A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que o atual surto epidêmico de ebola na África Ocidental está entre os "mais assustadores" desde o aparecimento da doença, há 40 anos. O número total de mortos já passa dos cem, a maioria na Guiné.
Keiji Fukuda, o diretor-geral adjunto da OMS, afirmou na terça-feira 8, em conferência de imprensa em Genebra, que a agência está preocupada com a disseminação do vírus. Ele adiantou que o surto, que eclodiu no sul da Guiné, pode estar se propagando em direção à capital, Conacri, e ao país vizinho, Libéria, o que seria, segundo ele, particularmente preocupante.
"Nunca tivermos antes um surto de ebola nessa parte da África", comentou Fukuda. A OMS enviou dezenas de trabalhadores de ajuda humanitária para a região, para tentar conter a o avanço da doença. "Este é um dos focos de ebola mais desafiadores que já enfrentamos."
As formas mais graves da doença apresentam uma taxa de mortalidade de 90% e não existe vacina, cura ou tratamento específico. De acordo com os últimos dados divulgados na terça-feira pela OMS, há 157 casos de ebola registrados só na Guiné, dos quais 101 resultaram em mortes. Segundo a OMS, 67 casos foram confirmados por análises laboratoriais.
Vinte casos foram registrados na cidade portuária de Conacri, e 21 casos na Libéria, dos quais dez foram fatais. Foram também confirmados casos em Serra Leoa, em que se suspeita que as pessoas tenham contraído a doença na Guiné. No Mali, há nove casos suspeitos, mas dois testes revelaram-se negativos.
"Não devemos dar demasiada importância aos números", recomendou Stéphane Hugonnet, médico especialista da OMS que regressou recentemente da Guiné. "O mais importante é a tendência e a propagação da infecção. Aparentemente, há um risco de outros países estarem sendo infectados. Portanto, devemos permanecer vigilantes a todo custo."
Origens
O vírus foi detectado pela primeira vez em 1976, em dois surtos simultâneos no Sudão e na República Democrática do Congo. Desde 1976, o ebola causou a morte de pelo menos 1.200 pessoas, dos 1.850 casos detectados. Os surtos mais fortes foram registrados na República Democrática do Congo, em 1976 (318 casos), 1995 (315 casos) e 2007 (264 casos); no Sudão, em 1976 (284); e em Uganda, em 2000 (425 casos).
Os surtos surgem normalmente em aldeias remotas da África Central e Ocidental, próximo a florestas tropicais, de acordo com a OMS. Neste momento, o vírus, que tem cinco estirpes, só existe no continente africano, mas já houve casos nas Filipinas e na China.
O ebola provoca febre, causando dores musculares, fraqueza, vômitos, diarreia e, em casos mais graves, falência dos órgãos e sangramentos intermitentes internos e externos. Para evitar o contágio humano, a OMS recomenda evitar o contato com morcegos e macacos e o consumo da sua carne crua, assim como evitar o contato físico com pacientes infectados, em particular com os seus fluidos corporais.
As chances de sobrevivência aumentam se os pacientes são mantidos hidratados e se são tratados de infecções secundárias.