Não sou especialista algum em economia e mercados financeiros - o que sei sobre o assunto é o que, essencialmente, ouço os mais variados comentadores falarem durante o dia na rádio. E, não será difícil perceber que, ao longo dos últimos meses, não têm faltado oportunidades para dar voz a esse grupo de entendidos nas matérias económico-financeiras.
Por isso já consegui perceber que a situação de muitos estados, incluindo Portugal, é bem pior do que aquela que nos é propagandeada pelos governantes. As contas dos diferentes estados estão numa situação muito crítica, e quem de direito tem-se multiplicado em estratégias de combate ao problema que, pelos menos até agora, pouco efeito produziram.
Desde logo, não evito reparar que o setor de atividade tido como maior responsável pelo atual momento económico que se atravessa, a banca, tem sido, paradoxalmente, o mais consultado e que mais tem proposto soluções para sair da crise, ao mesmo tempo que é o que mais tem lucrativamente beneficiado com ela. Sintomático...
Talvez de forma ainda tímida, até porque não convém muito dramatizar para o eleitorado, uma palavra já tem surgido que até faz arrepiar o mais insensível: falência. Sim, alguns estados estão num limite tão grande de dívida suportável que este cenário começa a ganhar contornos de possibilidade bem próxima.
E não se pense que este conceito tem sido tratado apenas em algumas nações tradicionalmente mais pobres e deficitárias. Neste artigo do Deutsche Welle, são apontados os países europeus que gravemente arriscam este cenário: Grécia, Portugal, Irlanda, Itália e Espanha (aos quais poderemos acrescentar Hungria, Lituânia e Roménia, fora da zona Euro, e Ucrânia, Bielorrússia, Sérvia, Bósnia-Herzegovina e Moldávia fora da União Europeia) - são largos milhões de pessoas afetadas diretamente por este problema.
Este estado de coisas não é exclusivo da velha Europa; mesmo a grande e maior nação mundial - sim, os Estados Unidos da América do Norte! - não estão imunes a esta vaga.
Neste artigo da CNS News, John Allison, que por duas décadas foi Diretor Executivo do BB&T, o décimo maior banco americano, não teve dúvidas em classificar como uma "certeza matemática" a falência do estado americano, caso não sejam tomadas medidas fiscais drásticas. O prazo que ele deu para essa eventualidade foi 20 ou 25 anos.
Num momento deste, de novo de levanta a pergunta: quais as soluções?
De todas as possíveis, que segundo me apercebo não são muitas, uma tem sido apontada como mais viável e até já posta em prática na Grécia: a entrada do Fundo Monetário Internacional (FMI), ajudando financeiramente os estados a reequilibrarem as suas contas.
O que é o FMI? Trata-se de uma organização internacional que "pretende assegurar o bom funcionamento do sistema financeiro mundial pelo monitoramento das taxas de câmbio e da balança de pagamentos, através de assistência técnica e financeira" (veja mais aqui). Curiosamente, os países com mais poderio nesta entidade são - sem surpresa... - praticamente os mesmos que exercem poderio nas Nações Unidas, com os Estados Unidos à cabeça...
Ou seja, esta intervenção de recurso nos países em risco de falência, a concretizar-se, será feita por uma organização supra-nacional, reconhecida e autorizada, que assumirá, pelo menos em parte, o controlo de todas as principais despesas do estado, tratando também de assegurar, dentro do possível, algum retorno ao investimento realizado.
Não podemos esquecer que hoje já temos alguns organismos financeiros que controlam e regulam, até um certo limite, aquilo que são os movimentos financeiros dos estados, talvez ainda melhor dizendo, dos seus principais bancos (no fundo, se os bancos têm dinheiro, as empresas também têm e as pessoas também têm algum; por outro lado, se os bancos não têm dinheiro para financiar as empresas...) - são os casos do Banco Central Europeu (na Europa) e da Reserva Federal Americana (os Estados Unidos).
Ou seja, as decisões económico-financeiras estão cada vez mais concentradas num restrito grupo de pessoas. E, à medida que se agrava a crise nos estados, estes tornam-se cada vez mais dependentes do auxílio externo que passará, em todo o caso, pela aprovação, gestão e controle por parte de alguma senão várias daquelas agências internacionais. (Por muito que nos custe admitir, e se pensar bem, esta é uma das razões pelas quais o agravamento da crise pode ser proveitoso, e muito, a interesses de diferentes quadrantes...)
Paremos um pouco a minha arriscada dissertação económica. E façamos uma pergunta: com o poder de decisão sobre os gastos de dinheiro cada vez mais concentrado, será que, num hipotético futuro próximo que concretize este cenário, se tornará mais fácil controlar quem compra e vende, e o que compra e vende?
Se recairá em pouquíssimas entidades a capacidade de determinar o que cada estado pode fazer e autorizar aos seus cidadãos em termos de investimento e gastos de dinheiro, não poderei concluir que toda a ação financeira mundial passe a ser definida por um grupo muito, muito escasso de pessoas, que poderão - porque possuem elas o dinheiro - determinar onde, como, quando e por quem se gasta?
Espantosamente, ou talvez não, o capítulo 13 de Apocalipse fala de um poder mundial, reconhecido por (quase) todos, que decidirá (ou autorizará) quem pode comprar e vender. E basta olharmos à nossa volta para perceber que isso é fácil de concretizar: quem tem o dinheiro, entrega a quem não tem (que no caso nas nações, já são muitas!) e determina a que indivíduos ele pode ou não pode ser entregue...
Mais ainda: um dos animais profeticamente mencionados naquele capítulo de Apocalipse, representa os Estados Unidos da América, o tal país que detém o poderio supremo sobre Nações Unidas, FMI e outras instituições, mantendo a última e decisiva palavra sobre as decisões que são tomadas a nível global.
Assim, poderá o setor financeiro vir a ser um dos instrumentos desse poder representado por uma fera que assinala, marca claramente os seus servos? Não apenas poderá, mas será mesmo!
Não posso em consciência, afirmar que o atual estado financeiro do mundo levará, sem retorno, a que isto se passe exatamente desta forma. Fiz apenas uma raciocínio especulativo, que, parece-me, consegue encontrar algum fundamento lógico de possibilidade fatual.
E não estou preocupado se e quando isso suceder; apenas atento.
Fonte - O Tempo Final