Esta seria uma proposta indigesta pela fome de consumo das pessoas, e não simpática pelo lado da produção, muito menos ainda pelo comércio. Passar um dia inteiro sem fazer nenhuma compra não é uma tarefa impossível. Mas para quem está “duro” é até uma atitude comum.
A proposta não tem nada a ver com o discurso de economia, mas é uma reflexão sobre os hábitos de pessoas que compram sem qualquer sentido racional. Até na alimentação, para reduzir alguns gramas indesejáveis em nosso organismo, será bom para a saúde. A própria orientação cristã, em conceitos teológicos, promove o jejum como um exercício necessário de fé.
Este será um dia particular para refletir sobre nossos hábitos de consumo. É neste momento que se verá quanta besteira se faz ao comprar coisas que só atendem a um momento, um impulso pessoal e emocional, sem qualquer sentido prático para a vida. Em muitos casos é mais um entulho a ser guardado em casa, que apenas causou uma satisfação no ato da compra. Acreditamos que todos em algum momento tiveram a necessidade de mudança de endereço. É aquela correria, de empacotar coisas e mais coisas. Neste momento se verá quanto entulho ficou guardado anos e anos, sem qualquer uso e, pior, sem serventia por estar quebrado, aguardando tão só momento oportuno para consertar, "quando tiver tempo”. Se não consertou, certamente daquele bem você não mais tinha necessidade. Não fez falta.
Para aqueles que têm dificuldade de enfrentar este teste de ficar sem compra por um dia, comecem a tomar a postura de adiar por um dia a decisão de uma compra. Sem oferecer qualquer base científica e sim pela experiência, provavelmente mais de 80% esquecerão no dia seguinte, pelo fato de as compras serem na sua grande maioria um impulso sem alguma necessidade imperiosa. Temos a convicção de que haverá uma catarse emocional por este ganho subjetivo.
A não compra por um dia, para os economistas, será a redução do PIB. Para os empresários, uma redução de seus lucros. Para os filósofos, uma bela oportunidade para uma reflexão sobre a vida. Para a mãe Terra será seu dia de férias. Mesmo que a sociedade inteira assumisse esse compromisso, por hipótese, seria a redução de apenas 1/365 no sistema econômico. Isto nada significaria em termos relevantes para a economia. Mas para quem a pratica será inclusive uma poupança para o futuro.
Há 19 anos foi instituído por uma organização canadense (AdbustersMedia) o chamado dia sem compras (Buy nothing day), a ser praticado todo ano no dia 27 de novembro, perto da época de fim de ano, para que todas as pessoas pensem melhor antes de comprarem qualquer coisa por aí, refletindo principalmente sobre o impacto benéfico ao meio ambiente por esta escolha. Estamos chegando.
Esta é uma bela oportunidade para dar um basta ao bombardeio das mensagens de consumo desenfreado, promoções mágicas e prestações a perder de vista, tornando-se um escravo financeiro.
Este será um dia para ser lembrado, que não se precisa ter de tudo o que se vê por ai. Vivemos um modelo econômico do tipo bicicleta, impulsionado para o ato de comprar, se parar cai. Afundamos em dívidas e prestações para toda a eternidade, que nem sempre trarão beneficio para o nosso bem-estar, a própria saúde e a saúde do meio ambiente.
O essencial é estar bem consigo mesmo, em harmonia com o mundo ao redor. Vamos “comprar” esta ideia?
Fonte - Jornal do Brasil
Nota DDP: O viés mais óbvio da notícia é o condicionamento. A idéia de se parar e, parar em um domingo. A progressão do raciocínio aponta para a conclusão de que tal posicionamento apenas uma vez por ano não é suficiente. Uma vez por semana é bem mais factível...