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P. De acordo com a sua análise, sempre existiram o capitalismo e a globalização, mas depois da II Guerra Mundial teríamos iniciado uma nova fase na qual entra a estratégia dos EUA de estender a doutrina Monroe ao planeta inteiro. Quais são, em sua opinião, as características desta nova fase da globalização, e quais os objectivos prioritários da estratégia americana?
R. Esta nova fase assenta numa transformação da natureza do imperialismo (falo de imperialismo, e não de "império" como Toni Negri): se até final de II Guerra Mundial o imperialismo conjugava-se no plural, e as potências imperialistas estavam em permanente conflito entre si, então assistimos a uma transformação estrutural que deu à luz o imperialismo colectivo, a que chamo da "tríade": simplificando um pouco, EUA, Europa e Japão, quer dizer, o grupo dos segmentos dominantes do capital que têm interesses comuns na gestão do sistema mundial. Este sistema, que representa a forma do novo imperialismo frente a 85% da população mundial, "requer" a guerra. Este é precisamente o ponto em que se manifesta o projecto do establishment americano, e que reflecte a orientação da maioria da classe dominante norte-americana, disposta a controlar militarmente o planeta. Os EUA optaram por desencadear o primeiro ataque ao Médio Oriente por uma série de razões, mas por duas em particular: pelo petróleo e pelo controle militar das principais regiões petrolíferas do planeta, para exercer uma liderança incontestada, a fim de se constituir numa ameaça permanente para todos os potenciais concorrentes económicos e políticos. Mas também porque têm na região, aquilo a que eu defino de o seu porta aviões fixo: o Estado de Israel através do qual garantem um instrumento de pressão permanente, que é utilizado na ocupação da Palestina e, como se viu, é utilizado também na agressão ao Líbano.
P. Você sustenta que o militarismo agressivo do EUA não é tanto um sinónimo de força, mas bem mais, um meio de equilibrar a sua vulnerabilidade económica. Poderia explicar melhor o que quer dizer com isto?
R. De acordo com a teoria dominante, de que infelizmente é também vítima grande parte da opinião pública europeia, a supremacia militar dos EUA representaria a ponta do iceberg de uma superioridade em fase terminal baseada na eficácia económica e na hegemonia cultural. Mas a realidade é que os EUA estão numa posição de vulnerabilidade extrema, que se manifesta no enorme défice comercial com o estrangeiro, e dessa fragilidade deriva a opção estratégica da classe dirigente dos EUA que desemboca no uso da violência militar. Existem documentos do Pentágono que demonstram que os EUA consideraram possível uma guerra nuclear em que as vítimas pudessem chegar aos 600 milhões: como escreveu Daniel Ellsberg, cerca de 100 holocaustos.
P. Frente ao protagonismo dos EUA, a Europa parece ainda incapaz de articular um projecto político realmente alternativo. Que deveria a Europa fazer?
R. Por enquanto, e apesar de tantos europeus terem esperança nisso, não acredito que a Europa esteja em condições de chegar a ser um elemento alternativo à hegemonia do EUA. Teria que sair da NATO, romper a aliança militar com os EUA e emancipar-se do liberalismo. No entanto, actualmente, as forças políticas e sociais europeias parecem interessadas em tudo menos num projecto desse tipo, até ao ponto em que – como fez um dia o velho PS italiano – reforçaram melhor o atlantismo e o alinhamento com a NATO e o liberal-socialismo. Hoje não se vislumbra outra Europa. E neste sentido, a Europa não existe: o projecto europeu é simplesmente a face europeia do projecto norte-americano.
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Nota DDP:
Interessante como os assuntos se revezam mas, todos eles, convergem para o cumprimento das profecias... Mais sobre os EUA, aqui.