Vivemos em tempos difíceis! Isso já foi antecipado pela Bíblia (2Tm 3:1), mas é confirmado cada dia pelas notícias. Tenho observado essa realidade com preocupação e oração, analisando sua influência sobre a igreja e o que podemos fazer para minimizar ou eliminar seu efeito. Algumas perguntas surgem naturalmente: Fomos chamados para mudar o mundo ou para adaptar-nos a ele? Vamos permanecer leais à nossa missão como remanescentes ou devemos nos tornar mais condescendentes? Nos últimos dias, seremos mais semelhantes ao mundo ou diferentes dele?
Conhecemos as profecias e sabemos que nestes tempos, mais do que nunca, a Igreja precisa ser a voz de Deus e não o eco da cultura. Entendemos nosso papel como povo remanescente, com um estilo de vida distintivo nos dias finais da história. Mas por que alguns acabam cedendo à pressão para ser mais genéricos e menos adventistas? Por que fecham os olhos para a realidade e escolhem a zona de conforto? Dwight Moody costumava dizer que “a Bíblia não foi dada para aumentar nosso conhecimento, mas para mudar nossa vida”.
Para dispersar essas tensões, preocupações e até desatenções, a Igreja Adventista na América do Sul orou muito antes de elaborar, discutir, aprofundar e aprovar um documento que reforça a visão de nosso estilo de vida. Ele resgata a visão de um povo peculiar, escolhido diretamente por Deus e com uma missão especial para este momento da história. Seu conteúdo é fundamentado na Bíblia, com o apoio dos escritos inspirados de Ellen G. White, e segue a visão oficial da Igreja, publicada no Manual da Igreja e no livro Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia.
A proposta central é apresentar conceitos e princípios fundamentais, sem necessariamente tocar em detalhes de cada uma das questões envolvidas. Não é fácil elaborar um conteúdo tão profundo e ao mesmo tempo fazê-lo de forma compacta. Mas, depois de um longo período de oração, avaliação e discussão em diferentes fóruns da Igreja, o documento foi votado oficialmente pela Comissão Diretiva da Divisão Sul-Americana, em novembro de 2012. A aprovação envolveu a liderança da Igreja, pastores distritais e membros representando todas as nossas regiões administrativas (Uniões).
Ao apresentar esse tema à igreja, não temos como objetivo incentivar uma visão legalista, nem alimentar excessos ou mesmo criar um ambiente de acusações, mas promover reflexão e aprofundar o processo de santificação e discipulado, envolvendo cada membro. A pessoa que realmente entregou a vida a Jesus, anda em “novidade de vida” (Rm 6:1-11), é “nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2Co 5:17). Na verdade, “a conversão tira o cristão do mundo, mas a santificação precisa tirar o mundo do cristão” (John Wesley).
Não tenho a ilusão de que um documento, um voto ou um simples pedaço de papel tenha poder para transformar o comportamento das pessoas. Mas acredito que pode ser um grande ponto de partida para resgatar valores que venham do interior para o exterior.
Sem dúvida, tudo começa com a ação do Espírito Santo, mas ela não pode ficar restrita ao coração. Afinal, “cristianismo não tem que ver com o que você faz, mas com quem você conhece. Mas quem você conhece muda o que você faz” (Lee Venden). A conversão ocorre no interior, mas a confirmação precisa aparecer no exterior. Ellen White viu aqueles que “estavam no caminho largo, e, no entanto, professavam pertencer ao número dos que viajavam no caminho estreito. Os que estavam em redor deles diziam: ‘Não há distinção entre nós. Somos iguais; vestimos, falamos e procedemos semelhantemente’” (Mensagens aos Jovens, p. 127).
Estamos preparando um povo para a vinda de Jesus, assim como fez João Batista. Isaías 40 e Malaquias 4 têm profecias específicas sobre essa missão. Portanto, João Batista é um modelo profético da Igreja Adventista. Observe como é grande a ênfase dada ao seu estilo de vida, especialmente em relação à comida, bebida e vestimenta (Mt 3:4; Mc 1:6; Lc 1:15). Isso mostra que o estilo de vida específico e ordenado por Deus é um aspecto importante no cumprimento da missão profética de quem prepara o caminho para a vinda do Senhor.
Temos agora uma grande oportunidade diante de nós. Foram impressas cerca de 500 mil cópias desse documento e cada família receberá um exemplar. A igreja está sendo convidada a separar um tempo especial para ler esse documento no dia 9 de março, quando cada congregação participará do movimento “10 Horas de Jejum e Oração”. Um vídeo foi preparado para ajudar na leitura geral e também uma versão resumida do documento foi produzida na linguagem dos adolescentes (Os materiais estão disponíveis na internet, em portaladventista.org e reavivamentoereforma.com ou em cada Associação/Missão). O objetivo de tudo isso é que o tema seja tratado dentro de um clima de consagração e intercessão, buscando conhecer melhor a vontade do Senhor e lembrando que “Deus não despede ninguém vazio, exceto aqueles que estão cheios de si mesmos” (Dwight Moody).
Esteja certo de que “o Céu pagará qualquer prejuízo que possamos sofrer para ganhá-lo; mas nada pode pagar o prejuízo de perdê-lo” (Richard Baxter). Por isso, “devemos nos desprender constantemente da Terra e apegar-nos ao Céu” (Ellen G. White, Perto do Céu [MM 2013], p. 16). Isso envolve começar a viver ainda na Terra o estilo de vida do Céu. Vamos resgatar juntos nossos valores!
ERTON KÖHLER é presidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia para a América do Sul.