Em mais uma evidência do limite em liberalizar o mercado sem tirar de cima a mão do governo, a bolsa chinesa é protagonista de nova derrocada dos ativos globais. Acostumados com benesses estatais em forma de dinheiro fácil para comprar e vender ações, os investidores locais se decepcionaram com a ausência de estímulos nesta segunda-feira (24) após o tombo de 11% sofrido na semana passada.
Em resposta, o índice de Xangai despencou 8,5%, o que representa a maior queda desde a crise financeira em 2007. Temendo contaminação dos problemas na China em todo o mundo, perdas generalizadas dominam os mercados globais. O índice alemão Dax perde 3%, assim como os futuros em Wall Street. As cotações de commodities caem para mínimas em 16 anos.
Embora não haja consenso sobre o efeito do pânico financeiro na economia real chinesa, a cada dia crescem dúvidas sobre a atividade do gigante asiática. Nos últimos dias, Pequim, inclusive, deixou o iuane cair frente ao dólar para conseguir tornar seus produtos ainda mais baratos no exterior. Segundo a Bloomberg News, mais de US$ 5 trilhões em valor foram destruídos das bolsas globais desde que a China mexeu no iuane na segunda semana de agosto.
“O Ibovespa deve seguir em queda, com ‘’boas chances’’ de fechar o dia abaixo dos 45 mil pontos, acompanhando a piora do 'humor' externo e também prejudicada internamente pelo crescente aumento da tensão política e deterioração da economia brasileira (…) O dólar pode subir rumo aos R$ 3,60, influenciado pelos mesmos motivos que devem prejudicar bolsa brasileira e ainda seguindo a trajetória internacional da moeda norte-americana”, comenta Alfredo Sequeira Filho, sócio-presidente da DNAinvest.
Na sexta-feira, o Ibovespa fechou aos 45.720 pontos, acumulando queda de 3,77% na semana e de 10,11% no mês. A análise técnica aponta que o principal índice de ações da Bolsa ainda pode cair para 44.100 pontos no curto prazo. O dólar subiu frente ao real, cotado a R$ 3,4960 na venda.
O mercado agora
A agenda do dia é fraca para indicadores e os investidores seguem de olho na economia chinesa e no ambiente político brasileiro, cada dia mais imprevisível. Pesam os rumores da saída do vice-presidente Michel Temer (PMDB) da articulação política e possíveis reações do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), após ser denunciado por corrupção passiva na Lava Jato, mesmo que ele insista que não haverá retaliações. O pedido de investigação das contas da campanha de Dilma adiciona maior tensão.
Na sexta-feira (21), o principal índice da BM&FBovespa renovou o patamar mais baixo ao perder 10,12% no mês e encerrar aos 45.720 pontos. A tendência de curto prazo é de novas quedas, mas com as constantes perdas e ainda testando o importante suporte de 45.800 pontos, o mercado pode abrir espaço para alguma recuperação.
Para Luiz Felipe Lopes, analista financeiro sênior da Lopes Filho, se o Ibovespa perder o suporte de 45.800, o índice tende a buscar um nível ainda menor, de 44.100 pontos, no curto prazo, que é o fundo registrado em julho de 2013.
China - A segunda-feira se inicia muito tensa nos mercados. A bolsa de valores da China despencou mais de 8%, a maior queda diária desde o auge da crise financeira global em 2007, refletindo a frustração de investidores após Pequim não anunciar novos estímulos no fim de semana. No Japão, o índice Nikkei teve a maior baixa em 2 anos. Na Europa, a direção é de queda. Em Berlim, por exemplo, o índice DAX recua 3%.
No mercado de câmbio, a ausência de indicadores deve levar a moeda norte-americana a abrir por aqui seguindo as negociações nos mercados internacionais. Na sexta-feira, o dólar à vista encerrou em R$ 3,49, mas a tendência ante o real ainda é de alta no curto prazo e a divisa pode voltar a testar os R$ 3,51 dos últimos dias.
Cleber Alessie, operador de câmbio da H.Commcor, relata ainda o aumento das expectativas de a agência de classificação de risco Fitch finalmente divulgar sua revisão da nota soberana brasileira e “desempatar” a perspectiva para a avaliação brasileira.
A Standard & Poor’s (S&P) tem perspectiva negativa para o rating e a Moody’s estável, ambas colocaram o Brasil no último degrau de investimento. Entre as grandes agências, só falta a Fitch se pronunciar. “Isso tem força para fazer muito preço no mercado”, diz Alessie.
O poder e a economia
Sobe e desce - Parlamentares da base aliada querem manter a proposta original do governo de elevar a alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) de 15% para 20% para as instituições financeiras, segundo o presidente da comissão mista que analisa a proposta, deputado Domingos Sávio (PSDB-MG). Membros da base de apoio da presidente pretendem votar a medida provisória 675, que trata da elevação da CSLL e é uma das medidas do governo para o ajuste das contas públicas, na próxima terça-feira na comissão, com a proposta original do Palácio do Planalto, e não com a elevação maior, para 23%, proposta pela relatora da MP, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Campanha em xeque - A decisão do ministro Gilmar Mendes de pedir a investigação de eventuais crimes cometidos na prestação de contas do PT na campanha presidencial de Dilma Rousseff pela Polícia Federal e pela Procuradoria-Geral da República deve ser questionada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), segundo Edinho Silva, ministro da secretaria de comunicação social da presidência da República. O TSE aprovou as contas em dezembro do ano passado.
Tombini fala – O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, participa hoje à noite da 15ª edição do Prêmio Valor 1000, promovido pelo jornal Valor Econômico, no Hotel Unique, em São Paulo.
Enquanto isso, na Fazenda – Já Joaquim Levy, ministro da Fazenda, tem agenda em Washington, nos EUA, mas sem compromissos oficiais. O secretário-executivo, Tarcísio José Massote de Godoy, tem reunião marcada com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), às 10h. À tarde é a vez do secretário da Receita Federal, Jorge Antonio Deher Rachid, se reunir com a Febraban.
Dilma tenta coordenar – O único compromisso que consta na agenda da presidente Dilma Rousseff é a reunião de coordenação política logo cedo, às 9h. Dilma já se reuniu ontem(domingo, 23) com os ministros do Planejamento, Nelson Barbosa, e com o titular da Casa Civil, Aloizio Mercadante, no Palácio da Alvorada. A reunião antecede a semana que o governo tem de fechar a proposta de orçamento de 2016, que precisa ser enviada ao Congresso Nacional até 31 de agosto.
O que acontece no mundo corporativo
Com IPO em andamento - Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo aponta que uma auditoria da BR Distribuidora descobriu que a subsidiária da Petrobras direcionou licitações no valor de R$ 574 milhões vencidas pela construtora UTC Engenharia, em 2010.
Ovelha negra – A Petrobras teria desativado a unidade de gasolina em refinaria de Pasadena após incêndio, disseram fontes familiarizadas com as operações da fábrica à Reuters.
Uma nota – A Estácio Participações, que controla universidades como a Estácio de Sá, pretende captar R$ 250 milhões, por meio da emissão de debêntures simples. O dinheiro será usado para reforçar seus planos de expansão.
Pan de Azúcar – A colombiana Éxito concluiu a aquisição de 50% das ações ordinárias do Pão de Açúcar. A transação é uma etapa da reestruturação societária promovida pelo grupo francês Casino, que controla ambos. A partir de agora, o comando da maior varejista brasileira será compartilhado entre franceses e colombianos.
Mais um passo – A assembleia geral de acionistas aprovou a abertura de capital do IRB Brasil Resseguros. O IPO da resseguradora é uma das apostas do governo para engordar o caixa, neste ano de vacas magras.
Bônus – A Lojas Marisa aprovou uma bonificação de ações, equivalente a 10% de seu capital. Cada acionista receberá uma ação, para cada dez que já possuir até 25 de agosto. A operação faz parte do aumento de capital promovido pela varejista, ao incorporar parte da reserva de lucros.
Novos ventos – A empresa de energia renovável Statkraft conclui a venda de suas fatias na Goiás Transmissão (25%) e na MGE Transmissão (25%) para a Gebbras Participações. A Gebbras é controlada pela Empresa de Energia de Bogotá. A Statkraft afirmou que a venda representará “um importante evento de liquidez”. Traduzindo: significa uma boa entrada de dinheiro.
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O desktop já era. As empresas de mídia tradicionais e online estão enfrentando dificuldades para conseguir dinheiro com o rápido crescimento do tráfego "mobile" - por celulares e tabletes. Isso aumenta o questionamento sobre o crescimento futuro dessas companhias.
Fonte - Financista