– Os cientistas são unânimes em afirmar que (o surto) se espalhará para os demais Estados, dificilmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, por causa do clima. É uma situação extremamente grave. Entendo que este é o problema número 1 que o Brasil tem hoje. E tem de ser atacado com todas as forças, porque são vidas humanas que estão em jogo – disse o ministro.
"Não fiquei com medo de enfrentar uma deficiência, mas de perder ele", diz mãe de criança com microcefalia
Para Lavínia Faccini, médica geneticista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e uma das especialistas envolvidas na elaboração do Protocolo de Vigilância e Resposta à Ocorrência de Microcefalia Relacionada à Infecção pelo Vírus Zika do governo federal, o ministro foi muito otimista ao colocar os dois Estados na lista dos imunes ao zika e à microcefalia.
– Não deve ser considerada uma situação que a gente fique tranquilo e despreocupado. Nada impede que, se não tomarmos os cuidados necessários, haja proliferação do mosquito e a transmissão do zika – alerta, lembrando que o Rio Grande do Sul ainda não registrou nenhum caso autóctone (contraído dentro do Estado) de zika e nem de microcefalia relacionada à contaminação.
Entenda o que está sendo feito para combater o Aedes Aegypti no Brasil
Paulo Behar, chefe do Serviço de Infectologia da Santa Casa de Misericórdia da Capital, também não acredita que os dois Estados saiam imunes ao surto observado nas outras regiões:
– Não dá para apostar. O RS é pouco ou parcialmente privilegiado para casos de dengue, chikungunya e zika, mas afirmar que não há risco não tem base científica.
Segundo o especialista, questões climáticas e geográficas colaboram para que estas doenças, consideradas tropicais, demorem para chegar até aqui. O Aedes aegypti se reproduz muito menos em climas subtropicais, o que reduz o risco de circulação dos vírus. Entretanto, a expectativa de um verão com chuvas acima da média deixa as autoridades cada vez mais atentas para a chegada de possíveis casos importados de zika.
– Estamos trabalhando com a hipótese de que vamos ser afetados. A possibilidade do vírus vir para o Estado é concreta. Muito também por causa das viagens de final do ano para regiões que vivem com a epidemia. Talvez o problema não seja de grande magnitude. Trabalhamos para evitar casos e para que eles sejam poucos, não um surto – diz Marilina Bercini, diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual da Saúde.
Para reduzir riscos e protelar a chegada do vírus no RS, o governo coloca todas as suas forças no combate ao transmissor das doenças, que hoje já está presente em 168 municípios gaúchos. Ontem, as secretarias Estadual e municipais da Saúde dos locais infestados pelo mosquito estão reunidas para discutir medidas de extermínio ao Aedes aegypti.
Só neste ano, o Estado registrou 1.283 casos confirmados de dengue. Conforme boletim epidemiológico do governo estadual, com dados coletados até o último dia 5, 1.039 dessas ocorrências se referem a casos autóctones. Caibaté, Santo Ângelo, Panambi e Erval Seco, na Região Noroeste, foram os municípios que mais notificaram esse tipo de caso.