Roma (RV) – Passados 30 anos do histórico Dia de Oração das Religiões pela Paz, convocado pelo Papa João Paulo II em 1986 em Assis, terá lugar na cidade da Úmbria, de 18 a 20 de setembro, um novo encontro internacional pela paz promovido pela Comunidade de Santo Egídio.
A iniciativa, apresentada na manhã desta quarta-feira em Perugia, dá continuidade ao caminho traçado pelo Papa Wojtyla, como resposta às violências e aos desafios enfrentados pelo mundo de hoje. A respeito do encontro, intitulado “Sede de paz”, a Rádio Vaticano entrevistou o Presidente da Comunidade de Santo Egídio, Marco Impagliazzo:
“Em 1986 a questão central era a Guerra Fria: o mundo estava dividido em dois blocos e havia muitas guerras e focos de guerra provocados por esta Guerra Fria. Por isto João Paulo II quis reafirmar o papel decisivo das religiões pela paz. Foi um discurso profético, porque depois – como se viu – nos anos sucessivos, não somente cai o Muro de Berlim, mas nascem tantas pazes deste compromisso também das religiões. Eu penso em 1992, na paz em Moçambique: depois de tantos anos de guerra e mais de um milhão de mortos, foi mediada precisamente por uma comunidade cristã – a nossa – junto à Igreja de Moçambique. Também penso em tantos outros conflitos que terminaram nestes anos, até às boas notícias que chegam da Colômbia recentemente ou à reconciliação entre Estados Unidos e Cuba, graças à ação do Papa Francisco. Portanto, foi uma ideia profética e também genial para um mundo em que – infelizmente – as religiões, também em outros contextos, foram utilizadas como gasolina no fogo da guerra. Hoje o contexto é o do terrorismo, da violência difundida, da violência que nasce do narcotráfico, da difusão das armas. Portanto, os religiosos que nós chamamos para Assis, serão este ano chamados a tratar destes temas e, sobretudo, sobre o tema do valor de continuar a rezar pela paz, de fazê-lo mais, com mais força e com mais insistência”.
RV: Qual a contribuição concreta para a paz que vocês esperam deste encontro?
“Antes de tudo, não isolar nenhuma religião. Nós sabemos que o Islã não é um problema: é uma religião de paz nos seus livros sagrados, mas tem um problema no sentido de que dentro de certos países, que se definem islâmicos, nasceram grupos terroristas que estão semeando o terror não somente na Europa e no Ocidente, mas sobretudo no Oriente Médio. Penso em particular na Síria e no Iraque. Assim nós devemos, antes de tudo, pedir aos nossos irmãos muçulmanos um esforço maior e mais claro neste ponto, de uma separação total da violência de qualquer tema religioso. E depois, naturalmente, de serem todos mais unidos para trabalhar, junto à nossa gente e aos nossos povos, pela paz: as religiões devem fazer da pregação de paz e da educação à paz um elemento muito mais forte do que foi feito até agora. Devem deixar de falar sempre com uma linguagem pouco clara sobre este tema, mas ser muito mais fortes precisamente sobre o tema da paz”.
RV: Quem serão os representantes do mundo islâmico e das outras religiões que participarão deste evento?
“Do mundo islâmico temos personalidades expressivas: certamente o Reitor da Universidade de al-Azhar, o Grão Mufti do Líbano e de todos os países do Oriente Médio. Estarão também líderes da Ásia: penso na presença de dois líderes das duas maiores Irmandades muçulmanas indonésias, que englobam 60-70 milhões de seguidores. Depois, estamos muito felizes em poder anunciar a presença de Patriarcas das Igrejas Ortodoxas, primeiro de todos o Patriarca Bartolomeu, do Arcebispo de Cantuária. Estarão presentes os grandes líderes – quer pastores como bispos – das Igrejas Luteranas reformadas. Participarão também personalidades do mundo do budismo japonês, do mundo judaico de Israel e da Europa. Em suma, existe realmente uma sede de paz no mundo: uma sede que é a sede dos pobres, que é a sede das pessoas que sofrem pela guerra e pelas vítimas da violência. E penso nas tantas mulheres que são vítimas da violência. Portanto, a presença de um número tão vasto de personalidades religiosas, ao lado das populações que sofrem, me parece ser um belo sinal para o futuro do mundo”.
RV: Os representantes islâmicos que irão ao encontro são líderes que, com esta participação, manifestam também uma disposição ao diálogo e à abertura. O senhor espera e pensa que eles possam ter alguma influência significativa sobre aqueles que estejam, talvez, um pouco mais distantes deste diálogo?
“Acredito que o Islã esteja se confrontando com este problema: as grandes escolas, as grandes universidades são desafiadas hoje por uma mensagem simplificada, que é uma caricatura da religião, do qual fazem uso os terroristas e os seus apoiadores. Portanto, acredito que também o Islã esteja colocando o problema – e se o colocar também em Assis – de renovar a linguagem e de encontrar novos caminhos para tocar o coração dos jovens, para educar para a paz. Nós estaremos ao lado deles para ajudá-los nesta grande batalha pela paz”.
RV: O que se poderia falar sobre a presença do Papa Francisco?
“Nós soubemos recentemente que o Papa Francisco visitará Assis em 4 de agosto próximo, para a Festa do Perdão. É o Ano Jubilar e o Papa está muito empenhado em Roma com as celebrações jubilares. Certamente nós sentimos a sua presença, que será testemunhada de uma forma ou de outra, como foi anunciado. Não sabemos ainda de que forma, mas certamente não com a sua presença física. Mas haverá um acompanhamento da parte dele. O Papa foi atualizado recentemente sobre o evento pelo Prof. Riccardi e expressou toda a sua satisfação e apoio. Naturalmente, estarão presentes também personalidades da Cúria Romana, ou Bispos ou Cardeais que representarão – de uma forma ou outra – o pensamento do Papa neste evento”.
Fonte - Radio Vaticano