"Dar continuidade às relações e intensificar a cooperação para dar um testemunho comum, em particular na Europa": estes são os propósitos expressados pelo patriarca ecumênico e arcebispo de Contantinopla, Bartolomeu, e pelo primaz da comunhão anglicana e arcebispo de Canterbury, Justin Welby, em seu encontro acontecido nesta segunda e terça-feira em Istambul.
Ambos reiteraram a importância do diálogo teológico em andamento e o compromisso entre a Igreja ortodoxa e os anglicanos. O colóquio é o primeiro desde que Welby foi entronizado como arcebispo de Canterbury. De acordo com L’Osservatore Romano, "os dois dias foram caracterizados por um clima de grande amizade".
Ambos os líderes religiosos manifestaram em particular a "preocupação com a injustiça presente em muitas partes do mundo" e rezaram pelos pobres e pelos oprimidos, pela paz e pela justiça em todo o mundo, especialmente no Oriente Médio. Bartolomeu e Welby destacaram a importância de "promover uma consciência maior sobre a defesa dos valores cristãos, da dignidade humana e dos direitos religiosos".
Bartolomeu, em seu discurso de boas-vindas, recordou que "a aproximação entre as duas Igrejas foi ajudada em grande medida pelo intercâmbio de estudantes" e manifestou o desejo de que o intercâmbio continue no futuro. O patriarca explicou que a escola teológica em Halki oferecia bolsas a estudantes anglicanos; quando for reaberta, a tradição deverá ser retomada.
Por sua vez, o primaz anglicano se disse satisfeito com a oportunidade do encontro e com a vista a Istambul. "Esta cidade deixou marca no cristianismo em seu conjunto, com uma variedade de formas". A seguir, denunciando quem utiliza a religião como desculpa para a violência, o primaz anglicano recordou o testemunho do patriarcado ecumênico: "Vocês demonstraram ao longo dos séculos o martírio a que estamos chamados na Escritura, o chamado a testemunhar com as palavras e com a vida. Um chamado mais importante do que a própria vida". Welby ofereceu a sua oração pelos dois bispos de Aleppo que foram sequestrados.
Dirigindo-se a Bartolomeu, Welby declarou: "Você mesmo deu o exemplo de paz e de reconciliação na sua histórica visita por ocasião do início do pontificado do papa Francisco. Istambul é o cruzamento entre a Europa e a Ásia. É o lugar em que duas grandes religiões se encontram. Seu significado para o comércio é enorme e ela continua nos recordando a importância da Turquia como nação industrial e comercial. Comércio e negócios podem ser objeto de cobiça, mas, na graça de Deus, podem abrir caminho para o diálogo entre as nações".
Ao longo destes meses de pontificado do papa argentino, já assistimos a alguns gestos e momentos de proximidade entre as igrejas.
Francisco recebeu Bartolomeu, patriarca ecumênico de Constantinopla, no dia 20 de março, quando ele foi ao Vaticano para a cerimônia de início do pontificado.
Em 30 de novembro, festa do apóstolo Santo André, padroeiro do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, uma delegação da Santa Sé participou das celebrações em Istambul, onde foi lida a mensagem do papa Francisco que recordava a "dramática situação de tantos povos que, vítimas da violência e da guerra, estão sofrendo a fome, a pobreza e graves desastres naturais". Também mencionou a situação dos cristãos no Oriente Médio e o seu direito de permanecer nos seus países. O papa reiterou que "o diálogo, o perdão e a reconciliação são os únicos caminhos possíveis para resolver o conflito".
Quando Francisco recebeu a delegação ortodoxa, em 29 de junho, destacou que "a busca da unidade entre os cristãos é uma urgência da qual hoje, mais do que nunca, não podemos escapar". Ele encorajou os cristãos a "não ter medo do encontro e do verdadeiro diálogo".
O arcebispo Welby também teve a oportunidade de se reunir com Francisco. Foi em 14 de junho, quando ele foi recebido no Vaticano. O primaz anglicano tomou posse numa solene cerimônia como novo arcebispo de Canterbury no último dia 21 de março, apenas dois dias depois da missa de início do pontificado de Francisco. Foi por isso que Welby não pôde viajar a Roma naquela ocasião.
No encontro entre Welby e Francisco, o Santo Padre recordou que, entre a Igreja da Inglaterra e a Igreja de Roma, "as últimas décadas se caracterizaram por um caminho de aproximação e de fraternidade, que devemos agradecer a Deus". Ele afirmou também que aquele dia foi "uma ocasião para recordar que o compromisso da unidade entre os cristãos não deriva de razões práticas, mas da vontade do Senhor Jesus Cristo, que nos tornou seus irmãos e filhos de um único Pai".
Fonte - Zenit