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EXAME - No dia 10 de maio, as bolsas dispararam com o anúncio do plano de resgate europeu. Logo depois, o pessimismo voltou a toda. Qual é o problema com a Europa?
Nouriel Roubini - Dinheiro não é o bastante para resolver o problema europeu. Os países do sul da Europa estão endividados demais. A solução proposta no pacote é levá-los a um longo período de cortes draconianos e recessão. Isso só vai deixá-los ainda mais longe de atingir as metas de redução da dívida. A Grécia sairá dessa temporada recessiva com uma dívida ainda maior. Os problemas são muito sérios, e resolvê- los da maneira proposta pela União Europeia me parece ser uma missão impossível, além de politicamente inviável. Por isso os mercados reagiram mal: se nem 1 trilhão de dólares resolvem um problema, é sinal de que o imbróglio é realmente muito complicado.
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EXAME - Quem olha os números do Orçamento americano percebe uma desconfortável semelhança com a Grécia. Na próxima década, estimase que os Estados Unidos terão um déficit de 9 trilhões de dólares, um recorde. A situação é sustentável?
Nouriel Roubini - A Grécia é apenas a ponta do iceberg. A situação americana não é sustentável e, pior, temos problemas semelhantes no Reino Unido, em outros países europeus e no Japão. Os países encrencados têm três opções. A primeira é dar um calote. A segunda é ligar suas gráficas e imprimir dinheiro, criando inflação. A terceira é cortar gastos, aumentar impostos e colocar a casa em ordem. O problema é que os políticos, notadamente os americanos, não parecem reconhecer o problema. Os democratas são contra cortes de gastos; os republicanos são contra qualquer aumento de impostos. E é preciso ir além, reformar a seguridade social e o Medicare (plano de saúde federal para idosos), por exemplo. Se não conseguirmos fazer isso, os Estados Unidos podem virar uma Grécia.
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Fonte - Exame