quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Como se (de)forma um Adventista do Sétimo Dia

Creio ter tido a felicidade de ter crescido durante um período no qual a nossa igreja se destacava por fortes e enriquecedoresprogramas, que, sem dúvida, juntos contribuíram para ofortalecimento e crescimento espiritual de todos os membros de então. E não pense que eram algo de extraordinário, que nunca ouviu falar; tão somente me refiro a: classes batismaisEscolas SabatinasCultos de Adoração e reuniões de oração (na igreja e nos lares).

Era assim, com estes métodos praticamente tão antigos quanto a nossa igreja, que aprendíamos da Sagrada Escritura. Embora velhos, nunca perderam a eficácia - pelo contrário, demonstravam a cada momento não haver melhor técnica. Pessoas de pouca instrução e formados, jovens e adultos,todos beneficiavam porque a Bíblia e só a Bíblia (à boa maneira protestante de Sola Scriptura) era afonte de conhecimento e aprendizagem, que se concretizava numa experiência prática que era fundamentada apenas nos seus ensinos.

E onde ficava a instrução académica secular? Embora relevante e totalmente válida, estava claramente num segundo plano, principalmente quanto às verdades essenciais que constituíam a nossa regra e prática de fé.

Ainda bem que assim era. Contudo, creio que hoje em dia, mesmo de forma sutil, estamos a dar meia volta a este processo...

Como já aqui referi há algum tempo, nada diminui a validade de adquirir conhecimento académico. Aliás, creio que ele pode, e deve, contribuir para o fortalecimento inteletual do aprendiz. Aquilo que não posso admitir é que isso suplante, se superiorize ao que desde sempre orientou, moldou e definiuaquilo em que acreditamos e que é, no fundo, aquilo que perfaz o que somos: apenas e só, como disse, o ensinamento e a inspiração divinos.

Vem isto a propósito do perigo que há em reinterpretar tudo quanto durante décadas defendemos e consagramos, só porque supostas novas leituras (não nossas) sobre fatos e História, a isso nos propõem.

Não sei se percebemos claramente o impacto que um procedimento deste tipo provoca na nossa experiência como Adventistas. Ora, se desde sempre nos fundamentamos na Bíblia ecomplementamos com o Espírito de Profecia, qualquer tentativa de fazer uma nova compreensão e assimilação de tudo quanto temos por certo, correrá o grave risco de colocar em causa o que sempre defendemos e pregamos.

A título de exemplo, menciono as horrendas atrocidades que durante séculos da Igreja Católicainstigou e dirigiu contra os seus oponentes, nomeadamente os primeiros reformadores protestantes. No livro 'O Grande Conflito', Ellen White descreve com algum pormenor, fatos que hoje seriam capazes de chocar qualquer pessoa, dada a sua tremenda monstruosidade. Nalguns outros casos, ela recusa entrar em detalhes dada a tamanha malignidade das ações praticadas.

Têm surgido, entretanto, alguns novos dados que tentam - digo-o frontalmente - amenizar ou mesmo branquear esses escandalosos crimes (quase que adivinho a mão por detrás disto...). E assim, páginas foram publicadas para prestar cobertura às novas teorias que, lentamente, foram ganhando adeptos, eventualmente porque os novos entendimentos lhes eram bem mais agradáveis. O que, só por si, não surpreende...

Mas aquilo que deve ser motivo do nosso reparo e severa discordância, é quando entre nós, Adventistas, cedemos ao ímpeto de 'seguir na onda' dessa nova propaganda, só porque ela é aceite pelos eruditos na matéria, cujas conclusões, regra geral, não encontram consenso nem acolhimentojunto do que desde sempre defendemos e temos publicado. E, em vez de sustentar-mos mais fervorosamente a nossa pregação, por muito impopular que ela seja, escolhemos reformulá-la para adequá-la às simpatias que são mais comuns.

Nisto, erramos! Não devemos, portanto, permitir a mínima margem para que seja mais fácil abalar a nossa estrutura de pensamento conforme os ditames do conhecimento secular. Fazê-lo, será dar voz a teorias que poderão, em último caso, retirar razão (pelo menos alguma) à nossa existência.

Voltando ao exemplo que citei, se eu for a aceitar que, afinal, não foram assim tão graves quanto pensávamos as atrocidades da Inquisição, talvez não deva temer assim tanto o que poderão eles fazer no futuro...

Contra este engano de facilitismo, estamos avisados por Ellen White em 'O Grande Conflito', p. 571 nos seguintes termos: "a Igreja de Roma apresenta hoje ao mundo uma fronte serena, cobrindo de justificações o registo de suas horríveis crueldades. Vestiu-se com roupagens de aspecto cristão; não mudou, porém. Todos os princípios formulados pelo papado em épocas passadas, existem ainda hoje. As doutrinas inventadas nas tenebrosas eras ainda são mantidas. Ninguém se deve iludir. O papado que os protestantes hoje se acham tão prontos para honrar é o mesmo que governou o mundo nos dias da Reforma, quando homens de Deus se levantavam, com perigo de vida, a fim de denunciar sua iniquidade. Possui o mesmo orgulho e arrogante presunção que dele fizeram senhor sobre reis e príncipes, e reclamaram as prerrogativas de Deus. Seu espírito não é menos cruel e despótico hoje do que quando arruinou a liberdade humana e matou os santos do Altíssimo".

Classificar a ação deste poder com menor rigor do que este, é faltar à verdade que Deus inspirou a que ficasse registada - não aquela falível e tantas vezes enganadora que hoje em dia é elaborada pela sabedoria humana.

Nota (a 25-11-2010): o objetivo deste texto é refletir sobre conceitos, avaliações e procedimentos, e não sobre casos ou pessoas em concreto, apesar do exemplo referido.

Fonte - O Tempo Final
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