O discurso do Presidente dos EUA na Assembleia Geral foi um apelo moral ao mundo. Pelo meio, acusou a Rússia de ter alterado "a ordem do mundo pós-guerra fria".
A "agressão da Rússia na Ucrânia" foi o primeiro tema forte do discurso de Barack Obama na Assembleia Geral das Nações Unidas. O Presidente dos Estados Unidos da América acusou o Governo de Moscovo de ter "uma visão do mundo em que a força dita o que é certo" e comprometeu-se a apoiar os ucranianos.
"Pequenos ganhos podem ser alcançados com a ponta de uma espingarda, mas esses ganhos tornam-se perdas se vozes suficientes se levantarem para apoiarem a liberdade das nações e se os povos tomarem as suas próprias decisões", disse Obama num discurso a que se pode dar o título de "o mundo na encruzilhada".
Foi numa lógica de eixos que o Presidente americano se começou a explicar. "Estamos na encruzilhada da guerra e da paz, da desordem e da integração, do medo e da esperança", disse mal começou a falar na abertura da Assembleia Geral da ONU, nesta quarta-feira.
"As acções da Rússia na Ucrânia alteraram a ordem do pós-guerra fria. Aqui estão os factos. Depois do povo da Ucrânia se ter mobilizado para pedir reformas, o seu Presidente corrupto fugiu. Contra o desejo do Governo de Kiev, a Crimeia foi anexada. A Rússia enviou armas para a Ucrânia, alimentando a violência separatista e um conflito que matou milhares", disse Obama sobre o conflito em curso na fronteira da Europa.
Obama considerou que "o sistema internacional" está numa encruzilhada e que as nações devem assumir "a responsabilidade colectiva" se não quiserem ser "varridos" pela instabilidade. "Estamos hoje aqui reunidos, nas Nações Unidas, e temos uma escolha para fazer. Podemos renovar o sistema internacional que já nos deu tantos progressos, ou deixarmo-nos ser puxados para trás, para a instabilidade. Podemos reafirmar a nossa responsabilidade colectiva para enfrentar os problemas globais ou deixar que sejamos inundados por mais problemas. Para a América, a escolha é clara. Escolhemos a esperança e não o medo. Não vemos o futuro como algo que não controlamos, mas como algo que podemos moldar para tornar melhor, através de um esforço colectivo".
Obama disse que, neste momento, há duas questões vitais que devem ser respondidas: estão as nações dispostas a renovar os princípios fundadores da ONU e conseguirão aliar-se, juntar-se, para rejeitar o "cancro do extremismo violento".
"Enquanto estamos aqui reunidos, o surto de ébola está incontrolável na África ocidental e ameaça sair dessas fronteiras. A agressão da Rússia na Europa relembra os dias quando as grandes nações invadiam as mais pequenas devido à sua ambição territorial. A brutalidade do terrorismo na Síria e no Iraque força-nos a olhar para o coração das trevas", disse Obama.
"Não há um Deus que aprove o terror"
O Presidente passou, a seguir, para o Médio Oriente e para a guerra aberta em dois países contra o terrorismo dos grupos islâmicos extremistas. Explicou que a política externa americana não se esgota na reacção ao terrorismo e que os EUA não estão em guerra com o Islão.
Mas porque "não há um Deus que aprove" o terror, apelou à continuação do esforço internacional contra o Estado Islâmico (EI) e outros grupos baseados na Síria e no Iraque. "O grupo terrorista conhecido por ISIL [Estado Islâmico ou EI] tem que ser desmembrado e, finalmente, derrotado".
"Não agimos sozinhos [na guerra ao EI]. Em vez disso, vamos apoiar os iraquianos e os sírios a resgatar as suas comunidades. (...) Já temos 40 nações a querem juntar-se à coligação. Hoje, peço ao mundo para se juntar a este esforço. Os que se juntaram ao ISIL devem abandonar o campo de batalha o quanto antes. Os que continuarem a lutar por esta causa odiosa vão perceber que estão sozinhos. Não cederemos a ameaças, vamos demonstrar que o futuro pertence aos que aos que constroem – não aos que destroem".
Obama terminou admitindo que, no passado, os EUA já falharam em muitas promessas feitas ao mundo e têm muitos problemas internos - citou Ferguson, a cidade onde um adolescente foi morto pela polícia apenas porque era negro. "Mas aceitamos o escrutínio do mundo – porque o que vêem na América é um país que trabalha para resolver os seus problemas e ser uma união mais perfeita", disse Barack Obama no seu apelo moral ao mundo.
Fonte - Público