Muito tem se falado sobre o aquecimento do planeta e todos se mostram assustados com essas enchentes, com a chuva e com o mau tempo que castiga não só o Brasil, mas outros continentes. Mais calor, menos comida e mais um efeito preocupante das mudanças no clima: a falta d’água e a falta de comida para milhões e milhões de pessoas.
A comida parece farta em supermercados de grandes centros do mundo, mas nos últimos anos têm sido cada vez mais frequentes protestos isolados por causa do preço dos alimentos. Especialista em agronegócios, o britânico Richard Warburton diz que a guerra do futuro pode ser para conseguir água e comida e não, como se pensava, a disputa por petróleo e territórios.
Em Nova York, as Nações Unidas estudam os efeitos do aquecimento global. As pesquisas indicam uma reação em cascata. As mudanças climáticas afetam a produção agropecuária. Com isso, a oferta diminui e os preços dos alimentos disparam.
Em Teresópolis, as chuvas destruíram 80% da produção agrícola. O Quênia acaba de enfrentar a terceira pior estiagem em mais de uma década. Nessa época do ano, era para o capim estar verde e alto, mas os produtores locais reclamam que perderam centenas de cabeças de gado, porque não havia o que comer.
Mesmo em países onde o clima é favorável à agricultura, os efeitos do aquecimento global são sentidos pelos produtores. Os recursos naturais estão diminuindo, e a explosão da população mundial indica que o problema pode se agravar nas próximas décadas.
O chefe do painel da ONU sobre mudanças climáticas, Rajendra Pachauri, prevê um futuro sombrio. “Inicialmente os preços vão subir. Depois haverá escassez de produtos no mundo”, afirma.
As fontes naturais para produção de alimentos estão sob ameaça. Do petróleo não se refina apenas o combustível dos tratores e caminhões usados na agricultura. Ainda se tira o plástico usado para processar e empacotar a comida. Na quarta-feira (19), o preço do barril estava sendo negociado na Bolsa Mercantil de Nova York por menos de US$ 91, mas há dois anos chegou a custar quase US$ 150 por causa das ameaças de queda na produção mundial.
A alternativa, o biocombustível, ainda provoca polêmica. Nos Estados Unidos, a estimativa é de que um terço do plantio de milho seja usado para produzir etanol. O risco é que a produção de biocombustível consuma o que poderia servir de comida e inflacione ainda mais o preço dos alimentos.
A falta de água também é uma ameaça. Mais de um bilhão de pessoas não tem acesso à água limpa, e o consumo deve dobrar nos próximos 20 anos. Em Punjab, na Índia, o uso da água para irrigar as plantações de trigo secou parte dos rios. Os fazendeiros antes cavavam poços rasos e logo encontravam água. Agora estão se endividando para comprar equipamentos caros que consigam perfurar poços profundos. Nem assim têm encontrado água. Os recursos naturais são limitados.
A população do mundo dobrou nos últimos 40 anos para quase sete bilhões de pessoas. Especialistas alertam que, usando as técnicas atuais de agricultura, não vamos conseguir produzir para tanta gente. Em 2050, precisaremos ter o dobro da quantidade de comida que é produzida agora. É como se criássemos uma fazenda do tamanho do Brasil apenas para alimentar a nova população mundial.
Nos mares e rios, as previsões também são pessimistas. A pesca predatória está levando peixes e mariscos à extinção. Especialistas acreditam que os estoques acabariam a partir de 2048.
“Precisamos mudar nossos hábitos alimentares. A quantidade de comida consumida em países ricos não é sustentável, e o consumo em países em desenvolvimento vai continuar aumentando”, diz Pachauri.
O mundo tem o desafio de mudar a relação com os alimentos: o que e quanto se come e a forma de distribuição entre a população mundial.
Fonte - G1