Lisboa, 03 Fev (Ecclesia) – O cardeal alemão Walter Kasper, presidente emérito do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos (CPPUC), disse hoje em Lisboa que o diálogo estabelecido nos últimos anos entre as várias Igrejas é “um processo irreversível”.
Numa conferência proferida na sede da Universidade Católica Portuguesa, este responsável afirmou que “as Igrejas e cristãos separados já não se encontram como inimigos ou competidores”.
A intervenção foi dedicada ao tema «Que todos possam ser um. Uma visão da unidade cristã para a próxima geração».
O cardeal Kasper considera que os cristãos devem apostar num “ecumenismo espiritual”, ou seja, a partilha da “vida”, nos seus aspectos concretos, e não apenas de “ideias”.
“O ecumenismo espiritual não se restringe a um lote de peritos escolhidos, é acessível e obrigatório para todos”, precisou.
Lembrando o seu trabalho no CPPUC, este responsável declarou que as “possibilidades” que hoje se abrem neste diálogo ecuménico deveriam permitir dar “não só um, mas dois ou três passos em frente”.
Falando numa “nova fase” do diálogo entre os cristãos, o cardeal alemão assinalou que “a unidade deve ser distinguida da uniformidade”, frisando que este processo “não é fácil e vai levar muito tempo”.
Walter Kasper foi nomeado em 2001 pelo Papa João Paulo II para presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, cargo que exerceu até Julho de 2010.
Para este especialista, o ecumenismo não deve ser um mero “assunto académico” nem embarcar num “activismo” inconsequente.
“O ecumenismo não é uma invenção humana, uma questão ou um interesse político”, referiu.
O cardeal alemão passou em revista as principais divisões entre as Igrejas, separadas, nalguns casos, desde o século V, e os passos dados no diálogo com as mesmas, por parte da Santa Sé.
Sobre a relação com as Igrejas Ortodoxas, divididas desde o século XI, D. Walter Kasper pediu “paciência e tempo”, sobretudo no que diz respeito à definição do papel do Papa e a sua autoridade universal (primado).
Para este especialista, a própria integração europeia só pode ser conseguida com a presença das Igrejas Ortodoxas do Leste, “que marcaram a cultura e a mentalidade” dos seus povos.
O presidente emérito do CPPUC admitiu, por outro lado, dificuldades acrescidas no diálogo com as Igrejas que se afastaram no século XVI, com a Reforma Protestante, devido à “ordenação de mulheres” ou “temas éticos” como o divórcio, o aborto ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
“A paisagem ecuménica está em mudança, de forma muito rápida”, assinalou, aludindo ao crescimento de movimentos “carismáticos e pentecostais” em todo o mundo, face ao decréscimo das “comunidades eclesiais protestantes tradicionais”.
Sobre a criação de ordinariato pessoal para acolher pastores e fiéis da Igreja Anglicana que desejem entrar em comunhão com a Igreja Católica, o cardeal Kasper lembrou que esta não foi uma "iniciativa do Vaticano", mas dos próprios fiéis que pediram essa mudança.
Na sua conferência, o teólogo germânico destacou que todos os Papas que se seguiram ao Concílio Vaticano II (nos anos 60 do século passado) “reafirmaram” o compromisso de actuar pela unidade entre todas as Igrejas e comunidades cristãs.
A intervenção enquadrou-se na cerimónia do doutoramento «honoris causa» que a UCP vai conceder ao cardeal Kasper, no dia 4 de Fevereiro, assinalando o Dia Nacional da Universidade.
Fonte - Ecclesia
Nota DDP: Veja o papel do ecumenismo na profecia bíblica, clicando aqui.