Ana Paula de Oliveira
Copyright Folha de S. Paulo, 24/09/03"Para estudiosos da comunicação ou do comportamento humano, há uma diferença colossal entre assistir diariamente ao ‘Discovery Channel’, por exemplo, e a um programa de auditório recheado de closes ginecológicos e/ou cenas de violência. Porém, seja qual for a qualidade do programa, o meio de comunicação, por si só, se consumido em excesso, é capaz de causar grandes estragos. No caso, certas funções orgânicas do telespectador, como as faculdades cognitivas ou até as articulações e a postura, é que são prejudicadas. E mais: a TV, tal qual o cigarro e o álcool, pode causar dependência.
Assim como o dependente de cocaína tem o impulso de cheirar mais para manter o estado de euforia, o telespectador contumaz sente necessidade de ficar grudado à TV para manter a sensação de relaxamento que o hábito produz. Essa foi a conclusão de um amplo estudo realizado pelos pesquisadores americanos Robert Kubey, diretor do Centro de Estudos de Mídia da Universidade Rutgers, e Mihaly Csikszentmihalyi, professor de psicologia da Universidade de Claremont.
Para o estudo, a dupla monitorou as ondas cerebrais, a resistência da pele e os batimentos cardíacos de voluntários diante da televisão. Sua principal contribuição foi explicar o que faz as pessoas se tornarem escravas da televisão.
Quando assiste à TV, a pessoa se sente relaxada, mas essa sensação se esvai tão logo o aparelho é desligado. Porém o estado de passividade e de diminuição de atenção permanecem.
Mas, claro, a televisão informa, diverte, entre outros atributos. E nem todo fã da telinha é viciado nela (leia abaixo os sinais da dependência). Saber como se dá o poder de atração da TV sobre o telespectador pode ajudá-lo a exercer um controle sobre ela.
Em texto publicado na revista ‘Scientific American’, a dupla de pesquisadores afirmou que participantes desse tipo de pesquisa comumente dizem que a televisão chupou-lhes a energia, deixando-os depauperados, com mais dificuldade em se concentrar. Muitos, diz o texto, também relatam melhora no humor após a prática de esportes. Mas, depois de ver televisão, o humor deles não se altera ou fica pior do que antes. Outra curiosa constatação da pesquisa: quanto mais tempo as pessoas passam diante da televisão, menos satisfação elas conseguem obter.
O tempo considerado ideal para manter corpo e mente ilesos dos danos que o excesso de TV pode causar é de uma hora diária, em média, segundo diversos estudos. ‘A média do brasileiro é de quatro horas e, em São Paulo, chega a seis horas diárias’, diz Gabriel Priolli, crítico de televisão e presidente da Associação Brasileira de TV Universitária. Os europeus dispensam três horas e meia, os americanos, uma hora a mais.
Em entrevista por e-mail ao Equilíbrio, Robert Kubey alerta: ‘Se você assiste à televisão por cerca de três horas por dia, quando chegar aos 75 anos, você terá gastado nove anos inteiros da sua vida vendo TV. E, se dorme oito horas por dia, terá
permanecido acordado apenas 50 dos 75 anos’.
Segundo levantamento da ONU, 93% das crianças do mundo têm acesso à TV. E elas passam pelo menos 50% mais tempo ligadas ao aparelho do que em qualquer outra atividade não-escolar. Entretanto a TV não pode ser considerada o bicho-papão que ‘estraga’ a criança. ‘É um companheiro dela e, muitas vezes, sua babá. É preciso que os pais limitem seu uso’, diz Ana Mercês Bahia Bock, presidente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo.
Fonte - Observatório da Imprensa
O assunto é meio off-topic, mas foi inspirado por outra matéria que li no dia de hoje e que, por não conter fonte explícita e comentário de gosto duvidoso ao final, impediu-me de veiculá-la neste espaço. No entanto, pela importância do tema e da correlação com o texto da Sra. White, que na minha ótica facilmente se transfere pelos conceitos abordados, de forma mais latente inclusive, penso ser o mesmo pertinente para o nosso dias, especialmente no que se refere ao "estado de passividade" que produz no ser humano...
"Que lerão nossos filhos? - eis uma séria pergunta, que requer resposta séria. Aflijo-me ao ver, em famílias cristãs, revistas e jornais contendo histórias em série, as quais não causam boa impressão no espírito. Tenho observado aqueles cujo gosto pela ficção foi assim cultivado. Têm tido o privilégio de escutar as verdades da Palavra de Deus, de conhecer as razões de nossa fé; mas chegaram à maturidade destituídos de piedade verdadeira. Esses queridos jovens necessitam muitíssimo de introduzir o melhor material na edificação de seu caráter - o amor e o temor de Deus, e o conhecimento de Cristo. Muitos, porém, não possuem uma inteligente compreensão da verdade como é em Jesus. A mente se tem banqueteado com histórias sensacionais. Vivem num mundo irreal, e acham-se inabilitados para os deveres práticos da vida. Tenho observado crianças a quem se permitiu crescerem dessa maneira. Seja em casa, seja fora, elas ou estão desassossegadas ou sonhadoras, e são incapazes de conversar, a não ser acerca dos assuntos mais comuns. As mais nobres faculdades, as que se adaptam às mais altas realizações, foram rebaixadas à contemplação de assuntos triviais, ou ainda piores, até que a pessoa se satisfaz com esses temas, mal podendo alcançar qualquer coisa mais elevada. Os pensamentos religiosos e a conversação sobre os mesmos, têm-se tornado desagradáveis. O alimento mental em que se têm chegado a deleitar, é contaminador em seus efeitos, conduzindo a pensamentos impuros e sensuais. Tenho experimentado sincera piedade por essas almas, ao considerar quanto estão perdendo com o negligenciar oportunidades de obter conhecimento de Cristo, em quem se concentram nossas esperanças de vida eterna. Quanto tempo precioso é desperdiçado, e que poderia ser empregado em estudar o Modelo da verdadeira bondade!" (Fundamentos da Educação Cristã - Ellen G. White - Pág. 162)