Revoltas por falta de comida estouram em vários países, e desacreditada teoria volta à tona. Mas isso não quer dizer que o mundo não vá ter problemas para alimentar sua população.
Nos anos de 1970, as pessoas estavam à beira da inanição em muitos lugares ao redor do mundo. Os preços dos grãos estavam bastante altos, os estoques de arroz estavam em queda. Na Etiópia e no Camboja, as pessoas estavam realmente à beira da fome, e a revolta da opinião pública por falta de comida contribuiu para a queda do Imperador Haile Selassie e a vitória do Khmer Vermelho.
Agora, isso está acontecendo novamente. Revoltas por falta de comida incendeiam Bangladesh, o Egito e outros países africanos. No Haiti, isso custou o cargo do primeiro-ministro. Países produtores de arroz, como China, Índia e Indonésia, restringiram as exportações, e o arroz é transportado sob escolta armada.
E, de novo, Thomas Malthus, economista britânico e demógrafo da virada do século 18 para o 19, está sendo chamado para o serviço. Sua teoria básica era a de que as populações, que crescem em progressão geométrica, irão inexoravelmente superar o ritmo da produção de alimentos, que cresce em progressão aritmética. O resultado seria a fome. Esse pensamento foi fundamentado em cenários apocalípticos, tanto reais quanto imaginários, da Grande Fome Irlandesa, em 1845, à Explosão Populacional de 1968.
Mas, com a Revolução Industrial, a Revolução dos Transportes, a Revolução Verde e a Revolução Biotecnológica, Malthus foi amplamente desacreditado. Os acontecimentos lancinantes dos últimos meses não mudam esse fato, diz a maioria dos especialistas. Mas eles mostram os problemas que podem surgir.
O mundo nunca chegou tão perto de superar sua capacidade de produzir alimentos. Hoje, há grãos suficientes crescendo no planeta para alimentar 10 bilhões de vegetarianos, afirma Joel E. Cohen, professor de populações da Rockefeller University em Nova York e autor de “How Many People Can the Earth Support?”. Mas muitos desses grãos estão servindo de alimento para gado, que são por sua vez consumidos pelas pessoas mais ricas do mundo.
Em teoria, existem terras plantadas suficientes para alimentar o planeta para sempre, porque as Nações Unidas prevêem que a população mundial irá se estabilizar em 10 bilhões de pessoas em 2060. Mas o sucesso depende do controle das porções; no final da década de 80, o Programa Fome Mundial da Brown University calculou que o mundo naquela época podia sustentar 5,5 bilhões de vegetarianos, 3,7 bilhões de sul-americanos ou 2,8 bilhões de norte-americanos, que comiam mais proteína animal do que os sul-americanos.
Mesmo que as taxas de natalidade voltassem a subir, muitos agrônomos acreditam que o mundo poderia suportar facilmente de 20 a 30 bilhões de pessoas.
Qualquer pessoa que tenha sobrevoado os Estados Unidos pode ver como isso é possível: há muitas terras desocupadas no país. Toda a população do mundo, com 93 metros quadrados de espaço vital cada, caberia no estado do Texas.
Água? Quando o barril atingir o preço de US$ 150, valerá mais a pena construir dutos da calota polar em derretimento, ou dessalinizar o mar, como fazem os sauditas.
O mesmo potencial é ainda mais evidente quando se sobrevoa o planeta. As favelas de Mumbai são extensas; mas também são extensas as áreas cultiváveis vazias em Rajasthan. A África, um continente enorme com meros 770 milhões de pessoas, parece praticamente vazia vista do alto. Ao sul do Saara, a terra é rica; ao sul de Zambezi, o clima é temperado. Mas a terra é cultivada em sua maior parte por gente que usa enxadas.
Como apontou Harriet Friedmann, especialista em sistemas de alimentos da Universidade de Toronto, Malthus escreveu em uma Grã-Bretanha que ecoava a dicotomia entre os países ricos de hoje e o Terceiro Mundo: uma elite de grandes latifundiários praticando “agricultura científica” de lã e trigo e obtendo grandes lucros; muitos agricultores de subsistência mal conseguindo sobreviver; migração desses agricultores para as favelas de Londres, seguido de emigração. A principal diferença é que a emigração naquela época era para colônias onde terras cultiváveis os esperavam, enquanto hoje é para países ricos onde estão os postos de trabalho.
O mundo de Malthus ficou cheio, e os agricultores, desafiando suas previsões, se tornaram ainda mais produtivos. Reconhecidamente, desmatar a terra para que se possa plantar trigo geneticamente modificado e colhê-lo com equipamentos da John Deere pode ser um processo brutal, mas está solidificado e já faz parte das regras ocidentais.
Mas, e os 800 milhões de pessoas que sofrem de miséria crônica, mesmo em anos sem conflitos?
Friedmann argumenta que há uma insustentabilidade malthusiana na forma como a grande agricultura é praticada. Ele afirma que ela degrada de tal forma a diversidade genética e o meio ambiente que certamente chegará um ponto em que a fome irá se alastrar.
Outros discordam veementemente. Na opinião deles, o mundo é quase infinitamente abundante. Se os alimentos se tornarem tão caros quanto o petróleo, poderíamos cultivar a terra da África, instalar viveiros de peixes nos oceanos e construir jardins vegetais hidropônicos no alto dos arranha-céus. Mas eles vêem os problemas por trás disso sob uma perspectiva mais marxista do que malthusiana: os ricos obtêm muito de tudo, incluindo biomassa.
Por ora, simplesmente acabar com subsídios a agricultores americanos e europeus permitiria aos agricultores pobres competir no mercado.
Tyler Cowen, economista americano, observa que os mercados globais de agricultura estão longe de serem livres e são administrados de forma imprudente. Países ricos subsidiam agricultores, mas governos pobres congelam preços locais de grãos ou proíbem a exportação somente quando os preços mundiais sobem – por exemplo, menos de 7% do arroz produzido no mundo cruza as fronteiras. Isso desmotiva os milhões de agricultores do Terceiro Mundo a plantar um pouco mais para venda no mercado, além do que plantam para si e sua família.
Cohen, da Rockefeller University, disse que os americanos gostam de Malthus porque sua teoria os livra da culpa pelo problema. Malthus afirma que o problema é existirem muitas pessoas pobres.
Ou, usando os termos com os quais a crise atual geralmente é explicada: muitos chineses e indianos trabalham duro e acham que deveriam poder comer pizza, carne e tomar café. Eles são os culpados por aumentar em tal nível os preços mundiais que africanos e asiáticos pobres não podem pagar o preço do arroz e do mingau. A verdade é que a pressão para o aumento dos preços já estava lá.
Os Estados Unidos sempre foram caridosos, então a resposta nunca foi “deixem que eles comam brotos de feijão”. Mas tem sido “deixem que eles comam milho americano subsidiado transportado em navios americanos”. Talvez eles precisem mudar.
Fonte - G1
Nos anos de 1970, as pessoas estavam à beira da inanição em muitos lugares ao redor do mundo. Os preços dos grãos estavam bastante altos, os estoques de arroz estavam em queda. Na Etiópia e no Camboja, as pessoas estavam realmente à beira da fome, e a revolta da opinião pública por falta de comida contribuiu para a queda do Imperador Haile Selassie e a vitória do Khmer Vermelho.
Agora, isso está acontecendo novamente. Revoltas por falta de comida incendeiam Bangladesh, o Egito e outros países africanos. No Haiti, isso custou o cargo do primeiro-ministro. Países produtores de arroz, como China, Índia e Indonésia, restringiram as exportações, e o arroz é transportado sob escolta armada.
E, de novo, Thomas Malthus, economista britânico e demógrafo da virada do século 18 para o 19, está sendo chamado para o serviço. Sua teoria básica era a de que as populações, que crescem em progressão geométrica, irão inexoravelmente superar o ritmo da produção de alimentos, que cresce em progressão aritmética. O resultado seria a fome. Esse pensamento foi fundamentado em cenários apocalípticos, tanto reais quanto imaginários, da Grande Fome Irlandesa, em 1845, à Explosão Populacional de 1968.
Mas, com a Revolução Industrial, a Revolução dos Transportes, a Revolução Verde e a Revolução Biotecnológica, Malthus foi amplamente desacreditado. Os acontecimentos lancinantes dos últimos meses não mudam esse fato, diz a maioria dos especialistas. Mas eles mostram os problemas que podem surgir.
O mundo nunca chegou tão perto de superar sua capacidade de produzir alimentos. Hoje, há grãos suficientes crescendo no planeta para alimentar 10 bilhões de vegetarianos, afirma Joel E. Cohen, professor de populações da Rockefeller University em Nova York e autor de “How Many People Can the Earth Support?”. Mas muitos desses grãos estão servindo de alimento para gado, que são por sua vez consumidos pelas pessoas mais ricas do mundo.
Em teoria, existem terras plantadas suficientes para alimentar o planeta para sempre, porque as Nações Unidas prevêem que a população mundial irá se estabilizar em 10 bilhões de pessoas em 2060. Mas o sucesso depende do controle das porções; no final da década de 80, o Programa Fome Mundial da Brown University calculou que o mundo naquela época podia sustentar 5,5 bilhões de vegetarianos, 3,7 bilhões de sul-americanos ou 2,8 bilhões de norte-americanos, que comiam mais proteína animal do que os sul-americanos.
Mesmo que as taxas de natalidade voltassem a subir, muitos agrônomos acreditam que o mundo poderia suportar facilmente de 20 a 30 bilhões de pessoas.
Qualquer pessoa que tenha sobrevoado os Estados Unidos pode ver como isso é possível: há muitas terras desocupadas no país. Toda a população do mundo, com 93 metros quadrados de espaço vital cada, caberia no estado do Texas.
Água? Quando o barril atingir o preço de US$ 150, valerá mais a pena construir dutos da calota polar em derretimento, ou dessalinizar o mar, como fazem os sauditas.
O mesmo potencial é ainda mais evidente quando se sobrevoa o planeta. As favelas de Mumbai são extensas; mas também são extensas as áreas cultiváveis vazias em Rajasthan. A África, um continente enorme com meros 770 milhões de pessoas, parece praticamente vazia vista do alto. Ao sul do Saara, a terra é rica; ao sul de Zambezi, o clima é temperado. Mas a terra é cultivada em sua maior parte por gente que usa enxadas.
Como apontou Harriet Friedmann, especialista em sistemas de alimentos da Universidade de Toronto, Malthus escreveu em uma Grã-Bretanha que ecoava a dicotomia entre os países ricos de hoje e o Terceiro Mundo: uma elite de grandes latifundiários praticando “agricultura científica” de lã e trigo e obtendo grandes lucros; muitos agricultores de subsistência mal conseguindo sobreviver; migração desses agricultores para as favelas de Londres, seguido de emigração. A principal diferença é que a emigração naquela época era para colônias onde terras cultiváveis os esperavam, enquanto hoje é para países ricos onde estão os postos de trabalho.
O mundo de Malthus ficou cheio, e os agricultores, desafiando suas previsões, se tornaram ainda mais produtivos. Reconhecidamente, desmatar a terra para que se possa plantar trigo geneticamente modificado e colhê-lo com equipamentos da John Deere pode ser um processo brutal, mas está solidificado e já faz parte das regras ocidentais.
Mas, e os 800 milhões de pessoas que sofrem de miséria crônica, mesmo em anos sem conflitos?
Friedmann argumenta que há uma insustentabilidade malthusiana na forma como a grande agricultura é praticada. Ele afirma que ela degrada de tal forma a diversidade genética e o meio ambiente que certamente chegará um ponto em que a fome irá se alastrar.
Outros discordam veementemente. Na opinião deles, o mundo é quase infinitamente abundante. Se os alimentos se tornarem tão caros quanto o petróleo, poderíamos cultivar a terra da África, instalar viveiros de peixes nos oceanos e construir jardins vegetais hidropônicos no alto dos arranha-céus. Mas eles vêem os problemas por trás disso sob uma perspectiva mais marxista do que malthusiana: os ricos obtêm muito de tudo, incluindo biomassa.
Por ora, simplesmente acabar com subsídios a agricultores americanos e europeus permitiria aos agricultores pobres competir no mercado.
Tyler Cowen, economista americano, observa que os mercados globais de agricultura estão longe de serem livres e são administrados de forma imprudente. Países ricos subsidiam agricultores, mas governos pobres congelam preços locais de grãos ou proíbem a exportação somente quando os preços mundiais sobem – por exemplo, menos de 7% do arroz produzido no mundo cruza as fronteiras. Isso desmotiva os milhões de agricultores do Terceiro Mundo a plantar um pouco mais para venda no mercado, além do que plantam para si e sua família.
Cohen, da Rockefeller University, disse que os americanos gostam de Malthus porque sua teoria os livra da culpa pelo problema. Malthus afirma que o problema é existirem muitas pessoas pobres.
Ou, usando os termos com os quais a crise atual geralmente é explicada: muitos chineses e indianos trabalham duro e acham que deveriam poder comer pizza, carne e tomar café. Eles são os culpados por aumentar em tal nível os preços mundiais que africanos e asiáticos pobres não podem pagar o preço do arroz e do mingau. A verdade é que a pressão para o aumento dos preços já estava lá.
Os Estados Unidos sempre foram caridosos, então a resposta nunca foi “deixem que eles comam brotos de feijão”. Mas tem sido “deixem que eles comam milho americano subsidiado transportado em navios americanos”. Talvez eles precisem mudar.
Fonte - G1
Nota DDP:
Muito antes de Malthus, o Senhor Jesus já havia previsto tal estado de coisas, principalmente, que estas resultariam da ganância humana, porque como se vê, a natureza que saiu das mãos de Deus é abundante o suficiente para que nada disso estivesse acontecendo.
Lucas 21:11
haverá grandes terremotos, epidemias e fome em vários lugares, coisas espantosas e também grandes sinais do céu.