Francisco é o equivalente a um artista que lança um sopro de vida nova em uma empresa que está ruindo, diz colunista do 'NYT'
O Papa João Paulo II foi muitas vezes chamado de uma estrela do rock, mas é o Papa Francisco que acaba de sair na capa da Rolling Stone, como se ele fosse Jagger, Springsteen ou Spears. Para Frank Bruni, articulista do New York Times, o papa está mais “in” do que nunca, e a Igreja, voltando a ter espaço, principalmente entre as gerações mais jovens.
Recentemente, o papa ganhou de presente uma motocicleta Harley Davidson, que ele nunca dirigiu, mas autografou e vendeu em um leilão em Paris por US$ 327 mil (ela foi avaliada entre US$ 16 mil e US$ 22 mil). O dinheiro foi doado a uma instituição de caridade em Roma. Francisco também ganhou uma estátua de si mesmo em tamanho natural toda feita de chocolate. Aparentemente, o comando da Igreja passou das mãos do “Rottweiler de Deus”, como Bento XVI era conhecido, à sua sobremesa.
Bruni diz que de todas as coisas que pensou que poderiam voltar à moda, o papado nunca esteve presente. O colunista cobriu o Vaticano entre 2002 a 2004, e estava convencido de que a morte de João Paulo II era também a morte da instituição, pelo menos nos EUA e boa parte da Europa.
Mas mesmo nos recintos mais ateus do mundo ocidental parece existir empenho em dar ao novo papa o benefício da dúvida. A ONU emitiu na semana passada um relatório sobre a Igreja Católica e sacerdotes envolvidos em acusações de abuso sexual e, em nenhum momento, a cobertura jornalística colocou Francisco na berlinda. Parece haver uma noção implícita de que a confusão é anterior e tem pouco a ver com ele, o que é ridículo: ele tem sido parte da Igreja por um longo tempo, e se ele estivesse lutando pela reforma e transparência todos esses anos, nunca teria subido até o topo.
Francisco não é um renegado. Mas ele é o equivalente a um artista ou a um estrategista político que habilmente lança um sopro de vida nova em uma empresa que está ruindo. O papa está fazendo uma reforma, pedindo menos investimentos em calçados festivos e mais na lavagem dos pés de outras pessoas. Ele não está dizendo para os sacerdotes deixarem de ser padres, mas para não serem tão ríspidos e rígidos.
Ele entende que o tom supera o conteúdo. Os críticos afirmam que a Igreja não mudou seu ensinamento sobre a homossexualidade, a ordenação de mulheres, o celibato ou outra mudança significativa desde que Francisco assumiu o papado. Verdade. Mas o que as pessoas precisam perceber é a diferença entre um sorriso e um dar de ombros. Francisco não vai pedir para a Igreja abrir mão de seus dogmas, mas para respeitar outros, e isso é de extrema importância – e ineditismo. Um papa que diz “quem sou eu para julgar?”, quando tem todo esse poder na mão não se encontra todos os dias.
Fonte - Opinião e Notícia