O Domingo é das mais antigas e mais “importantes instituições cristãs” (Cf. «A Instrução Pastoral sobre o Domingo e sua celebração»). O respeito e a vivência do descanso e da missa dominicais são índices significativos da penetração do cristianismo na alma duma população. Publicada a 9 de Junho de 1978, esta instrução pastoral aborda as questões fulcrais sobre este dia da semana.
A reunião dos fiéis para a celebração do mistério pascal era a nota dominante do Domingo cristão nos primórdios. Actualmente, nas sociedades de velha tradição cristã “a vivência social do Domingo é sobretudo marcada por ser o dia de descanso” – sublinha o documento da Conferência Episcopal Portuguesa. E acrescenta: “mesmo que a muitos escape o sentido espiritual e religioso do descanso dominical, ele é um valor que a Igreja se empenha em defender”.
Depois do primeiro recenseamento à prática dominical realizado a 6 de Fevereiro de 1977, os bispos portugueses constataram que “é baixa a frequência das missas dominicais, quase se perdeu a tradição das devoções de Domingo à tarde”. Este dia da semana foi-se adaptando, ao longo dos séculos, às circunstâncias mutáveis da vida social. Hoje, ele defronta uma das “mais profundas mudanças socioculturais, a passagem da civilização da estabilidade – para a moderna civilização urbana – civilização da mobilidade”. A pastoral do Domingo tem de enfrentar com “realismo esta mudança, superando as dificuldades e aproveitando as oportunidades que dela advêm” – realça o documento.
Passados trinta anos, a realidade ainda continua em mobilidade constante. No entanto, no capítulo «Para uma Pastoral realista do Domingo», os bispos portugueses apontam as soluções: “A pastoral do Domingo tem, pois, de contar com realidades como a dispersão das pessoas nos fins de semana, férias e turismo, sem esquecer as peregrinações e visitas a santuários; os pequenos grupos, a começar pelos que se formam por motivos de vida espiritual e apostolado; e os meios de comunicação social, com tudo o que representam de distracção dos valores espirituais e religiosos, mas também de possibilidade novas de transmissão da mensagem evangélica ou de promoção dos valores cristãos”.
Com o aproximar dos tempos de veraneio, a mobilidade acentua-se. O valor do Domingo poderá cair no esquecimento de alguns. Para que tal não aconteça, os bispos portugueses apelam no referido documento para “um esforço de aprofunda-mento doutrinal, que ponha mais a claro a origem, o conteúdo de fé e a espiritua-lidade o dia do Senhor”. Encontrar o valor do Domingo é palavra de ordem...
Nesta linha de aprofundamento, os prelados portugueses aprovaram – a 11 de Novembro de 1993 – uma Nota Pastoral «O Domingo numa sociedade em mudança». Os pseudo-valores ganharam novo impacto. O documento continua com alertas. “A laicização da vida moderna e a crise de valores levaram ao amortecimento da fé ou das suas expressões”.
As melhores formas dos cristãos actuarem foram expressas na instrução pastoral, mas a nota pastoral reforça as linhas. “O trabalho contínuo, a multiplicação das indústrias e dos serviços dos tempos livres, a mobilidade das populações e a já referida crise de valores levantam, em muitos lugares, sérias dificuldades a uma autêntica vivência do Domingo”.
Apesar de ser um tempo reservado a Deus, o Domingo também é um tempo para o homem, para cada homem e para todos os homens. Este descanso dominical é um espaço aberto à convivência, ao encontro e prestação gratuita de serviços, extraordinariamente importantes para a vida comunitária e colectiva dos homens. “Antes de mais, para a vida familiar, hoje tão afectada pela dispersão dos membros da família, pelo desen-contro de horários, por dificuldades económicas e de habitação, pela degradação das ideias e costumes que infectam o ambiente e penetram mesmo, através dos meios de comunicação social, até ao interior dos lares” – expressa a Nota Pastoral «O Domingo numa Sociedade em Mudança».
A Igreja percebe as contingências da sociedade e convoca os cristãos para uma pastoral do Domingo com criatividade. “Criatividade pastoral e social” – avança o documento.
E finaliza: “Não podemos viver sem o Domingo”
Fonte - Ecclesia