domingo, 27 de fevereiro de 2011

As dissidências Adventistas

Creio que todos já assistiram, de uma forma ou doutra, a algum tipo de dissidência entre os Adventistas. Quer seja aqueles que são desvinculados da Igreja, quer aqueles que nela se mantendo insistem em manter uma postura que encontra mais qualificação como dissidência do que como militância, de longe a longe somos confrontados com este tipo de situação.

Claro está que cada um é totalmente livre de assumir os comportamentos e posições que entender por melhor, na mesma medida em que a Igreja tem essa mesma capacidade e até obrigação. É por isso que alguns saem da Igreja com algum tipo de descontentamento ou discordância, muitas vezes resolutos e convencidos da sua razão.

Não sei se já pensou nisso, mas os primeiros cristãos, logo a seguir à ressurreição de Jesus, talvez mais ainda a seguir à morte de Estevão, também terão sido apelidados de dissidentes; no fundo, eles estavam a abandonar de vez o tradicional sistema religioso judaico, que a partir daquele momento, além de deturpado, também estava completamente ultrapassado.

Ora, nesta fase inicial da Igreja, deu-se um episódio que, tenho a certeza, serve muito bem como medida aferidora para este assunto.

Aconteceu que os apóstolos começaram a exercer um ministério espetacular, que não deixava alma alguma indiferente. Daí que os descontentes os colocaram na prisão. Contudo, Deus é mais poderoso que as portas de qualquer cárcere e eles foram libertados. Novamente capturados, porque insistiam em fazer as mesmas coisas, são levados perante os líderes judaicos que os pretendiam impedir de continuar o ministério.

De tal forma foi o seu desejo de derrubarem os apóstolos, que se enfureceram a ponto de os quererem matar (Atos 5:33), o que teriam conseguido, não tivesse a sábia voz de Gamaliel se levantado com ajuizadas palavras a propósito desta dissidência. Eis o que ele disse:

"Homens israelitas, acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes homens. Porque antes destes dias levantou-se Teudas, dizendo ser alguém; a este se ajuntou o número de uns quatrocentos homens; o qual foi morto, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos e reduzidos a nada. Depois deste levantou-se Judas, o galileu, nos dias do alistamento, e levou muito povo após si; mas também este pereceu, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos. E agora digo-vos: Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará, Mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus" (Atos 5:35-39).

E não conseguiram mesmo desfazê-la. Já passaram cerca de dois milénios e a obra que eles começaram (embora abalada e corrompida ao longo do tempo) mantém-se em cena com todo o vigor.

Ou seja, esta foi uma santa dissidência, abençoada por Deus, contra a qual homem algum conseguiu obter sucesso (embora muitos o tivessem tentado).

Por isso, o desafio mantém-se inalterável para aqueles que, hoje e sempre, assumem qualquer comportamento de rutura com a nossa Igreja: prevelecem? Obtêm sucesso? Progridem? Trazem algo relevante, significativo? Produzem bom fruto?

Ou, em alternativa, acabam ficar meio perdidos, achar-se isolados, sem rumo certo para as suas ideias (por muito sinceras que possam ser), fracassando por fim?

Creio que a simples constatação das respostas a estas perguntas é mais do que suficiente para perceber o que realmente se passa quando há dissidência.

Repare: Lúcifer foi um dissidente (do céu); e qual o resultado dessa dissidência?! Preveleceu? Obteve sucesso? Progrediu? Trouxe algo de relevante, significativo? Produziu bom fruto? Pelo contrário: destruição, desgraça, tormenta, sofrimento, morte são as palavras que descrevem a sua dissidência...

Outro exemplo: Ellen e Tiago White, Joseph Bates e outros nossos pioneiros também foram dissidentes (das igrejas às quais pertenciam); e a pergunta mantém-se: qual o resultado? Preveleceram? Obtiveram sucesso? Progrediram? Trouxeram algo relevante, significativo? Produziram bom fruto?

Ainda que eu seja juiz em causa própria, parece-me mais do que evidente que, após cerca de 160 anos, os resultados (ainda não completos) da obra que começaram comprovam que essa obra só pode ter sido motivada pela Força Maior, acima da capacidade de qualquer homem!

É por isso que quando observo a história da nossa igreja e contemplo os indivíduos ou grupos dissidentes, constato que enquanto a Igreja permanece e progride, eles acabam por, mais tarde ou mais cedo, perder o ímpeto inicial, alguma eficácia que podem ter alcançado e até mesmo números... e nada mais.

Atente para este excerto de Ellen White, Testemunhos Seletos, v. 1, p. 390:

"A Palavra de Deus não dá licença a que um homem ponha seu juízo em oposição ao da igreja, nem lhe é permitido insistir em suas opiniões contrariamente às dela. Caso não houvesse disciplina e governo eclesiásticos, a igreja se esfacelaria; não poderia manter-se unida como um corpo. Sempre tem havido indivíduos de espírito independente, pretendendo estar certos, e que Deus os havia ensinado, impressionado e guiado especialmente. Cada um tem uma teoria sua particular, idéias peculiarmente suas, e cada um pretende que essas idéias se acham em harmonia com a Palavra de Deus. Cada um tem diferente teoria e fé, e não obstante pretende cada um possuir luz especial de Deus. Essas pessoas separam-se do corpo, e constituem por si mesmas uma igreja à parte."

A todo este raciocínio, subjaz um conceito irrevogável: esta é a Igreja de Deus! No meio dos nossos defeitos e falhas (que os temos e não são poucos!), este é o movimento escolhido por Deus para terminar a obra que há muito Ele começou. E sair dela é sempre piorar.

Fonte - O Tempo Final
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