segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Trânsito e privacidade

por Sandro Guidalli em 27 de novembro de 2006

Resumo: É uma tolice achar que os benefícios da tecnologia a serviço da segurança da comunidade justificam o fim da privacidade individual.

© 2006 MidiaSemMascara.org

O Contran, a principal autoridade pública em trânsito brasileira, divulgou esta semana a decisão de obrigar os veículos (leia-se montadoras) que rodam pelo país a se adequarem em cinco anos à nova lei que exige a colocação de um chip no pára-brisa de cada automóvel. O chip é um artefato eletrônico que pode armazenar várias informações a respeito dos veículos e dos seus condutores. O número e a qualidade destas informações são ilimitados. Com ele colado ao vidro, policiais e agentes de trânsito vão poder saber dados importantes sobre o histórico da frota em território nacional. Quem ficar de fora do novo cadastro ambulante vai tomar multa, é claro.

Em resumo, a medida do Contran é daquele tipo incontornável para o cidadão, rico, pobre, de classe média, não importa a renda, a idade, o sexo e a cor. Faz parte da parafernalha eletrônica e virtual do Estado que controla e vigia as pessoas. Em poucos anos, é improvável que resista algum local público e até mesmo privado em que poderemos ter 100% de segurança de que não estaremos sendo monitorados. Viveremos no paraíso da tirania, sob um ambiente em que nem Josef Sálin, Hitler ou Mao Zedong poderiam antever, por mais viciados que fossem pelo controle político e social das aglomerações humanas durante suas ditaduras. E não se trata de fazer o que Fidel Castro faz. Os governos vão dispensar delatores e a comunicação entre monitorados e Estado se dará por via direta e sem risco de erros de informação.

A tecnologia sempre servirá aos interesses do Estado. Nasceu e foi desenvolvida para ele. Tudo começou com o Registro Civil, o CPF, a Carteira de Trabalho e outros documentos que hoje servem menos para a segurança e utilidade das pessoas e mais para que o servidor público saiba o que você faz, se é doente ou não, quanto sonega e até quanto você gasta numa loja de CD´s. Os dispositivos que rastreiam o indivíduo vão chegar a um determinado grau de sofisticação que em breve eles não estarão apenas no pára-brisa do carro. Eles vão estar sob a nossa própria pele reunindo todas os dados possíveis sobre quem somos, o que fazemos, onde estamos, se preferimos maçã ou banana e até mesmo quantas vezes por semana fazemos sexo. É questão de tempo.

É uma tolice achar que os benefícios da tecnologia a serviço da segurança da comunidade justificam o fim da privacidade individual. O Estado é insaciável por informações e nunca haverá limite para a gula que ele tem por elas. A liberdade da Internet já está em sua mira, isso sem falar nas tentativas permanentes pela criação de órgãos e conselhos que visa o controle da imprensa. Por incrível que pareça, estamos ainda num patamar incipiente de controle social mas que deverá se expandir nas próximas décadas e que terá como alvo final substituir nossas próprias ações e desejos. Quando este tempo chegar, o Poder Público coordenará nossas ações transformando o indíviduo em mero agente coletivo. A diferença é que, se hoje ele ainda o faz de forma limitada por meio da propaganda, do CPF e de chips instalados em carros, ele o fará efetivamente de forma incontornável, direta e por sofisticados meios remotos. Terá chegado a era em que teremos nos tornado robôs humanos. Talvez ainda estejamos longe dela. Mas estamos a caminho. Disso é quase impossível duvidar. Será assim, na verdade, o Admirável Mundo Novo.

Fonte - Mídia sem Máscara

Dada a recorrência do assunto, basta linká-los... Comece aqui.
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