Autor de uma biografia fundamental sobre o Papa, Austen Ivereigh falou ao DN sobre a primeira encíclica de Francisco, o seu percurso, preocupações e o concílio em que foi eleito.
Começar a encíclica Laudato Si" (Louvado Sejas) com uma frase de São Francisco de Assis, como fez o Papa Francisco, é por si só todo um programa?
Sim. Louvado Sejas é um lamento por uma ligação perdida entre os seres humanos com Deus, com eles próprios e com o planeta. Uma ligação cujo expoente máximo, penso, foi precisamente São Francisco de Assis e, por isso, ele é o santo patrono da encíclica e daquilo que nela o Papa chama ecologia integral. Quanto à encíclica em si, em minha opinião, é o documento mais importante sobre a doutrina social da Igreja da primeira encíclica social, a Rerum Novarum (1891). Representa uma mudança importante no entendimento da Igreja do que é o seu ensinamento social.
De que forma?
Antes da publicação da Rerum Novarum, muitos autores católicos tinham escrito sobre questões sociais. Por exemplo, o cardeal inglês Henry Manning, que pode possivelmente ser considerado o autor do conceito de salário justo, mas sem ser um papa a falar através da autoridade de uma encíclica, podia sempre dizer-se que não passava de uma opinião pessoal. O que uma encíclica faz é, a partir de ensinamento comum, erguer este a um novo nível e afirma que isto é aquilo em que todo o católico deve acreditar. Assim, com Louvado Sejas passou a ser uma obrigação para todo o católico preocupar-se com o ambiente, já não é uma opção. Gostava ainda de referir que, como em 1891 muitos empresários católicos na Europa disseram "mas o que é que o Papa sabe sobre salários e sindicatos", hoje muitos conservadores americanos estão a dizer "mas porque é que o Papa está a imiscuir-se na questão" do ambiente. Mas ambas as encíclicas mostram que as duas questões são também questões morais.
Os católicos devem mudar de atitude na questão do ambiente?
Precisamente. A encíclica dirige-se a todos, mas o seu destinatário primeiro são os católicos e diz-lhes que, desde agora, devem estar na vanguarda da mudança dos comportamentos necessária para reduzir as alterações climáticas. Deve existir coincidência entre a fé e os comportamentos em sociedade dos fiéis.
A encíclica é crítica da sociedade de consumo e hedonística?
O que Louvado Sejas faz, e não fora feito até agora no ensinamento da Igreja, é ligar o impacte do modelo corrente de consumismo à situação dos pobres e do planeta e mostrar que o mal causado a ambos é sintoma da imoralidade do modelo económico vigente. O modo como o faz é brilhante e, de algum modo, é uma restauração. Todas as reformas radicais na Igreja são uma restauração de algo que se perdeu.
As ações humanas produzem a degradação do ambiente?
A importância da encíclica é que toma posição no debate científico sobre a questão, reconhecendo que as alterações climáticas são resultado da ação humana, mas as evidências em que se baseia surgem mais do testemunho dos pobres, sintetizadas através das declarações de conferências episcopais. Isto é deveras importante, porque o Papa está a afirmar que o povo de Deus está a sofrer e que sente e vê esse sofrimento. E a ciência sustenta esta evidência. O que não tem sido entendido por muitos nos EUA que dizem não ser admissível o Papa tomar posição sobre a ciência quando ele, de facto, diz que a evidência vem do sofrimento dos pobres.
Referiu a citação de documentos das conferências episcopais. Essa é uma novidade na encíclica?
É um desenvolvimento muito importante. Louvado Sejas é a primeira encíclica que se apoia de forma extensa no ensino das conferências episcopais. O que Francisco está a fazer é mostrar que a sua autoridade para se pronunciar, como Papa, sobre um tema resulta do facto de ter ouvido os bispos. Uma ilustração da defesa que faz do princípio da colegialidade.
Mas mantém a tradição de citar os papas seus predecessores.
É a regra. O ensinamento de um papa baseia-se no dos predecessores e, no caso de Francisco, é também importante mostrar que as suas preocupações não são algo novo. Conheço um pouco o processo de formação da encíclica e a preocupação central não foi se são verdade ou não as alterações climáticas. A preocupação central foi porque é que não se fez nada sobre isto. Na própria Igreja, em particular, depois de João Paulo II ter proferido, logo no início dos anos 1990, um discurso radical totalmente dedicado à questão ecológica. Francisco quer ação, não meras palavras na questão do ambiente. Primeiro, na Igreja e, depois, no plano internacional.
Outro elemento inédito é a citação de um autor, Romano Guardini, padre e filósofo, e a cuja obra Bergoglio pensou dedicar uma tese de doutoramento?
Foi o seu teólogo favorito. Francisco pensa que no livro de Guardini, Der Ende der Neuzeit (O Fim do Mundo Moderno) está identificada a mentalidade que levou à atual crise ecológica e que justifica o modelo de desenvolvimento vigente: o paradigma tecnocrático, que justifica que o mundo seja considerado como uma criação para nosso benefício individual e para o utilizarmos como entendemos. O mundo não é algo com que tenhamos de estar em comunhão, é algo para utilizarmos. É importante ter presente que Francisco não está aqui a criticar a economia de mercado, ele não é um socialista. O que ele critica é a mentalidade que leva a largas faixas da população mundial esteja no desemprego, seja vista como descartável e explorada, e que isto seja considerado como um preço inevitável para o desenvolvimento económico e que, mais tarde ou mais cedo, o problema acabe ultrapassado pelos mecanismos do mercado. Críticas também feitas por outros papas no quadro do ensinamento social da igreja.
O Papa visita Cuba e os EUA em setembro. Perante as críticas que lhe têm sido feitas, como pensa que será recebido neste último país?
Devemos ver esta como uma visita aos dois países. E será aquela com maior impacte e efeitos a prazo das suas viagens apostólicas. Nos EUA, penso que irá reproduzir a mensagem deixada na Bolívia, em Santa Cruz. Isto é, depois de ter ouvido as reivindicações dos mais fracos vai levá-las ao centro do império capitalista. Penso que será uma visita profética. Irá certamente encontrar forte resistência, dentro e fora da Igreja, de uma pequena elite mas articulada e poderosa, mas o que Francisco irá fazer, como sempre faz nas suas visitas, é estabelecer a ligação direta e forte com "o santo povo fiel de Deus", nas suas próprias palavras, isto é os católicos comuns, a generalidade dos americanos. E será uma deslocação extraordinária, mas será também a mais difícil das que realizou até agora.
E em Cuba?
Para o regime, a Igreja é uma tábua de salvação da sua própria existência. A Igreja é o garante de que a transição para um regime democrático proteja os resultados da revolução de 1959 e que proteja Cuba daquilo que o regime vê como a hegemonia dos EUA. A visita de Francisco a Cuba deve contribuir para construir este tipo de futuro. Vamos ver Francisco como líder dos povos da América Latina. Creio que será uma visita muito, muito emotiva.
Será diferente da realizada por João Paulo II?
Sem dúvida. Esta foi muito tensa. Só João Paulo II ter visitado Cuba foi uma vitória. Agora, é diferente. O regime sabe que acabou a revolução socialista, que tem de levar a cabo a transição para uma democracia e para uma economia de mercado. A questão é como fazer isso e que modelo seguir. Francisco chega a Cuba não só como líder da Igreja latino-americana mas como alguém que partilha as aspirações e ideais dos povos da região. Ele é um católico nacionalista que acredita profundamente na soberania da América Latina e do desejo das suas populações de uma economia mais justa e sociedades mais dignas.
Qual a interpretação que faz do número de vezes que Cristina Kirchner já se encontrou com Francisco? É uma tentativa de procurar ultrapassar os atritos do passado ou é mero cálculo político em ano eleitoral?
Creio que é cálculo político. Francisco é hoje a figura que une todos os argentinos e é talvez a maior figura a nível mundial. Claro que todos os políticos argentinos querem um encontro com ele. Muitos na Argentina interrogam-se por que é que o Papa a recebe, mas ele disse a uma pessoa amiga que não pode dizer que não. É uma chefe de Estado e se ela se quer encontrar com ele, ele tem dizer sim. Mas sei que está irritado com a maneira como muitos políticos argentinos têm procurado manipular ou interpretar estas visitas. E por isso não visitará a Argentina este ano. Só em 2016, quando irá também ao Chile e Uruguai.
Pensa que o Papa Francisco considera a hipótese de renunciar como fez Bento XVI?
Irá certamente considerar uma renúncia se achar que, fisicamente, não está em condições. Ele já disse ter a intuição de que o seu papado será breve, até pela idade, saúde, e pelo ritmo de trabalho que se impõe, que é muito exigente. Francisco acredita que Bento XVI estabeleceu um precedente que, de certa maneira, mudou a maneira como é visto o papado e como os papas se veem a a si próprios. Francisco não quererá ficar mais do que acha que deve ficar. Penso que tem uma agenda para cinco anos, sabe o que quer fazer neste período de tempo. No final, irá pensar na renúncia mas não quer dizer que o faça. Por exemplo, pode descobrir que precisa de sete anos para fazer aquilo que quer fazer. Depois, não acredito na renúncia de Francisco até Bento XVI morrer; não me parece que possa haver dois ex-papas vivos. Um facto destes acabaria por minar a natureza da função papal.
Pensando no sucedido no conclave de 2005, é possível especular que o Papa Francisco "precisava" do papa Bento XVI para surgir, em 2013, como a melhor escolha para a Igreja nesse momento?
Não creio que a questão se coloque dessa forma. No conclave de 2005, que elegeu o papa Bento XVI, havia um grupo importante de cardeais influentes que desejavam reformas, acreditavam ser o tempo de olhar para a América Latina e acreditavam que o cardeal Bergoglio era a melhor escolha para a tarefa. Mas, para a maioria dos cardeais naquele momento, a questão principal era de como preservar e prosseguir o legado de João Paulo II. O colégio de cardeais não estava preparado para seguir numa nova direção. Nem o cardeal Bergoglio estava preparado. Foi por isso que ele pediu aos cardeais para deixarem de votar nele. Bergoglio apoiava inequivocamente Ratzinger e acreditava que este devia ser o próximo Papa.
Quais eram os principais problemas da Igreja em 2005 e quais são em 2013? E o que mudou neste espaço de tempo?
O grupo de reformadores no colégio dos cardeais, liderado designadamente pelos europeus do Norte e cuja figura principal era o cardeal Martini, de Milão, acreditavam que a governação da Igreja estava excessivamente centralizado e a interpretação da doutrina demasiado estreita e inflexível. Eles desejavam uma governação papal que permitisse à Igreja ir ao encontro, de forma mais adequada, das necessidades pastorais das pessoas, e ter uma melhor resposta a alguns dos desafios do mundo contemporâneo ocidental. O que mudou entre 2005 e 2013 foi que os escândalos envolvendo o Vaticano em 2011-2012 tornaram as reformas uma prioridade. Assim, no momento do conclave de 2013, os cardeais estavam muito mais recetivos à ideia de um papado reformador, que pudesse enfrentar as várias disfunções na Igreja, e libertar as suas energias evangelizadoras. O outro fator chave foi o de que a renúncia de Bento XVI deu oportunidade aos cardeais para terem uma discussão profunda sobre o estado da Igreja, algo que não sucedeu realmente em 2005. Assim, em 2013, acabou por suceder um conclave que, de muitas maneiras, deveria ter sucedido oito anos antes. Só que não estavam então reunidas as condições para isso.
Verifica-se, por vezes, a tendência para tentar mostrar o Papa Francisco como o oposto de Bento XVI, não só em comportamento como no plano doutrinal e teológico. Há realmente bases para esta contraposição?
Sim e não, mas principalmente não. Todos os papas defendem os ensinamentos centrais da Igreja, e nisso Francisco é um promotor tão decidido como o foi Bento XVI. Por isto, querer mostrar Francisco como o liberal ou o tipo de reformador que irá moldar a doutrina da igreja ao mundo contemporâneo, passa completamente ao lado da realidade. Nas questões da família e da sexualidade, por exemplo, Francisco sempre revelou acreditar apaixonadamente nos ensinamentos da Igreja sobre a contraceção e aborto, e criticou sempre o casamento e a adoção por pessoas do mesmo sexo. Dito isto, creio que Francisco está mais disponível do que Bento XVI para aceitar a tensão entre a verdade da doutrina e as necessidades pastorais das pessoas, e para permitir que a orientação da igreja seja moldada por essas necessidades. Vê-se isso, por exemplo, no processo do sínodo sobre a família, em que Francisco quer que a Igreja pense em formas de trazer de volta às paróquias aqueles que acabaram por afastados por terem casado uma segunda vez. Ele tem sido acusado por alguns elementos mais inflexíveis de querer mudar que, dizem eles, acabarão por minar o testemunho da indissolubilidade do matrimónio. Contudo, Francisco dá o exemplo de Jesus de querer salvar as ovelhas tresmalhadas e pergunta quis devem ser as prioridades da igreja: apenas manter os cumpridores ou salvar os perdidos? Creio que a perceção de Bento XVI tinha mais a ver com a preservação da verdade sujeita a várias ameaças enquanto que a atitude de Francisco tem mais a ver com a possibilidade de dar às pessoas a oportunidade de conhecerem o amor e o perdão de Deus.
É legítimo pensar que ao tornar-se claro para Bento XVI não lhe ser possível reformar a Cúria, ele desencadeou o processo que culminaria na sua renúncia?
Quando descrevo no livro as circunstâncias da renúncia de Bento XVI acredito na sua declaração de ter tomado a decisão por se sentir de saúde débil e fraco. Essa é a razão principal - não as revelações surgidas com o escândalo das Vatileaks, como muitos sugerem. Foi uma decisão longamente ponderada, que Bento XVI tomou, como revelo no livro, na visita ao México, em março de 2012, quando caiu no quarto do hotel onde estava. Ele apercebeu-se então que não teria a energia necessária para cumprir as suas obrigações como papa, pensando especialmente nas Jornadas Mundiais da Juventude do ano seguinte, no Brasil. Assim, planeou a renúncia para o início de 2013, a tempo do novo papa ser eleito para dirigir as celebrações da Páscoa e de estar presente no Brasil. E penso que ele sabia que o novo papa seria latino-americano e estava muito satisfeito com isso. Tinha a perceção que era o momento da América Latina ter o seu lugar em Roma. Bento XVI foi, de facto, um papa de transição, a ligação entre duas eras. Conhecia bem aquilo de que a Igreja necessitava e o seu ato profético levará a que a história julgue o seu papado de uma forma muito mais benévola do que o fez a opinião pública.
Refere influências no pensamento, carácter e ideias do Papa Francisco desde o "nosso modo de atuar" dos jesuítas e autores como Yves Congar, Henri de Lubac, Romano Guardini, Methol Ferré, o papa Paulo VI, os salesianos (onde Bergoglio estudou enquanto jovem), o romancista italiano Alexandro Manzoni e pessoas da família, como a avó Rosa. É a síntese destas influências que fazem de Bergoglio aquilo que é hoje e tem sido ao longo da sua vida religiosa?
O Papa não é um intelectual mas um pastor e um homem de ação. Nem por isso deixa de ser uma pessoa profundamente inteligente e uma pessoa de vasto conhecimento. Como muitos outros grandes líderes, ele transforma uma ideia ou um conceito em todo um programa. Quanto aos autores mencionados, eles são realmente as principais fontes de inspiração do pensamento de Bergoglio, mas temos de ter presente que os seus discursos e escritos estão repletos de referências aos clássicos, à literatura, à poesia, até às letras de tangos. Os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola são a chave fundamental. Eles são as lentes - ou como ele próprio diria, a "hermenêutica" - através das quais ele vê tudo o mais. Os Exercícios foram a maneira encontrada por Santo Inácio de Loyola forma de ser um discípulo. E Francisco é um seguidor de Jesus nas passadas de Santo Inácio.
Após a leitura de Francisco - O Grande Reformador, uma das principais características da pessoa e do religioso Bergoglio que mais se destaca é a do Papa não ser alguém preocupado com o poder e o bem estar material. Bergoglio é alguém inequivocamente próximo dos pobres, dos desafortunados ("los sobrantes", "las periferias existenciales", para usar expressões do Papa) e sempre mais preocupado com as outras pessoas, pessoas muito diferentes e em muito diferentes circunstâncias, desde militantes comunistas às pessoas igrejas evangélicas.
Pode parecer um lugar comum, mas o seu modelo é mesmo Jesus. Através dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, e de toda uma vida de contemplação dos Evangelhos - ouvindo Cristo falar e vendo-o em ação - Francisco identificou-se com Ele a um nível que é agora, provavelmente, principalmente do plano inconsciente. O que espanta as pessoas na sua atitude é o mesmo que espantava as pessoas em Jesus: que este vivia ao serviço total dos outros, com humildade e de forma austera, irradiando alegria, revelando amor nas suas ações - para os mais desprotegidos em especial - e sendo, ao mesmo tempo, um excecional organizador e dirigente.
Um dos conceitos centrais no pensamento do Papa é o de "povo fiel a Deus". O que significa este conceito hoje para a Igreja? Por outro lado, é sugerido, por vezes, que o Papa não é um pensador sofisticado como o se predecessor, Bento XVI, ainda que alguns dos textos de sua autoria sugiram precisamente o contrário. Em sua opinião, como é que pensamento teológico mais profundo coexiste em Bergoglio com a importância que ele concede, como salienta no livro às formas de devoção popular?
O Papa têm uma ligação extraordinariamente forte com as pessoas comuns. Eles olha para elas como as que levam consigo Cristo. O "santo Pueblo de Dios", como ele se lhes refere, são os pobres de Deus (os "anawim"), aqueles que são capazes de receber Cristo de uma forma natural enquanto as elites têm de se esforçar enormemente só para só tentar fazê-lo. O programa de Francisco é o de trazer a mudança das periferias para o centro, porque ele está convicto de que é assim que Deus atua, e que toda a mudança real e verdadeira tem de estar enraizada na própria ação de Deus.
Refere no livro que o Papa tem uma forma peculiar de estruturar as suas intervenções: em três pontos. Como é que então Francisco organiza as mensagens que transmite?
O Papa aprendeu as suas competências de comunicação e retórica com os Jesuítas, entre as quais a da mensagem em três pontos. Também aprendeu muito com um bispo argentino, Victor Zazpe, cuja facilidade e capacidade de falar de uma forma comum, em linguagem simples, Bergoglio admirava muito. Uma nota importante: ainda que hoje em dia, seja algo simples e automático para ele, Francisco não é, naturalmente, um simples e grande comunicador. O seu pensamento é bastante complexo e sofisticado; além disso, ele é, por natureza, uma pessoa introvertida. O grande mestre da comunicação que vemos em ação resulta de um grande esforço e de uma dádiva espiritual, sem dúvida, pela qual ele muito rezou.
Tendo em mente um dos conceitos de um teólogo e pensador importante para o Papa e latino-americano como ele, Methol Ferré, o de uma nova "fonte" para a Igreja de hoje e para a realidade contemporânea, podemos especular que o papa seguinte a Francisco também será das "periferias" e que após o muito breve pontificado de João Paulo I, será difícil ver, de novo, um papa italiano?
O Papa Francisco não é só um novo Papa, é uma nova forma de pontificado, um novo programa. Como procurei demonstrar no livro, o papado de Francisco representa a chegada a Roma de uma nova fonte para a Igreja universal - a América Latina. Neste sentido, o papado de Francisco traduz a mudança do centro de gravidade do Catolicismo mundial do Norte para o Sul. Isto não tem a ver apenas com uma questão de números; tem a ver, principalmente, com a questão do vigor da Igreja no Sul. Assim como a fonte para a Igreja da Contra-Reforma foram Espanha e Itália (e a grande maioria dos papas foi desta última) e a fonte para o Concílio Vaticano II foram a França, Alemanha e a Europa Central, agora a nova "fonte da Igreja" é a América Latina. Sem dúvida que podemos esperar que os papas do futuro sejam provenientes desta região, mas também, e finalmente, da Ásia e de África. O conclave é um processo de discernimento espiritual e nunca há certezas absolutas sobre quem os cardeais irão escolher.
Fonte - DN