sexta-feira, 17 de abril de 2015

O elo divino


Nas profecias apocalípticas um elemento externo vem para interferir na Terra.

Se o século 20 ficou marcado pelo genocídio, o atual não nos deixa muita esperança. É estarrecedor constatar que conflitos armados estejam ocorrendo com a brutalidade exposta nos jornais e nas redes sociais. No Oriente Médio, radicais religiosos aterrorizam cidades e regiões inteiras. Executam centenas num só dia, escravizam mulheres, sequestram e decapitam crianças, só por pertencerem a um grupo étnico ou religioso.

As minorias cristãs sofrem. Seguidores de Jesus têm sido crucificados, literalmente. Essa violência extrema se repete em regiões da África e da Ásia e está ligada a atentados terroristas na Europa, nos Estados Unidos e na Austrália, os quais respondem com bombardeios. De fato, ambos se retroalimentam. Não temos conseguido evoluir em termos de civilização tanto quanto somos capazes de retroceder séculos na barbárie.

No livro Modernidade e Holocausto, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman defende que a eliminação de 6 milhões de judeus em ritmo industrial não foi produto da barbárie pré-moderna, mas uma consequência direta da modernidade. Para ele, reunimos hoje todas as condições para repetir o Holocausto, tendo em vista nossa insensibilidade ao sofrimento alheio, as relações cada vez mais artificiais e o próprio holocausto silencioso da miséria e da fome que não nos sensibiliza. Também notamos que, num contexto de crise, o antissemitismo, a islamofobia e todo tipo de aversão ao outro ressurgem.

Jesus nos preveniu que, próximo de Seu retorno à Terra, quando houvesse “angústia entre as nações em perplexidade” e homens “desmaiando de terror” e pela expectativa das coisas que sobreviriam ao mundo, os seguidores de Cristo poderiam erguer a cabeça, confiando na iminência da redenção (Lucas 21:25, 26, 28). Essa mensagem é confirmada no Apocalipse, que traz a “Revelação de Jesus Cristo” (Apocalipse 1:1). Não se trata apenas de uma revelação (do grego apocalupsis) dada por Ele, mas dEle próprio como conteúdo. Ele é o meio e a mensagem, o caminho para a vida e a própria Vida (João 14:6).

As mensagens do Apocalipse foram dadas “para mostrar aos Seus servos as coisas que em breve devem acontecer” (v. 1). Isso indica, assim como outras evidências, que esse livro, assim como o de Daniel, tem uma natureza única na Bíblia: suas profecias são todas incondicionais. Entre a cruz e a segunda vinda de Cristo, algumas coisas devem acontecer. Deus tem o controle da história.

Linguagem simbólica

Outra característica dessas profecias é sua linguagem predominantemente simbólica, embora mesclada com elementos literais. “Ele, enviando por intermédio do Seu anjo, notificou ao Seu servo João” (v. 1). De acordo com o texto original grego, Jesus não apenas enviou uma mensagem por intermédio do Seu anjo. Ele a “significou” (do verbo grego semaino, ligado ao substantivo sema, “sinal”) que também tem o sentido de “indicar”, “dar um sinal”, “tornar conhecido” (Atos 11:28, 25:27; João 12:33; 18:32). Esse sentido é expresso em algumas versões bíblicas, como a American Standard Version e a New King James Bible, que traduzem esse trecho como: and He sent and signified it (“e Ele a enviou e a significou”).

A natureza simbólica das profecias do Apocalipse segue o padrão de linguagem do livro de Daniel. Ambos foram escritos sob a sombra de impérios, os quais não permitiriam sua divulgação, caso tivessem a mínima ideia de sua mensagem. Os livros gêmeos de Daniel e Apocalipse proclamam, num misto de simbolismo e literalismo, o desmoronamento de toda oposição à soberania divina na Terra.

O anúncio do reino de Deus era tão perturbador para persas e romanos, quanto é hoje. Isso é evidente nas entrelinhas da cultura de massa. Nos chamados filmes apocalípticos, quando um elemento externo ameaça a ordem de coisas na Terra, a humanidade se une para enfrentar o “inimigo”. No filme Círculo de Fogo (Pacific Rim, 2013), o discurso inflamado do marechal Stracker Pentecost assume contornos bíblicos:

Hoje, no limite de nossa esperança, no fim de nosso tempo, não escolhemos somente acreditar em nós mesmos, mas também uns nos outros.
Hoje nenhum homem ou mulher ficará sozinho.
Hoje enfrentaremos os monstros que estão à nossa porta.
Hoje cancelaremos o apocalipse!

Lógica oposta

Nas profecias apocalípticas, o viés é o oposto. Um elemento externo vem para interferir na Terra. Em Daniel, é uma pedra “cortada sem auxílio de mãos”, que esmiúça tudo e se transforma numa grande montanha que enche “toda a terra” (Daniel 2:35). O próprio Daniel explica em seguida que “o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre” (v. 44). No Apocalipse, notamos o mesmo, logo no primeiro capítulo: “Eis que [Jesus] vem com as nuvens, e todo olho O verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre Ele. Certamente. Amém!” (v. 7). A segunda vinda do Messias, que desperta um “amém” no povo de Deus, será motivo de lamento para o mundo.

Uma visão de Jesus é dada na última visão de Daniel e na primeira do Apocalipse (Daniel 10:4-9; Apocalipse 1:9-20), o que une ambos os livros. Ele é visto como um “filho do homem”, irmão da humanidade, ao mesmo tempo em que Se mostra infinitamente capaz de salvá-la. Sua glória indica Sua natureza divino-humana, que O qualifica como o único elo entre o Céu e a Terra (1Tm 2:5). Cristo Se faz resposta antes mesmo da pergunta. Seu olhar e Sua presença confortam e animam. Erguer a cabeça nestes últimos dias da história significa olhar firmemente para Ele (Hb 1:2). A visão apocalíptica do Salvador era o que os abatidos Daniel e João mais precisavam, tanto quanto nós, hoje. Embora o mundo esteja em perplexidade, não precisamos nos desesperar, pois o futuro está nas mãos de Deus.

Fonte - Adventistas.org
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