'Agora é papa e pode fazer o que quiser. Muitos se surpreenderão com o que Francisco fará. Para isso, precisará de uma ruptura com as tradições, deixar para trás a cúria corrupta do Vaticano para abrir passagem para uma igreja universal', disse Boff em entrevista que será publicada na edição da próxima semana da revista alemã 'Der Spiegel'.
O teólogo se disse muito satisfeito que o novo papa, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, tenha assumido o nome de Francisco para seu pontificado.
'Este nome é programático: Francisco de Assis representa uma igreja dos pobres e dos oprimidos, responsabilidade perante o meio ambiente e rejeição ao luxo e a ostentação', acrescentou Boff, que pertence à Ordem dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos.
O estudioso disse também que, embora em muitos aspectos - como o referente aos anticoncepcionais, o celibato e o homossexualismo - Francisco tenha seguido uma linha conservadora como cardeal, isso se deveu apenas à pressão do Vaticano. Para ele, há elementos que indicam que o novo pontífice é muito mais liberal.
'Há alguns meses, por exemplo, ele aprovou expressamente que um casal de homossexuais adotasse uma criança. Tem contato com sacerdotes que foram repudiados pela igreja oficial por terem se casado. E, o mais importante, é que não se deixou separar de sua convicção que temos que estar do lado dos pobres', destacou.
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Nota DDP: Ver também "Primeiras palavras do novo papa". Destaque:
"E agora iniciamos este caminho, Bispo e povo... este caminho da Igreja de Roma, que é aquela que preside a todas as Igrejas na caridade. Um caminho de fraternidade, de amor, de confiança entre nós."
A sociedade atual clama por uma igreja "acolhedora" (leia-se liberal), especialmente em pontos de conflito, como divórcio, anticoncepcionais, celibato dos padres e homossexuais. Uma verdadeira "ruptura com as tradições" e um aparente reencontro com os anseios populares. Isso inclusive não é privilégio dos católicos, algo semelhante ocorre no meio do adventismo.
Mas parece vir exatamente neste sentido a afirmação "iniciamos este caminho, bispo e povo". Um papa "do povo", livre do abismo que o luxo e a ostentação produziu entre o clero e os fiéis, condescendente com os reclamos populares de contextualização da igreja e, além de tudo, ecológico. Não se pode perder de vista ainda que a prioridade do pontificado anterior já reaparece na primeira manifestação do atual: a igreja de roma, que é aquela que preside a todas as igrejas.
Mas podemos realmente estar diante de uma reviravolta. Programada obviamente, porque roma não muda. Nessa possível "reviravolta", todos estes elementos nos levam a apenas um lugar: um dia comum de culto, o domingo.
Que ela venha logo.