Ricardo Ditchun
Do Diário do Grande ABC
Para quem os que têm – os tais 18 anos ou pouco mais –, vale pela identificação imediata. Para quem terá, a atração é uma espécie de antecipação de algumas das maravilhas que estão por vir: o direito de circular para lá e para cá motorizado (sem os pais na cola), as baladas até então proibidas para menores (sem os seguranças achincalhando), os porres inesquecíveis etc. Para quem já teve, restam as lembranças, e talvez a constatação de que, na essência, pouca coisa muda entre gerações que, do ponto de vista temporal e espacial, não são lá tão distantes.
O apelo de As Quebradeiras é, para resumir, o seguinte: seis garotas urbanóides e de classe média saem de férias juntas rumo a Juqueí, no litoral norte paulista. Instalam-se em uma casa de condomínio fechado, o QG onde surgem planos para programas noturnos e diurnos típicos de quem quer ser feliz.
Quebradeiras é o termo empregado pelos produtores para definir um possível perfil comum ao sexteto: elas quebrariam paradigmas e, sobretudo, fariam o que desse em suas respectivas telhas quando ninguém estivesse olhando. Por ninguém, entenda-se principalmente os pais, ali, no calor da hora.
Pelo visto no primeiro (serão seis ao todo) episódio, nada chocante. As seis garotas partem de carro para o litoral; são paradas pela Polícia Rodoviária (quatro passageiras no banco traseiro não pode); levam multa; fazem charminho. Já na praia, protagonizam umas tretas na hora de organizar quem dorme com quem e em qual quarto; duas saem para compras e voltam chapadas; vomitam. À noite, antes de um show do Rappa, dançam numa balada; bebem; uma faz xixi na calçada, encoberta pelas amigas e alguns garotos solidários de plantão (um deles estica o olhão para trás); dançam no show; azucrinam os seguranças para entrarem no camarim; conseguem; daí azucrinam os caras da banda, inclusive Falcão, que, apesar de algo deslocado, curte.
Você já não fez (faz ou fará) isso? Tudo bem, é cotidiano demais. No entanto, é melhor que Big Brother Brasil, na Globo. Mesmo em noite de paredão, como foi a terça-feira. Muito melhor que as tramas dos brothers, todas obviamente roteirizadas em favor de ibope e doses suportáveis de sensacionalismo. Muito melhor que as insossas falas do apresentador Pedro Bial momentos antes de anunciar o eliminado da vez.
O segundo episódio d’As Quebradeiras, quarta à noite, mostraria as meninas em aulas de surfe; preparando churrasco; brigando por causa de dinheiro (essa treta é eterna); uma delas terminando o namoro; festinha na casa de uns carinhas (conhecidos na praia, durante o dia); uma ficada com um dos tais carinhas; mais baladas, mais porres...
Para esta quinta, a agenda inclui pegar ondas na vizinha (praia) Maresias; visita a uma aldeia indígena; jantar em restaurante japonês; guerra de lama entre duas quebradeiras; banho de piscina noturno, e um esperado sermão da síndica no dia seguinte.
Por enquanto, tudo soa mesmo muito prosaico, principalmente se o telespectador já estiver bastante distanciado do público alvo pretendido pela emissora. Seja lá como for, zoológico humano por zoológico humano, o básico da MTV, em comparação com o para lá de produzido da Globo, é mais autêntico. Vale conferir.
Fonte - DGABC
Nota DDP:
Dois pequenos comentários:
1) A notícia está no caderno de "cultura" do referido jornal;
2) Diz que a nova pérola televisiva é melhor (por ser pior) que o malfadado BBB.
Pelo andar da carruagem, "malhação" se tornará rapidamente obsoleto em matéria de lição de boas maneiras aos jovens.