sexta-feira, 6 de junho de 2014

Vodafone põe a nu a verdadeira extensão da vigilância governamental aos cidadãos

A Vodafone revelou publicamente a existência de conexões secretas por cabo que permitem às agências de segurança governamentais escutarem todas as conversações, efetuadas através da sua rede e das outras operadoras mundiais de telecomunicações. A Vodafone diz que essas conexões são largamente utilizadas em alguns dos 29 países onde a companhia opera, entre os quais se conta Portugal. Trata-se da primeira das operadoras de telecomunicações a admitir publicamente a existência das escutas que tinham sido trazidas a público pelo ex-agente da NSA Edward Snowden.

A Vodafone diz que quebrou o silêncio sobre a vigilância governamental para resistir contra o uso cada vez maior das redes de telefonia e banda larga para espiar os cidadãos.

A companhia tornou público, esta sexta-feira, o seu primeiro relatório com revelações sobre a vigilância das agencias de segurança do Estado . O documento de 40.000 palavras constitui a mais completa análise publicada até agora sobre a forma como os governos controlam as conversações e o paradeiro dos seus cidadãos.

Segundo a Vodafone, existem cabos ligados diretamente à sua rede e às das outras operadoras de telecomunicações que permitem escutar ou gravar as conversações dos clientes, e, em certos casos, traçar a localização da pessoa em causa.

"Cenário de Pesadelo"

As revelações do gigante mundial de telecomunicações mais não fazem do que confirmar e detalhar o que já se suspeitava sobre a vigilância global dos governos aos cidadãos, após as recentes revelações feitas pelo ex-espião americano Edward Snowden.

O jornal britânico The Guardian escreve que os ativistas que fazem campanha em torno do direito à privacidade consideram estas revelações “um cenário de pesadelo” que confirma os seus piores receios sobre a extensão da vigilância.

Em alguns países é ilegal divulgar qualquer informação sobre a existência de vigilância governamental relacionada com escutas ou a interceção do conteúdo de chamadas telefónicas e mensagens de texto e até mesmo revelar se tais capacidades existem.

É este o caso na Albânia, Egito, Hungria, Índia, Malta, Qatar, Roménia, África do Sul e Turquia.

Em meia dúzia dos países onde opera a Vodafone, a própria lei obriga as operadoras de telecomunicações a instalarem conexões de acesso direto às suas redes, ou autoriza os respetivos governos a fazê-lo. A companhia, que é proprietária de várias redes de telefonia móvel e fixa, diz que não pode identificar os países em causa, porque alguns dos regimes visados poderão retaliar prendendo o seu pessoal.

Nos casos em que tal era permitido por lei, a Vodafone publicou o número de intimações legais para interceções de chamadas e metadados mas nos países onde existe acesso direto dos governos à rede, as companhias de telecomunicações não têm qualquer informação sobre a identidade e o número de clientes que são vigiados. Nestes casos, a vigilância a uma escala massiva pode ter lugar em qualquer operadora, sem que as agências governamentais tenham que justificar a intrusão às companhias envolvidas.

A "sala fechada" onde o segredo é lei

Fontes da indústria citadas pelo Guardian dizem que, em alguns casos, a conexão de acesso direto ou “tubo” é essencialmente um equipamento que existe numa sala fechada no principal centro de dados da companhia visada, ou num dos nodos locais.

O pessoal que trabalha nessa sala restrita pode ser empregado da operadora de telecomunicações mas tem autorização de segurança oficial para aceder a dados secretos e não pode , geralmente, discutir nenhum aspeto do seu trabalho com o resto da companhia . A Vodafone diz que exige a todos os seus empregados para observarem o código de conduta mas, a obrigação de segredo, significa que o pessoal nem sempre o pode fazer.

Portugal na Lista

Nos dados referentes a 2013 divulgados pela companhia, Portugal figura com 28.145 mandados oficiais de pedido de interceção de dados de comunicações da Vodafone e 13.046 mandados para interceção de metadados (hora, localização e destino das comunicações, endereços dos clientes etc). Nos dados fornecidos para Portugal não figura nenhum pedido para interceção de conteúdo, que inclui o que foi realmente dito numa mensagem ou SMS.

Em Espanha, foram 48.679 mandados para interceção de dados da Vodafone e 24,212 de conteúdo, e na Itália, os números atingem proporções assustadoras: 605.601 Mandados para interceção de dados de comunicações e 140.577 mandados para interceção de conteúdo, o que se explica pelo facto de, naquele país, a presença da Mafia exigir uma nível mais elevado de intrusão policial.

Os dados agora divulgados pela Vodafone também mostram que Malta é uma das nações mais espiadas da Europa em relação à sua população. Só a Vodafone processou no ano passado 3,773 pedidos para interceção de metadados naquele país de 420.000 habitantes.

Fonte - RTP
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