A violência e as guerras forçaram 38 milhões de pessoas a um deslocamento dentro de seus próprios países - seis milhões delas na Colômbia -, o que equivale às populações de Nova York, Londres e Pequim reunidas, segundo o relatório de uma ONG.
Apenas no ano de 2014 foram registrados 11 milhões de deslocados, o que significa 30.000 pessoas por dia, segundo o relatório do Centro de Vigilância de Deslocados Internos (IDMC), uma ONG norueguesa.
"Estes são os piores números de deslocamentos forçados em uma geração, o que evidencia nosso fracasso absoluto para proteger civis inocentes” disse Jan Egeland, secretário-geral do Conselho Norueguês para Refugiados (NRC).
"Há duas grandes áreas no mundo que estão particularmente afetadas pelas pessoas deslocadas: Oriente Médio e norte da África, de um lado, e a região subsaariana, do outro", acrescentou. No total, o IDMC analisou a situação em 60 países.
"Uma das principais razões que explicam o forte aumento no número de pessoas deslocadas", chamadas no jargão internacional de "IDP" ("Internally displaced people") é o fechamento das fronteiras, explicou Egeland à AFP, acrescentando que a comunidade internacional "não quer ou não pode fazer o que prometeu: proteger os mais vulneráveis e os inocentes".
Além disso, pela primeira vez em dez anos a Europa também foi "palco de deslocamentos forçados em massa, provocados pela guerra da Ucrânia, que levou 646.5000 pessoas a fugir de seus lares em 2014". Este número quase duplicou desde o início de 2015, alcançando 1,2 milhão de pessoas, acrescentou Egeland.
No dia 31 de dezembro de 2014, os países que contavam com o maior número de pessoas deslocadas eram Síria (7,6 milhões), Colômbia (6 milhões), Iraque (3,3 milhões), Sudão (3,1 milhões) e a República Democrática do Congo (2,56 milhões).
Os deslocados internos são pessoas que permanecem em seus países, ao contrário dos refugiados, obrigados a fugir para outros países. De acordo com estatísticas da ONU, o mundo tinha 16,7 milhões de refugiados no fim de 2013.
"Este relatório deveria servir com um grande sinal de alarme. Devemos romper esta tendência na qual homens, mulheres e crianças se encontram presos em áreas de conflito em todo o mundo", completou Egeland, citado em um comunicado do IDMC.
Cerca de 60% dos deslocados internos de 2014 estavam em apenas cinco países, os já mencionados Iraque, Sudão do Sul, Síria e República Democrática do Congo, além da Nigéria.
Pelo menos 40% da população da Síria foi obrigada a recorrer ao deslocamento, o maior índice do planeta. O país enfrenta uma violenta guerra civil desde 2011.
Deslocados internos na Colômbia
No final de 2014, havia ao menos 7 milhões de deslocados internos em todas as Américas (do Norte, Central e do Sul), em alta de 12% em relação a 2013. A Colômbia tem o recorde dos deslocados internos, com 6,04 milhões de pessoas no fim de 2014, cerca de 12% de sua população total.
El Salvador, Guatemala, Honduras, México e Peru também registram deslocados internos, segundo o documento.
Na Colômbia foram registrados 137.200 novos deslocados em 2014, menos do que em 2013, a grande maioria em consequência do conflito com a guerrilha das Farc, atualmente em um processo de paz.
Mas o país também tem casos de deslocados provocados pela violência criminal, a maioria deles nos departamentos de Pacífico del Chocó, Valle del Cauca, Cauca e Nariño.
O México tem 281.400 deslocados internos, e a Guatemala pelo menos 248.500. El Salvador registra 288.900 e Honduras um total de 29.400, segundo o relatório.
"A maior causa de deslocamento em México, Guatemala, El Salvador e Honduras é a violência criminal vinculada ao tráfico de drogas e às atividades de gangues urbanas", destaca o relatório do IDMC.
Estes quatro países e a Colômbia "têm 19 das 50 cidades com o maior índice de criminalidade do mundo", segundo o documento. No México a violência criminal provocou o deslocamento de ao menos 9.000 pessoas em 2014, em 10 estados do país.
"Os traficantes de drogas e outros grupos criminosos no México são responsáveis por milhares de mortes e sequestros de civis, aterrorizando as populações locais (...)", acrescenta.
O documento afirma que o México "não reconhece oficialmente o deslocamento interno, e as respostas dadas são fragmentadas e insuficientes".
No Peru ao menos 150.000 pessoas foram obrigadas a deixar seus lares desde o sangrento conflito que atingiu o país nos anos 80 e 90, com a emergência da guerrilha Sendero Luminoso. Estes deslocados "não puderam reintegrar suas comunidades de origem devido a problemas de subsistência, de educação ou por barreiras linguísticas", indica o estudo.
Fonte - Yahoo