"É preciso apontar um novo equilíbrio entre agricultura, indústria e serviços para que o desenvolvimento seja sustentável e a ninguém falte o pão, o trabalho, o ar, a água e todos os recursos que sejam considerados bens universais."
Foi com estas palavras que Bento XVI defendeu ontem a necessidade de "reformas profundas" na economia mundial. Durante a homilia dominical na Praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa apelou à criação de um novo modelo de desenvolvimento económico e ao "relançamento da agricultura".
"A crise financeira que o mundo está a viver, e da qual se falou na cimeira do G20, deve ser olhada com seriedade", lançou o líder da Igreja Católica perante os fiéis que assistiam à missa. "Parece-me boa altura para que se volte a valorizar a agricultura, não em sentido nostálgico, mas como recurso indispensável para o futuro."
Dirigindo-se aos mais novos, o Papa afirmou que muitos jovens, mesmo aqueles com cursos universitários, escolheram dedicar-se à agricultura para responder a necessidades pessoais e familiares, "mostrando uma sensibilidade concreta para o bem comum".
O Papa não poupou críticas à "tentação" dos países mais ricos de "recorrer a alianças vantajosas que podem ter graves consequências para os Estados mais pobres".
O sucessor de João Paulo II mostrou o seu desagrado perante "o consumo insustentável" que se verifica em muitos países e que "resulta em danos para o ambiente e para os mais desfavorecidos".
Num apelo directo aos estados que integram o G20 e que na passada quinta e sexta-feira estiveram reunidos em Seul, Bento XVI pediu soluções "sustentáveis, renováveis e justas".
Durante a homilia, o Papa aproveitou ainda para demonstrar a sua preocupação com a população haitiana, que desde o terramoto de 12 de Janeiro se esforça por resgatar dos escombros a cidade de Porto Príncipe. De acordo com os últimos números oficiais disponibilizados, a epidemia de cólera que está a afectar a região já fez 917 vítimas mortais e obrigou à hospitalização de mais de 14 mil pessoas.
Na sexta-feira a ONU lançou um apelo para a criação de um fundo de emergência de 120 milhões de euros que permita fazer face à situação. A organização alerta para o facto de a epidemia de cólera no Haiti poder afectar um total de 200 mil pessoas.
Para Bento XVI, a crise económica mundial é um "sintoma agudo" de uma doença que provém "de um desequilibro entre a riqueza e a pobreza, o escândalo que é da fome, os problemas ambientais e o desemprego".
Fonte: Diário de Notícias (negritos meus para destaque)
Nota O Tempo Final: Repare bem - conteúdo religioso, zero; debate político: total! Tudo isto, em meio ao neo-clássico slogan vaticanista 'para o bem comum'...