Os fatos se multiplicaram muito rapidamente. Agravaram a situação mundial. As interpretações são poucas e vagas. À beira do pânico, os agentes econômicos ainda buscam por explicação. Afinal, desta vez, parece que acordos alcançados não salvarão os Estados Unidos do descrédito. Foram longos anos de crença no capitalismo norte-americano. Olhos vendados, alheios àquilo que esse país patrocinou de desigualdades e assimetrias ao redor do mundo. Guerras, invasões, dominação, protecionismos, privilégios comerciais ditados pela conveniência e pelo casuísmo concedido de forma unilateral cunharam expressões como imperialismo econômico, o colonialismo político e tantas outras que descreveram o repúdio à insensibilidade e à solidariedade aos povos e homens do mundo.
Um capitalismo selvagem, competitivo, egoísta dominou suas decisões e formou o caráter e a personalidade da conduta norte-americana. Gerações estudaram nos Estados Unidos e pagaram preços altos para isso. Muitos trabalharam por lá, sempre descontentes com seus ganhos. O fato é que essas gerações tomaram esse país e seus valores como paradigma do sucesso. Ao vê-los ruir, ficaram atônitas. Mesmo que o acordo seja alcançado e o endividamento seja total ou parcialmente autorizado, o país não será confiável mais. Suas instituições revelaram-se frágeis, indiferentes à ordem mundial. As forças políticas, confundidas com as econômicas, digladiam-se em torno dos mesmos valores com que trataram o que não era norte-americano. Esses valores foram incorporados pelas classes política econômica.
Todos os credores, possuidores de títulos da dívida soberana desse país, estão por um fio. A importância atribuída às nações que formaram reservas em dólar é nenhuma. Pouco se lhes dá para o que venha a acontecer com as reservas internacionais de países como China, Japão e Brasil. Na hipótese, muito provável, de que se chegue a qualquer tipo de acordo que permita definir novos valores para o endividamento norte-americano, haveria alguém ou algum país que queira manter suas reservas em títulos ou, ainda, que colocaria suas reservas, conquistadas a duras penas, em uma moeda cujo controle de emissão passa por um longo período de desvario, apreciando todas as outras moedas do mundo e desequilibrando as correntes do comércio mundial?
Fala-se muito do fim do euro, mas a Europa jamais ameaçou ausentar-se do apoio e da busca pelas soluções. Nos Estados Unidos serão os mais fracos que terão de suportar os desmandos praticados pelos mais ricos, sob a forma de cortes das verbas dos programas sociais. Aumento de impostos para os detentores do capital é rejeitado por republicanos, os mesmos que patrocinaram a crise financeira mundial.
As garras da águia e do urso, símbolos sugestivos do pensamento das oligarquias norte-americanas, foram apresentadas ao mundo, desta vez sem disfarces. O dinheiro buscou refúgio em todas as commodities e nos países emergentes. Commodities agrícolas, químicas e petroquímicas, industriais metálicas e não metálicas, todas, em altas fortes, enquanto as moedas dos emergentes se apreciam. Nada mais é necessário para constatar o descrédito dos Estados Unidos, de sua moeda e de suas instituições.
Fonte - Jornal do Brasil