Como se não bastassem o terremoto, tsunami e acidente nuclear no Japão para nos aterrorizar, a guerra na Líbia agora nos introduz a um novo inferno, em tempo real na telinha, 24 horas por dia.
Mas aguarde pela proxima atração, como se costuma dizer nos comerciais — vem mais por aí! No Bahrein, tanques e tropas sauditas vêm violentamente reprimindo ativistas pró-democracia; no Egito, a Irmandade Muçulmana está se aproximando do poder; no Iêmen, as forças de segurança, disparando dos telhados, já mataram dezenas de manifestantes; na Síria, tropas estão atirando em multidões de civis, e as notícias vindas de Israel e dos territórios palestinos semana passada fariam qualquer um perder o sono.
Estes são tempos que esvaziam a alma. É difícil saber o que é pior: acompanhar as calamidades ou ignorar o noticiário. Somos levados a crer que a boa cidadania exige que sejamos pessoas bem informadas, acompanhando atentamente o que está acontecendo no mundo. Temos tantas opções de distração — Charlie Sheen, o casamento de William e Kate, Sarah Palin, etc. — que se quisermos, podemos usar toda a nossa banda-larga para permanecermos na mais santa ignorância. Aqueles que evitam as informações vazias e buscam as notícias verdadeiramente importantes, ganham como prêmio de consolação a sensação de ter se tornado um espectador impotente, por dentro das coisas, mas absolutamente exausto.
Eu esqueci de mencionar o terrorismo?
A tentação é desligar, fazer um jejum midiático, declarar um shabat digital, puxar as cobertas sobre nossas cabeças. No entanto, tal estratégia de sobrevivência, se por um lado é perfeitamente razoável, por outro é exatamente o que os tiranos e canalhas querem. Ignorância não é felicidade, é escravidão. Quanto menos se sabe dos fatos, mais fácil é a manipulação, que termina a nos induzir a deixar de lado nossos próprios interesses, explorando nossas fragilidades emocionais.
Não há nada como pão e circo para frear o descontentamento, não há nada como a desinformação e a paranoia para manchar a reputação da ciência e do bom jornalismo, não há nada como um oligarca para transformar a amnésia em algo rentável para seus interesses.
O que parece diferente hoje em dia é que o virtuoso desejo de estar bem informado também é a fonte do seu próprio descontentamento. Quanto mais você sabe, menos você quer saber. Talvez a vida não examinada não valha a pena, mas será que a vida examinada – o mundo examinado – vale todos os antidepressivos que ingerimos? A busca pela informação parece ter se tornado uma espécie de doença autoimune: ela pretende combater os problemas do mundo, mas acaba atacando você.
As mídias sociais só pioraram tudo isso. Sou sempre surpreendido pela frequência com que as pessoas me perguntam se estou no Facebook ou no Twitter. Quando eu digo que sim, elas respondem: “bem, suponho que você tenha que estar, por causa da sua profissão”. Dizem isso como se eu estivesse correndo algum risco ao participar dessas novas mídias, como se eu fosse uma espécie de exterminador inalando pesticidas — neste caso, a fumaça da trivialidade: “por que você quer saber cada vez que alguém que você conhece vai ao banheiro?”, poderiam perguntar.
Acho difícil convencer as pessoas que não usam as redes sociais de que o que mais as caracteriza não é a banalidade mas a densidade de informações. Claro, há uma abundância de Justin Biebers entupindo as artérias do mundo virtual. Mas o que eu mais aproveito no Facebook e no Twitter são links — uma enxurrada de links para notícias e opiniões a apenas um clique, o que representa um aumento exponencial na quantidade de informação que vejo, leio e guardo na memória. Boa parte dessa informação (as coisas que eu realmente leio) me engrandece.
Isso é ao mesmo tempo uma boa notícia (eu sei ainda mais), e uma má notícia (eu me sinto ainda pior). Mas na medida em que sou viciado em seguir todas as narrativas sobre tragédias ao redor do planeta, prefiro que as dores de cabeça adquiridas sejam as mais bem fundamentadas possíveis.
Não há comparação entre o sofrimento do povo japonês e a angústia de ler sobre este sofrimento. À distância, a Líbia gera conflitos por vezes violentos entre nossos ideais e nossos interesses; lá, é uma simples questão de vida ou morte.
O risco não é confundirmos nossas ansiedades com as catástrofes, é confundirmos o processo de sermos informados com a nossa própria capacitação, assim como confundirmos a nossa exaustão com a derrota. A cidadania implica em fazermos alguma coisa e não simplesmente assistirmos aos acontecimentos. Os manifestantes em Tahrir Square, no Cairo, sabem disso. O antídoto para a overdose de informação não é menos informação. É mais participação.
Fonte - Opinião e Notícia
E ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; olhai não vos perturbeis; porque forçoso é que assim aconteça; mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino; e haverá fomes e terremotos em vários lugares. (Mateus 24)