Enquanto Israel (com ou sem apoio norte-americano) ameaça invadir o Irã para acabar com o programa nuclear de Ahmadinejad (que deseja riscar Israel do mapa), americanos irresponsáveis divulgam um vídeo que ofende a religião islâmica e acabam provocando a ira dos seguidores de Maomé. O embaixador americano na Líbia, Christopher Stevens, pagou com a vida e tem havido várias manifestações de revolta por parte de muçulmanos inflamados. Para piorar a situação, a revista francesa Charlie Hebdo resolveu, em pleno calor da crise, publicar charges com o profeta islâmico (os muçulmanos não permitem sequer representar Maomé artisticamente). Ninguém sabe o que poderá ser a reação dos EUA, nem tampouco de que maneira as charges atiçarão ainda mais os revoltados. O mundo realmente está sentado sobre um barril de pólvora. A paz é mais frágil do que se pensa.
Segundo matéria publicada no portal Terra, o Ministério das Relações Exteriores da França anunciou que fechará suas embaixadas e escolas nesta sexta-feira em países muçulmanos como medida de precaução após a publicação das caricaturas. A decisão atingirá vinte países e o governo teme que os cartuns inflamem ainda mais os ânimos, já acirrados após a divulgação do filme.
A capa da revista mostra um judeu ortodoxo empurrando uma figura de turbante, que está em uma cadeira de rodas. Nas páginas internas, há várias caricaturas do profeta Maomé, incluindo algumas em que ele aparece nu. “Na França, o princípio é a liberdade de expressão. Agora, neste contexto, levando em consideração esse filme estúpido, esse vídeo absurdo que foi divulgado, há uma grande comoção em muitos países muçulmanos. É pertinente e inteligente jogar mais lenha na fogueira? A resposta é não”, disse o ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius. “É preciso encontrar um equilíbrio”, concluiu.
O vídeo que desencadeou essa onda de protestos no mesmo dia em que os Estados Unidos relembravam os atentados terroristas de 2001 traz trechos de “Innocence of Muslims”, filme produzido nos Estados Unidos sob a suposta direção de Nakoula Basseky Nakoula. Ele seria um cristão copta egípcio residente nos Estados Unidos, mas sua verdadeira identidade e localização ainda são investigadas. O filme, de qualidades intelectual e cultural amplamente questionáveis, zomba abertamente do Islã e denigre a imagem de Maomé.
Parece que a ordem do dia é mesmo a provocação. Dando também sua contribuição, as ativistas do movimento feminista Femen protestaram seminuas (pra variar) na inauguração da sede da organização em Paris. A ONG ucraniana se instalou na capital francesa para “recrutar soldados” na luta contra a discriminação de mulheres. Os métodos delas (que pregam a liberdade, mas se exibem como prêmio para os repórteres e para os olhares ávidos dos homens) e de organizações como a Peta são altamente questionáveis. A causa parece justa, mas os instrumentos de luta ficam longe disso. Desta vez, no entanto, creio que as peladas foram longe demais. No tronco de uma delas podia ser lido: “Muçulmanos, vamos ficar pelados.”
Liberdade de expressão é uma coisa, desrespeito à fé alheia é outra. É verdade que o cristianismo e figuras bíblicas vêm sendo debochados há muito tempo, e é verdade também que a reação dos muçulmanos radicais é desproporcional (Jesus foi escarnecido, humilhado e morto, ainda assim, ensinou Seus discípulos a orar pelos que os perseguem; Maomé bem que podia ter ensinado algo parecido), mas nada justifica a agressão e a provocação gratuitas que o filme, as charges e as militantes do Femen estão promovendo. É irresponsável, pois faz sofrer e até leva à morte quem não tem nada a ver com a coisa.
A situação do mundo vai ficando cada vez mais crítica com uma clara polarização entre os “moderados”, que pregam a união e a paz, e os radicais, “fundamentalistas” que agridem e pagam com mais agressão. Já existem vozes clamando contra esse “fundamentalismo” (vou publicar algo sobre isso em breve) e precisamos ficar atentos ao desenrolar dos fatos.
Dias piores virão, certamente.
Michelson Borges