Começo por confirmar aquilo que leu acima: é isso mesmo! Não existe crise financeira! Ainda que todas as notícias à nossa volta girem em torno de dificuldades financeiras e de como os governantes tentam fazer-lhes face, o que realmente tem sucedido é que o setor financeiro é apenas o objeto, ou face visível do real problema que existe, da raiz de toda a perturbação. Infelizmente, são poucos os que têm feito um diagnóstico certo ao problema, o que, desde logo, coloca em causa a implementação de uma solução eficaz.
Passo a explicar melhor: se a questão fosse eminentemente de âmbito financeiro, seria expetável que a injeção de fundos pudesse se não resolver totalmente, pelo menos obstar a que a situação se agravasse e, no mínimo, verificaríamos melhoras. Mas não é isso que tem sucedido; veja-se o caso europeu da Irlanda e da Grécia, que após terem já recebido há alguns meses avultadíssimas quantias de dinheiro, continuam com graves problemas que ameaçam, dizem, a falência do estado (!).
Contudo, creio que podemos, ao observar mais atentamente, confirmar sem necessidade de recorrer a dados técnicos, que estamos perante um problema de ordem não financeira, mas sim moral.
E moral, porquê? Porque todos os problemas com a falta de dinheiro ou liquidez, quer de empresas ou particulares, têm a sua origem na ganância do possuir, na ânsia desmedida de ter, numa quase loucura que não se contenta com o suficiente nem com o excesso - é preciso é somar sempre, acrescentar cada vez mais, não importando nem fazendo caso de princípios e valores de temperança, honestidade e seriedade. O acumular de tesouros que se medem através de números numa conta bancária, tornou-se a obsessão descontrolada de uma ambição humana que não se importa de atropelar quem seja mais frágil se isso representar o tal possuir e ter mais, sempre muito mais.
Daqui vem que para um problema moral, exigir-se-ão soluções morais, que corrijam comportamentos e regulem hábitos.
Mas, numa sociedade secular e materialista, onde impera a lei do lucro sobre a dos valores, como definir ao certo entre o que é moralmente aceitável ou reprovável? Como estabelecer um padrão de comportamento que seja consensual e respeitado por todas as partes?
Aparentemente, não é possível. Por isso, todas as tentativas de resolução se voltam para o objeto que é, paradoxalmente, a raiz de todos os problemas: o dinheiro, o bem material. Dito de outra forma: a procura desenfreada e sem regras por mais valor material tem causado problemas? Não é grave! Injeta-se ainda mais dinheiro e tudo ficará bem! Ou seja, ataca-se o problema... com o problema.
Mas, as normas que regulam as decisões são exatamente as mesmas desde sempre verificadas. E nada mais pode acontecer do que entrar num ciclo vicioso, cujos intérpretes, de tão cegos que ficaram, eventualmente nem se apercebem que dele fazem parte. Ou, apercebendo-se, não querem sair, preferindo insistir na busca incessante do mesmo de sempre: o que é material.
Curiosamente, e aqui está o que me parece mais relevante em tudo isto, creio que não falta muito tempo para que, agudizando-se a dita crise, todo o mundo reconheça uma única saída para esta questão.
Disse atrás que este era um problema moral. E isso provar-se-á definitivamente, quando se erguer alguém que se apresente como a solução moral para solucionar os problemas, o que ninguém até então se demonstrou capaz de fazer.
Quem, no espetro das grandes figuras mundiais, se tem mostrado mais preocupado com um retorno a práticas que assegurem o rigor em princípios e valores que incluam o respeito pelo outro, a manutenção e promoção de práticas sérias e até mesmo abnegadas, um exercício de responsabilidade social, etc., sempre segundo aquilo que ele mesmo define como certo e errado?
Já se deu conta que os governantes políticos têm perdido cada vez mais credibilidade (porque a maioria faz parte deste sistema corrupto!)? Então, coloque-se no lugar do comum cidadão: se não podemos acreditar e confiar em políticos, talvez possa haver um governante religioso que consiga (re)introduzir na sociedade esses tais valores morais cuja violação tanto mal nos tem causado!
Dirá que tudo isto é pura especulação minha - aceito isso. Mas em breve se verá se a especulação não se torna realidade concreta na pessoa do suspeito do costume...
Fonte - O Tempo Final