domingo, 2 de março de 2014

Papa Francisco: o nosso modelo de “catolicismo evangélico”

O papa Francisco é um “católico evangélico”? Primeiro, temos que definir os termos: "evangélico", em seu sentido mais simples, se refere à "boa nova", que é o significado da palavra grega “evangelos”. Os autores dos evangelhos são chamados de "evangelistas" porque registraram por escrito a “boa nova”, o “evangelho”, de Jesus Cristo. O evangelho de Marcos começa explicando: "Início da boa nova de Jesus Cristo, o Filho de Deus".

No entanto, a palavra "evangélico" também é usada, hoje, para se referir aos protestantes que defendem uma compreensão conservadora (e às vezes anticatólica) da fé cristã. Os protestantes evangélicos são conhecidos pela devoção simples a Jesus Cristo, pelo zelo na difusão do evangelho e pela alegria em comunicar a mensagem básica do cristianismo ao mundo.

O papa Francisco é um católico evangélico. Sua amizade com o bispo Tony Palmer é uma indicação de zelo evangélico do papa e do seu interesse e aceitação dos cristãos evangélicos. O bispo inglês Tony Palmer pertence à Comunhão das Igrejas Evangélicas Episcopais. Palmer e Bergoglio se tornaram amigos quando o inglês era missionário da sua igreja na Argentina. Recentemente, Tony Palmer foi convidado a se encontrar com seu velho amigo, agora papa Francisco. Palmer contou a sua história e apresentou uma mensagem do papa Francisco gravada em vídeo para um grupo de líderes pentecostais do Texas, nos EUA.

Em sua mensagem, o papa cumprimentou calorosamente os evangélicos americanos, reconhecendo o amor por Jesus Cristo, que compartilhamos, e a necessidade de compartilharmos a boa nova com o mundo. Francisco reafirmou as próprias credenciais como católico evangélico. O livro “Catolicismo Evangélico”, de George Weigel, oferece uma boa descrição desse modo de viver a fé. Simplificando: o catolicismo evangélico une as riquezas de dois mil anos de religião católica com o zelo missionário básico, a mensagem simples do evangelho e o ministério social ativo dos evangélicos.

O catolicismo evangélico é "mais cristianismo", não apenas "mero cristianismo". Ele reúne as belezas do culto católico tradicional com uma compreensão histórica da fé. Ele se enraíza na erudição bíblica animada por uma mensagem social relevante e pelo ministério ativo na comunidade.

O bispo Tony Palmer declarou, em seu discurso aos líderes evangélicos do Texas, que ele "queria tudo": ele queria afirmar a plenitude da fé católica, mas também o zelo ardente dos carismáticos, os sonoros entendimentos bíblicos dos "crentes na bíblia" e o amor dos evangélicos pelo compartilhamento do evangelho. E perguntou aos pentecostais reunidos: "Vocês não querem Jesus mais ainda? Você não querem tudo?".

Eu entendo Tony Palmer porque vivi a mesma jornada. Criado em um lar evangélico norte-americano, eu procurei a Igreja histórica e me tornei anglicano. Este passo me aproximou do catolicismo e acabei recebido na plena comunhão da Igreja católica. Ao trilhar essa estrada, eu afirmei toda a plenitude da fé na Igreja católica e todas as coisas boas das tradições evangélica e anglicana ao mesmo tempo. Eu não neguei as coisas boas da minha experiência evangélica e anglicana, mas, ao me tornar católico, afirmei mais ainda.

O catolicismo evangélico reúne três grandes correntes da vida contemporânea da Igreja: a bíblica, a carismática e a litúrgica. Elas podem ser vistas como representantes da mente, do espírito e do corpo. No catolicismo evangélico, as atividades intelectuais da teologia e da erudição bíblica são equilibradas com a fervorosa devoção e espiritualidade dos carismáticos. Estas duas dimensões são equilibradas e levadas a um nível mais profundo da experiência humana pela estabilidade da liturgia. Da mesma forma, a liturgia é aprofundada pela pregação forte, sonora e animada pela oração e pela adoração no Espírito.

Essas três vertentes da nossa experiência cristã são vitalmente necessárias se queremos viver a plenitude da fé cristã. Nossa cabeça, nosso coração e nosso corpo precisam estar engajados com a nossa fé. Temos que pensar, sentir e agir no mundo para ser plenamente vivos em Cristo.

As três características são visíveis no ministério do papa Francisco. Sua vida está enraizada na liturgia e na oração da Igreja, mas também se fundamenta na teologia e na escritura sagrada. E essas duas dimensões são vividas em seu ministério público vibrante, que proclama um evangelho radical e vive a mensagem da boa nova do amor de Deus em um mundo às escuras e profundamente necessitado.

Fonte - Aletéia

Nota DDP: As "três dimensões" citadas no artigo lembram de "três manifestações" engajadas com "três atores" denunciados em Apocalipse 16.
Related Posts with Thumbnails