segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Como estudar a Bíblia?

sábado, 15 de setembro de 2018

Louvor na igreja – parte 3: Quem é o protagonista?

Descubra cinco maneiras de levar a congregação a entender seu papel na adoração    
Joêzer Mendonça
Cada vez mais, as igrejas têm utilizado equipes de louvor numerosas e bem ensaiadas, músicos tocando ao vivo e equipamentos mais sofisticados. A busca por maior qualidade na liturgia é muito bem-vinda. Porém, tendo em vista esse cenário, é preciso que todos os envolvidos reflitam sobre sua atuação musical e espiritual a fim de evitar que seja retirado o protagonismo do louvor das mãos da igreja. A equipe de música não deve ser a protagonista, pois esse papel cabe à congregação.

Vale lembrar a todos, especialmente ao líder de louvor ou regente congregacional, que a boa liderança musical não tem que ver com frases emocionadas, melhores cantores, alta tecnologia, DVD de sucesso, nem com você. Liderar ou ministrar o louvor congregacional tem que ver com uma única pergunta: “Como posso servir musical e espiritualmente à igreja?

Reforço dois termos que usei: serviço, e não prestígio pessoal; e “à igreja”, e não a um ou outro grupo específico. Os mais idosos, os mais jovens, o coral ou a equipe de louvor são apenas partes de um corpo cuja cabeça não é você. É claro que há situações em que o líder de música precisa apoiar programas com foco específico numa faixa etária e grupo, ou mesmo programas que integrem diversos segmentos da igreja, como as celebrações da Páscoa e Natal.

No entanto, o líder de música deve estar atento ao momento em que toda a congregação é convidada semanalmente a participar da música: o momento do louvor congregacional. Inclusive, deve estar atento para não menosprezar nem superestimar essa seção do culto. Como se subestima o valor do louvor congregacional? Quando não há preparação adequada, quando se usa o louvor para preencher as lacunas da falta de organização, quando não se permite à igreja ouvir a própria voz, quando não se dá atenção a uma criteriosa seleção de repertório. Por outro lado, como se superestima o louvor congregacional? Quando é muito longo, quando é o centro das atenções, quando se acredita que determinado estilo musical vai reavivar a igreja, quando há mais foco nos resultados musicais do que nos frutos espirituais.

Se ninguém gosta quando o momento do ofertório demora em longos discursos ou orações, então porque achamos que alguém gosta de um serviço de louvor longo e cheio de falas? Não seria por que estamos inclinados a transformar o louvor musical no centro das atenções do culto?

Note que, às vezes, ao iniciar o louvor, alguns dizem: “Agora chegou a hora de todos participarem”.
Mas o ofertório também é um momento para todos participarmos, assim como as demais seções do culto. Por outro lado, se vamos todos participar do momento do louvor, então é hora de deixar a igreja cantar: “Nem sempre o canto deve ser feito apenas por alguns. Permita-se o quanto possível que toda a congregação participe” (Testemunhos para a Igreja, v. 9, p.143, 144).

Vou sugerir cinco ações para que isso ocorra:
  1. Escolha um repertório que a maioria das pessoas conheça. Nem sempre é hora de ensinar um hino pouco cantado. Pode parecer repetitivo para os cantores e músicos, mas para a congregação é a oportunidade de externar sua voz em uma melodia acessível e preferida. Saiba usar essa predileção em favor de uma adoração coletiva.
  2. Estude a acessibilidade da melodia que deseja usar. Hinos desconhecidos e/ou com letras difíceis causam estranhamento e não estimulam as pessoas a cantar. Se for usar canções de solistas ou quartetos, confira antes a extensão das notas da melodia (se tem notas muito agudas ou muito graves), pois, às vezes, essas canções têm melodia complicada para uma congregação inteira cantar, o que acaba inibindo a voz da igreja.
  3. Permita que a congregação ouça suas vozes. Subestimamos tanto as vozes da congregação que até deixamos alto o volume dos microfones, abafando o louvor coletivo. Talvez estamos tendo maior preocupação com o som que vai na transmissão do culto pela internet e menor preocupação com o som que a igreja vai fazer no culto presencial. Não deixe que a igreja apenas ouça a própria voz no último refrão, momento em que o líder de louvor diz: “Agora vamos ouvir só a voz da igreja cantando!” Experimentemos ouvir mais nossa voz misturada à dos nossos irmãos e irmãs cantando.
  4. Não confie no poder motivador dos estilos musicais tanto quanto no poder inspirador da comunhão pessoal. Em Adoração ou Show? (2006, p.127), Harold Best pergunta: “O estilo [musical] conduz as pessoas à verdadeira experiência da presença de Deus, ou é a experiência com Deus impulsionada pela fé, pela esperança e pelo amor que confere poder ao estilo que escolhemos?”
  5. Incentive a igreja a cantar após os sermões. Depois da Palavra falada por um, a Palavra cantada por todos. Na Bíblia, a adoração com música se dá imediatamente após os atos de Deus por Seu povo. Nesse sentido, a lembrança dos atos redentores de Deus no passado e de Sua bendita promessa para o futuro têm como resposta o louvor musical da congregação. Não estou dizendo que não haja mais mensagens musicais feitas por solistas ou grupos vocais, mas sim que haja mais momentos em que a igreja seja a protagonista do louvor.
JOÊZER MENDONÇA, doutor em Musicologia (Unesp) com ênfase na relação entre teologia e música na história do adventismo, é professor na PUC-PR e autor dos livros Música e Religião na Era do Pop e O Som da Reforma: A Música no Tempo dos Primeiros Protestantes

Fonte - Revista Adventista

Louvor na igreja – parte 2: Cante a Bíblia

Soluções para o impasse na hora de selecionar as músicas para o culto
Joêzer Mendonça
De manhã, no templo, todos se levantaram ao som da música. Mas nem todos cantaram. A música era bonita e o coro estava bem ensaiado, mas boa parte da congregação não sabia cantá-la, pois ela tinha um estilo sacro pouco habitual. Parecia ser cantada em outro idioma.

Essa descrição se encaixa perfeitamente com os registros históricos sobre a música nas catedrais antes da Reforma Protestante do século 16. Mas também, e infelizmente, retrata algumas situações na igreja contemporânea. Hoje há os que igualmente não cantam porque o “idioma” musical do hinário ou a música do DVD de louvor soam tão antiquados ou desconhecidos quanto o latim naquela época.

Num lugar frequentado por diferentes gerações e por pessoas de diferentes gostos musicais, como costuma ser a igreja, é absolutamente impossível agradar a todos. Por isso, para uma parte da congregação, as músicas escolhidas para a adoração congregacional sempre podem parecer inadequadas. Mas o que não se pode fazer é desprezar uma geração em favor de outra nem favorecer somente o repertório tradicional e excluir as canções mais recentes.

Faço algumas perguntas: por que vários hinos do hinário não entusiasmam uma parte da igreja? E porque tantas canções atuais não animam a congregação a cantar? Não seria porque ambos os repertórios estão numa linguagem diferente para diferentes pessoas?

Pessoas que cresceram ouvindo e cantando hinos tradicionais tanto em seus cultos domésticos quanto nos cultos no templo estão acostumadas com essa linguagem hinológica. Ou seja, para elas, o hinário apresenta a música e a letra adequadas para os momentos de louvor da congregação. Para elas, os cânticos contemporâneos são curtos, repetitivos e monótonos, contrastando com a variedade melódica e temática dos hinos tradicionais.

Por outro lado, pessoas que ouvem e cantam as músicas contemporâneas dos DVDs de ministérios de louvor também se acostumam com essa linguagem. Para elas, esses novos cânticos apresentam a música e a letra adequadas para os momentos de louvor congregacional. Acham que os hinos tradicionais são muito longos e monótonos, contrastando com a simplicidade melódica e temática das canções de louvor contemporâneas.

No segundo texto desta série, apresento algumas atitudes e ações que visam auxiliar a encontrar soluções para o impasse na hora de selecionar as músicas para o culto:
  • Motive a igreja a conhecer a riqueza de conteúdo do hinário. Um exemplo: ao cantar o hino “Quão Grande És Tu”, mostre como a primeira estrofe fala da criação de Deus e que a resposta do ser humano, maravilhado por esse poder que criou a natureza, é dizer “Quão grande és Tu”. Aponte como a terceira estrofe fala da morte de Jesus no Calvário para que você vivesse eternamente, e que a última estrofe é sobre a esperança da volta de Cristo. Como não responder cantando “quão grande és Tu, meu Deus”? A igreja verá como as estrofes desse hino abordam a história da Redenção da criação ao advento. Essa teologia cantada também está presente em outros hinos, como “Sou Feliz com Jesus”.
  • O que cantamos impacta o que cremos. Segundo Erik Routley, estudioso da música sacra, “importa muito o que se canta, porque há a tendência de se acreditar no que dizem os hinos. Uma doutrina incorreta será notada em um sermão; em um hino, e as pessoas tendem a acreditar nela” (Hymns Today and Tomorrow). Por essa razão, é importante providenciar cânticos que promovam a “sã doutrina”, a teologia clara de sua igreja.
  • Promova a ideia de que nenhuma geração possui a exclusividade da boa música. A cada geração, surgem novos compositores antenados com o idioma musical de seu tempo. É incoerente pedir aos compositores de hoje que façam música como se vivessem em 1918, assim como teria sido incoerente pedir aos músicos de 1918 que fizessem hinos como os de Martinho Lutero ou Isaac Watts. Erik Routley acrescenta: “Que fique claro que a arte de escrever um bom cântico não está confinada a eras passadas”. E os bons cânticos também não são de posse exclusiva dos compositores de hoje.
  • Faça várias combinações de repertórios. Os momentos de louvor podem ter pelo menos três modelos: (1) O louvor composto só de cânticos mais novos; (2) O louvor só com músicas do hinário e (3) O louvor que combina os dois repertórios. Veja esses três exemplos de acordo com os respectivos modelos acima: “O Melhor Lugar do Mundo” e “Verei Jesus”; “Bendita Segurança” e “Jesus é Melhor”; “Falar com Deus” e “Porque Ele Vive”, ou ainda com três músicas, como “Não Há o Que Temer”, “Saudade” e “Eu Não Me Esqueci de Ti”. Organize também medleys diminuindo estrofes ou repetições e combinando os diferentes repertórios. Utilize ainda conhecidas músicas de quartetos e corais, ajustando a tonalidade para o canto da congregação.
  • Busque cânticos que cultuem os atributos de Deus e Suas obras. Nos reunimos no templo com o objetivo de prestar um culto a Deus por causa de tudo o que Ele fez, faz e fará por nós. Nós O louvamos pelos Seus atributos de amor, justiça e majestade. Nós O adoramos porque Ele é bom e Sua misericórdia dura para sempre. Esses princípios bíblicos devem constar nas palavras de nossos cânticos de louvor. Como escreveu Larry Hurtado: “O culto cristão pode ser enriquecido pela lembrança do quadro maior dos propósitos de Deus, que se estende para além do nosso tempo e ambiente […] e que promete uma consumação da graça redentora” (At the Origins of Christian Worship, p. 116).
Somos chamados a louvar e adorar “diante do Senhor que nos criou” (Sl 95:6). Mas, definitivamente, precisamos amar mais nosso irmão que louva do que o louvor do nosso irmão.

JOÊZER MENDONÇA, doutor em Musicologia (Unesp) com ênfase na relação entre teologia e música na história do adventismo. É professor na PUC-PR e autor dos livros Música e Religião na Era do Pop O Som da Reforma: A Música no Tempo dos Primeiros Protestantes

Fonte - Revista Adventista

Louvor na igreja – parte 1: Baixe o volume



Amplificar o som dos instrumentos não vai aumentar o espírito de louvor da congregação, mas sufocar a voz da igreja
Joêzer Mendonça
Antes da reforma musical de Martinho Lutero e João Calvino no século 16, quem ia à igreja raramente cantava. A parte musical era desempenhada exclusivamente por profissionais, que, além de tudo, cantavam num idioma desconhecido para a maioria das pessoas (o latim), enquanto a congregação praticamente assistia à missa. Alguns reformadores protestantes devolveram a música de louvor e adoração para a congregação, e hoje ninguém imagina entregar o ato de louvor para um corpo de “adoradores” profissionais.

No entanto, às vezes o louvor congregacional tem recuado até os tempos anteriores à Reforma. Isso acontece por alguns motivos, dentre os quais destaco: (1) o volume alto da banda e das vozes que acompanham o momento de louvor e (2) o desconhecimento dos cânticos, tradicionais ou contemporâneos, selecionados para os cultos.

No texto de hoje, quero refletir somente sobre o primeiro motivo que apontei (abordarei outros aspectos nos próximos quatro artigos dessa série sobre louvor na igreja). Aumentar o volume dos instrumentos musicais não vai aumentar o espírito de louvor da congregação. Como já sabemos, a igreja não vai tentar cantar mais forte que o som da banda (ou do playback), não importa quantas vezes o líder de louvor repita: “Cantem com todo entusiasmo!” Então, tudo o que teremos é música tocada em volume alto.

Nós, músicos e cantores, queremos que a igreja participe do louvor, que se envolva no canto. No entanto, pegamos cinco instrumentistas e dez cantores, por exemplo, todos com microfone, todos amplificados nas caixas de som, e depois reclamamos que a igreja continua sem cantar. Um problema pode estar no espírito de louvor que o indivíduo traz para o culto. Mas você já parou para pensar que uma boa razão para a igreja não cantar conosco pode estar no volume das vozes e da banda?

Acho muito bonito quando um grupo de pessoas canta o louvor a três ou quatro vozes. Mas, e a voz da congregação? Muitas vezes a voz da igreja é ouvida apenas na última estrofe ou no último refrão.
Com base em uma carta de Ellen White, alguns defendem que o louvor deve sempre ser dirigido por um grupo de cantores. Um dos parágrafos diz: “Escolha-se um grupo de pessoas para tomar parte no serviço do canto” (Carta 170, de 1902). Particularmente, acho uma ótima ideia envolver mais pessoas e tornar o momento de louvor congregacional mais harmonioso e bem realizado. No entanto, na época dessa carta, não havia caixas amplificadas, sistemas de som estéreo nem microfones para os cantores. Mal havia hinários disponíveis para todos. Então, um grupo de pessoas, de bons cantores, parecia bem adequado para conduzir todos no canto.

A participação de um grupo de pessoas no louvor congregacional não é indesejável. O problema está no alto volume dos microfones, o que faz com que seja difícil escutar a voz da congregação. Às vezes, a pessoa não consegue escutar a própria voz. Isso inibe a participação da igreja que, em vez de participar, passa a assistir ao louvor.

Desse modo, quando a música não é bem conhecida de todos, seja uma música proveniente do hinário ou dos DVDs contemporâneos de louvor, e quando o som das vozes e dos instrumentos musicais está alto demais, a congregação acaba terceirizando o louvor para um grupo seleto de pessoas. Infelizmente, quando essa conjunção de fatores acontece, recuamos aos tempos anteriores à Reforma.

Como podemos equalizar a participação de músicos, cantores e membros da congregação? Seguem algumas dicas:
  1. Não intensifique demais o volume dos instrumentos. Cada instrumento musical possui sua identidade sonora e é preciso equilibrar as bases rítmica e harmônica de modo a não sufocar as vozes nem os instrumentos que dão o “chão” da tonalidade e da harmonia, como o violão e o piano.
  2. Evite solos durante as frases cantadas pela congregação. Não importa se você está tocando piano, guitarra ou saxofone. Estude a música que você vai acompanhar e selecione alguns trechos para reforçar a melodia e outros em que você possa fazer um contracanto à melodia, como as partes entre as frases cantadas.
  3. Nossa equipe de louvor não está à frente da igreja para cantar mais alto que todos, nem para mostrar como se deve louvar, mas para apoiar, orientar e conduzir as vozes da congregação. No final da carta que citamos acima, Ellen G. White disse: “Nem sempre o canto deve ser feito apenas por alguns. Permita-se o quanto possível que toda a congregação dele participe”.
Somos chamados a cantar e tocar de todo o coração e de todo o entendimento, e não de todo volume. Vamos organizar, apoiar e orientar os momentos de louvor para que a igreja se sinta confortável e estimulada a participar também de todo coração e entendimento. Não nos esqueçamos de que o louvor é congregacional.

JOÊZER MENDONÇA, doutor em Musicologia (Unesp) com ênfase na relação entre teologia e música na história do adventismo. É professor na PUC-PR e autor dos livros Música e Religião na Era do Pop O Som da Reforma: A Música no Tempo dos Primeiros Protestantes

Fonte - Revista Adventista
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