exclusivo do entendimento humano.

Talvez por isso, o Pr. Wilson refira que nos devemos 'manter firmes pela Palavra de Deus como ele é literalmente lida e interpretada', nomeadamente no que diz respeito ao relato da criação, que muito tentam agora reinterpretar conforme os tais (supostos) novos entendimentos que surgem. Isso implicaria um grave retrocesso a práticas 'evolucionistas ateístas ou teístas'; antes, sigamos na sabedoria do entendimento profético do que representa a lealdade para com Deus.

O Pr. Wilson cita Ellen White, em Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 170: 'cumpre-nos ser cuidadosos para que não interpretemos mal as Escrituras. Os claros ensinos da Palavra de Deus não devem ser tão espiritualizados que a realidade se perca de vista. Não forceis o sentido de sentenças bíblicas no esforço de produzir qualquer coisa de singular a fim de comprazer a fantasia'. Ou seja, não fazer da Bíblia aquilo que melhor nos apetece...

Tudo isto se resume no maior anúncio que fazemos: Jesus em breve voltará, naquele que será o 'belo final para a caminhada Adventista'!

Qual o convite do Pr. Wilson para toda a igreja? Ei-lo: 'convido-o a aceitar a maravilhosa graça de Cristo na sua vida, a renovar o seu compromisso para com Ele e com este grande movimento do Advento, a proclamar a graça de Deus, e a pedir a Senhor que ajude esta igreja a SEGUIR EM FRENTE!'

Termino refletindo que dificilmente poderia começar melhor o exercício do nosso novo presidente. Uma mensagem de certeza, confiança, segurança nas mãos de Deus, sem deixar de fazer o necessário repto às mudanças que devem ocorrer na igreja para que Deus nela Se manifeste como nunca antes!

Eu quero estar cá para participar disso! Eu também quero SEGUIR EM FRENTE!

Obs.: para fazer o download do texto integral (no original, em inglês) do sermão, clique aqui.



Fonte - O Tempo Final
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