Diretor do Escritório de Segurança e Contraterrorismo defende que os britânicos não deveriam ficar muito preocupados em ter suas comunicações interceptadas
A Privacy International, ONG britânica que luta pelo direito à privacidade no Reino Unido, abriu em maio uma reclamação formal junto ao Tribunal de Poderes Investigativos (IPT). A ONG queria que o tribunal, que investiga a conduta de órgãos públicos no país, averiguasse se uma das agências de espionagem britânicas, o GCHQ, estava violando a Convenção Europeia de Direitos Humanos, que garante o direito à privacidade e liberdade de expressão. A reclamação veio depois das revelações feitas por Edward Snowden.
Na terça-feira 17, o diretor do Escritório de Segurança e Contraterrorismo, Charles Farr, admitiu que o governo britânico havia espionado e continua espionando usuários domésticos que utilizam o Facebook, o Twitter e o Google sem mandados judiciais, porque essas empresas têm suas sedes fora do Reino Unido. A declaração de Farr marca a primeira vez que o governo faz qualquer comentário sobre o raciocínio utilizado para justificar a interceptação em massa das comunicações dos seus cidadãos.
Farr sustenta que mandados individuais não são suficientes para conter uma ameaça contra a segurança nacional por parte de “militantes terroristas islâmicos”, principalmente porque conseguir identificar cada um deles levaria muito tempo. “Qualquer governo que só permitisse a interceptação em relação a pessoas ou lugares específicos não facilitaria a coleta de níveis adequados de inteligência e não atingiria os níveis de inteligência necessários para a proteção da segurança nacional”, disse Farr em declaração publicada pela ONG Privacy International em seu site.
Além disso, Farr defende que os britânicos não deveriam ficar muito preocupados em ter suas comunicações interceptadas. Segundo ele, só uma fração delas são lidas ou analisadas e, mesmo que um analista dos serviços de inteligência abrisse qualquer comunicação ilegalmente, ele acredita que seu conteúdo seja rapidamente esquecido pelo agente infrator.
Eric King, diretor da ONG, respondeu que o raciocínio de Farr não é admissível para o público britânico, que “não aceitaria uma desculpa tão deficiente para a perda das suas liberdades civis”.
Fonte - Carta Capital