A Agência Meteorológica do Japão emitiu um alerta de tsunami após a região nordeste do país ser atingida por um terremoto de magnitude 6,5, informou a agência de notícias Kyodo, acrescentando que o alerta foi anunciado às 7h24 da segunda-feira locais (19h24 de domingo em Brasília).
De acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês), que monitora tremores em todo o planeta, o terremoto ocorreu a uma profundidade de apenas 5,9 km, próximo à costa de Honshu, 161 km ao leste de Fukushima, local que abriga a usina nuclear de Fukushima Nº1 e 368 km ao norte de Tóquio.
Até o momento não houve relato de danos ou vítimas, mas o governo japonês alertou para o risco de que ondas de até meio metro atinjam a região de Miyagi, uma das mais atingidas pelo tremor seguido de tsunami que devastou o nordeste do país no dia 11 de março.
Embora tenha colocado as autoridades locais de prontidão, a Agência Meteorológica do Japão especificou que o alerta refere-se a um "pequeno" tsunami, com ondas de no máximo meio metro de altura, e não a fenômenos com ondas de um ou até dois metros, com maior poder de devastação.
O Centro de Alertas de Tsunami dos EUA no Pacífico disse que o alerta foi limitado ao Japão, e que as possíveis ondas não devem chegar ao Havaí ou à costa oeste dos Estados Unidos.
CRISE PODE DURAR ANOS
Mais cedo, após relatos controversos sobre o nível de radiação na água do mar em torno da usina de Fukushima, as autoridades japonesas informaram uma elevação de ao menos 100 mil vezes no reator 2 e 1.850 vezes nas águas. A constatação levou o governo a interromper as operações de reparo no local, afetado pelo terremoto seguido de tsunami. A direção da empresa que opera a usina disse que a crise nuclear pode levar "anos".
De acordo com especialistas, mesmo antes de a Tokyo Electric Power Company (Tepco), empresa que opera a usina nuclear, averiguar o controverso dado do aumento de 10 milhões de vezes, agora refutado, os números confirmados no fim de semana já são alarmantes.
"É muito preocupante. Há algo seriamente errado [com o reator 2]", disse Rianne Teule, uma especialista em energia nuclear do grupo ambientalista Greenpeace baseada na África do Sul.
Os dados do fim de semana, que elevaram ainda o número de mortos para ao menos 10.668, assim como a aparição de um resignado e pessimista premiê frente à população, levaram a Tepco a assumir que há incertezas na operação.
"Infelizmente nós não temos um cronograma concreto no momento que nos permita dizer em quantos meses ou anos [a crise chegará ao fim]", disse o vice-presidente da empresa, Sakae Muto.
AUMENTO DE RADIAÇÃO PREJUDICA OPERAÇÕES
O alto nível de material radioativo medido neste domingo em uma camada d'água que vazou do reator 2 da usina de Fukushima, no nordeste do Japão, levou as autoridades a interromperem as operações e retirarem os técnicos do local, anunciou a agência de notícias Jiji.
O nível detectado na água do subsolo da sala da turbina que fica atrás do reator é de 1.000 milisieverts por hora, explicou um porta-voz da Tepco.
Depois de anunciar, num primeiro momento, que este número era "10 milhões de vezes superior" ao tolerável, a Tepco convocou uma entrevista coletiva urgente para admitir que havia se equivocado, indicando ter confundido os elementos radioativos analisados.
A Tepco confirmou o nível de "1.000 milisieverts por hora".
Isto significa que o combustível no núcleo do reator provavelmente sofreu danos durante um princípio de fusão, provocado logo depois do terremoto seguido de tsunami do dia 11 de março, que danificou a central de Fukushima.
"Detectamos nas amostras de água taxas elevadas de césio e outras substâncias que geralmente não são encontradas na água do reator. Existe uma forte chance de que as barras de combustível tenham sido danificadas", advertiu a operadora.
AIEA ALERTA PARA CRISE
Um dia após um pronunciamento do premiê do Japão, Naoto Kan, admitindo que o desastre nuclear no país é "grave" e está "longe de ser solucionado", o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukiya Amano, também reiterou que a crise está "longe do fim" e ordenou o envio de duas novas equipes ao país.
Numa entrevista ao "The New York Times", Amano alertou para uma situação de emergência que pode durar semanas, senão meses.
Ele disse ainda que as autoridades japonesas ainda não têm certeza do sucesso das estratégias usadas para resfriar os reatores da usina de Fukushima Nº1, mas que vê como "sinais positivos" o fato de o país ter reconectado a energia elétrica a partes das instalações.
Embora tenha evitado tecer críticas diretas ao governo, o ex-diplomata japonês disse ao jornal americano que "mais esforços deveriam ser feitos para colocar um fim ao acidente".
Amano disse ainda que a maior preocupação no momento é de que os sistemas de resfriamento sejam reparados ao mesmo tempo em que grandes quantias de água são injetadas na usina. Caso estes sistemas não sejam consertados, mesmo com o acréscimo de água "as temperaturas vão subir", disse.
Fonte - Folha