O jornal Folha de São Paulo publicou uma matéria destacando a atuação do que chama de “pastores de esquerda” nas eleições deste ano nos Estados Unidos. Assim como no Brasil, por lá ocorrem em 2014 eleições para deputados federais e um terço do Senado. Há eleição para governador em 36 dos 50 estados americanos.
Chamados de progressistas, um grupo de pastores tem promovido desde o ano passado uma série de reuniões públicas denominadas “Segunda-feira Moral” que misturam comício político e culto evangélico na capital estadual. Eles são inspirados no movimento pelos direitos civis capitaneados pelo ativista (que também era pastor batista) Martin Luther King Jr em 1963.
A maioria dos pastores são negros, vindos de diferentes denominações. Começaram na Carolina do Norte, mas já promovem atos similares nos Estados do Alabama, Arkansas, Flórida, Geórgia, Indiana, Mississippi, Nova York, Carolina do Norte, Ohio, Pensilvânia, Tennessee e Wisconsin.
Suas marchas de protesto contam com a presença de centenas, as vezes milhares de pessoas. Alguns deles são pautados pela desobediência civil. Já ocuparam prédios públicos em diversas cidades e conseguiram chamar atenção para suas reinvindicações. Entre elas há temas como aumento do salário mínimo, mais dinheiro para educação e a saúde, defesa do direito das minorias (mulheres, negros e imigrantes), as causas ambientalistas e ainda a revogação da pena de morte. Muitos pastores também defendem a legalização do casamento gay e o direito ao aborto.
Em geral, estão apoiando o Partido Democrata, do presidente Barack Obama, que embora defenda várias dessas propostas, está longe de ser considerado “de esquerda” pelo padrão brasileiro.
As eleições ocorrerão no dia 4 de novembro e como o voto nos EUA não é obrigatório, o esforço dos pastores poderá mudar o cenário político do Sul, historicamente mais conservador.
Um de seus líderes é Raphael Warnock, 44, pastor da Igreja Ebenezer de Atlanta, Geórgia. Ele apoia a candidatura a governador do democrata Jason Carter, neto do ex-presidente Jimmy Carter. No ato em frente à igreja onde Martin Luther King Jr. foi pastor, declarou: “a economia é boa quando não só os negócios crescem, mas quando os pobres e a classe média vivem melhor”. Em entrevista à Folha, asseverou: “Os fiéis aqui sabem que política é parte integral do que somos”.
Outro líder importante é William Barber II, 50, pastor batista que lidera na Carolina do Norte a Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor. Nas primeiras edições da “Segunda-feira Moral”, dezenas de pastores foram presos, o que acabou atraindo mais simpatizantes. “Nossa agenda é antipobreza, antirracismo, antiguerra e antidiscriminação”, afirmou ao lado da pastora Nancy Petty, que é lésbica assumida.
Em seu discurso enfatizou que “Toda religião diz que amor e justiça deveriam estar no centro da política”, citando ainda o texto bíblico de Isaías 10:1: “Ai dos que decretam leis injustas que privam dos direitos os mais necessitados”.
Enquanto isso, no extremo oposto do espectro politico-religioso, pastores da cidade de Houston, Texas, correm o risco de serem presos por pregarem contra o homossexualismo. A prefeita da cidade, uma ativista lésbica, exigiu que eles submetessem seus sermões ao crivo do poder municipal, acusando-os de “homofobia”.
Ao contrário do Brasil, onde a mistura de política e religião nem sempre é bem vista, uma pesquisa recente do Instituto Pew mostra um quadro distinto nos EUA. Segundo os dados coletados, um número crescente de cidadãos reconhece que a religião deveria desempenhar um papel mais importante na política. Quase três quartos da população (72%) acredita que a influência da religião está em declínio na vida pública. Este é o nível mais alto nos últimos 10 anos, segundos as pesquisas do Pew.
“Uma porção crescente do público quer ver a religião desempenhando um papel de destaque na política americana”, escrevem os autores do estudo. Isso não significa apenas ver pastores ou líderes defendendo um candidato abertamente. O índice aumentou 8 pontos percentuais desde 2010.
Este ano, cerca de metade dos entrevistados disse que igrejas e outras instituições religiosas devem expressar abertamente suas opiniões sobre questões sociais e políticas. Um aumento de 6% desde 2010.