Recentemente, entrevistei uma estudante sueca de 26 anos a respeito de suas ideias sobre a vida. Perguntei se ela acreditava em Deus ou em alguma religião. “Não, isso é tolice”, ela respondeu. “Então como você sabe o que é certo e o que é errado?” perguntei. “Meu coração me diz”, ela replicou. Em poucas palavras, essa é a principal razão para a grande divergência que há na América, e também entre a América e boa parte da Europa. A maioria das pessoas usa o seu coração – incitado por seus olhos – para determinar o que é certo e o que é errado. Uma minoria usa sua mente e/ou a Bíblia para fazer essa determinação. Escolha quase qualquer assunto e essas duas maneiras opostas de determinar certo e errado se tornam evidentes. Aqui vão três exemplos.
Casamento entre pessoas do mesmo sexo: o coração favorece essa ideia. É preciso ter um coração endurecido para não ser comovido quando se veem muitos casais adoráveis do mesmo sexo que querem comprometer suas vidas mutuamente em casamento. O olho vê os casais; o coração se comove para redefinir o casamento.
Direitos dos animais: o coração os favorece. É difícil encontrar uma pessoa, por exemplo, cujo coração não se comova ao ver um animal sendo usado para pesquisas médicas. O olho vê o animal fofinho; o coração então equipara a vida animal e a vida humana.
Aborto: Como se pode olhar para uma menina de 18 anos, que teve relações sem proteção, e não ficar comovido? Que tipo de pessoa sem coração vai lhe dizer que ela não deveria abortar e que deveria dar à luz?
Os olhos e o coração formam uma força extraordinariamente poderosa. Eles só podem ser superados, na formulação de políticas, por uma mente e um sistema de valores que sejam mais fortes do que a dupla coração-olho.
Com o declínio das religiões judaico-cristãs, o coração, moldado pelo que o olho vê (aqui está o poder da televisão), tornou-se a fonte das decisões morais das pessoas. Esse é um problema potencialmente fatal para nossa civilização. O coração pode ser muito belo, entretanto, não é nem intelectualmente nem moralmente profundo.
Portanto, é assustador que centenas de milhares de pessoas não vejam problema algum em admitir que seu coração seja a fonte dos seus valores. Seu coração sabe mais do que milhares de anos de sabedoria acumulada; sabe mais do que religiões moldadas pelos melhores pensadores de nossa civilização (e, para o crente, moldadas por Deus); e sabe mais do que o livro que guiou nossa sociedade – dos Fundadores de nossa singularmente bem-sucedida sociedade, passando pelos militantes contra a escravidão e chegando até ao Rev. Martin Luther King Jr. e à maioria dos líderes da luta pela igualdade racial.
Essa exaltação do próprio coração vai bem além da autoconfiança – é a autodeificação. Uma das primeiras coisas que se aprende no judaísmo e no cristianismo é que os olhos e o coração são geralmente terríveis guias no que diz respeito ao bom e ao santo. “Não se prostituam nem sigam as inclinações do seu coração e dos seus olhos” (Números 15:39); “O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa...” (Jeremias 17:9).
Os apoiadores do casamento do mesmo sexo veem o adorável casal homossexual e, portanto, não se interessam pelos efeitos das mudanças no casamento e na família sobre as crianças que não veem. E, como têm veneração pelos seus corações, o ideal bíblico de amor entre homem e mulher, casamento e família não têm importância nenhuma para eles.
Os corações dos defensores dos direitos dos animais estão profundamente comovidos pelos animais que veem submetidos aos experimentos, mas não pelos milhões de pessoas que não veem que vão sofrer e morrer se pararmos com esses experimentos.
Da mesma forma, os corações das pessoas que apoiam a
Peta (People for the Ethical Treatment of Animals, Pessoas pelo Tratamento Ético aos Animais) estão tão comovidos pela condição dos frangos abatidos que a organização tem uma campanha intitulada “Holocausto no seu prato”, que compara o abate de galinhas com o massacre dos judeus pelos nazistas. [Uma coisa é triste, a outra é terrivelmente absurda. Mas é bom que se diga que são cometidos muitos excessos nas pesquisas com animais e crueldades desnecessárias são praticadas contra seres indefesos. Há que se ponderar esse ponto.]
Por 25 anos tenho perguntado a graduandos do ensino médio em toda a América se salvariam seu cão ou uma pessoa desconhecida, caso ambos estivessem se afogando. A maioria tem quase sempre votado contra a pessoa. Por quê? Porque, dizem sem hesitar, eles amam seu cão, não o estranho. Uma geração inteira foi criada sem referência a nenhum código moral acima dos sentimentos do seu coração. Não sabem, e não se importariam se soubessem, que a Bíblia ensina que os seres humanos, não os animais, foram criados à imagem de Deus.
Da mesma forma, aqueles que não conseguem chamar nenhum aborto de imoral estão comovidos pelo que veem – a mulher desolada que quer um aborto, não pelo feto humano que não veem. É por isso que os grupos pró-direitos abortivos são tão contra mostrar fotografias de fetos abortados – imagens assim podem comover o olho e o coração dos espectadores de maneira a julgar de outro modo a moralidade de muitos abortos.
É inegável que muitas pessoas usaram suas mentes e muitos usaram a Bíblia de maneiras que conduziram ao mal. E algumas dessas pessoas de fato não tinham coração. Mas nenhuma das grandes crueldades do século 20 – o Gulag, Auschwitz, Camboja, Coreia do Norte, a Revolução Cultural de Mao – veio daqueles que obtiveram seus valores da Bíblia. E o maior mal deste século 21, ainda que baseado numa religião, também não veio da Bíblia.
Enquanto isso, a combinação de mente, valores judaico-cristãos e coração produziu, ao longo dos séculos, o sucesso singular conhecido como América. Estribar-se no coração vai destruir essa diligente conquista em uma geração.
(Dennis Prager,
Mídia Sem Máscara)
Nota Michelson Borges: Infelizmente, esses ventos pós-modernos e pós-cristãos têm afetado também um grupo de pessoas que antes era conhecido como “o povo da Bíblia”. Para quase qualquer dúvida ou dilema, eles abriam as Escrituras Sagradas em busca de respostas, pois criam serem elas a Verdade absoluta. Era um grupo de pessoas praticamente imbatível em qualquer discussão religiosa/teológica, pois o conhecimento que tinha da Palavra o colocava numa posição privilegiada (e não que os debates fossem o objetivo dessas pessoas; o sucesso neles apenas consequência de um estudo sistemático, contextualizado, profundo e apaixonado da Bíblia). Mas o relativismo bateu tanto à porta e a Palavra permaneceu por tanto tempo negligenciada (afinal, absorvido em suas ocupações seculares e em seu estilo de vida digitalmente frenético, pouco tempo lhe sobrava para estudar a Carta de Deus), que a dúvida e, pior, a indiferença começaram a contagiar um aqui, outro ali, numa triste reação em cadeia. Quer exemplos claros dessa “onda” em nossos arraiais? Tente falar sobre o uso exagerado da percussão ou da inapropriação de estilos como o
rock no louvor... Haverá instantaneamente uma polarização, com muitos “eu acho”, “eu sinto que”, “eu gosto”, etc., e muitos poucos citando a Revelação – porque não a conhecem ou porque colocam sua opinião acima dela. Experimente falar da inadequação para os cristãos de ambientes como o
cinema... Outra luta de “eu acho”, “nada a ver” e expressões afins terá início. Ou então tente falar sobre reforma de saúde, vegetarianismo, Coca-Cola, café, chimarrão... Outra confusão. O artigo acima, de Dennis Prager, acaba sendo um diagnóstico do cristianismo moderno – e os adventistas não estão imunes a essa doença. Muitos entre nós estão seguindo o coração (seus conceitos, preconceitos e sentimentos) em detrimento da clara Revelação de Deus. Preferem seguir as tendências em lugar dos mandamentos, e chegam a acusar de “fanáticos” aqueles que tentam se pautar pelas orientações divinas (e não quero dizer com isso que não existam os fanáticos). Aos poucos, uma clara polarização vai se formando: de um lado, ficarão aqueles que só ouvem o coração e seguem as tendências; de outro, aqueles que desconfiam do coração (sentimentos) e se pautam pela Revelação. De que lado estaremos? Creio que a sacudidura e o reavivamento já começaram. Nosso futuro dependerá da decisão que tomarmos hoje.