Ao receber o Primaz Ortodoxo grego no Vaticano – a primeira visita oficial do género desde 1054 -, Bento XVI confirmou a sua intenção de estar na linha da frente do diálogo ecuménico, com especial destaque para as relações católico-ortodoxas.O próprio Arcebispo Christodoulos, que teve de esperar alguns anos até ter o consentimento do Sínodo da Igreja grega, reconhece que foi dado um passo importante. “Este encontro com Bento XVI trará desenvolvimentos significativos no campo das relações entre cristãos da Igreja Católica e da Igreja Ortodoxa”, referiu hoje o Arcebispo Ortodoxo de Atenas e de toda a Grécia.
952 anos após o “cisma” que separou o Oriente e o Ocidente cristãos, o Papa e o Primaz grego assinaram uma declaração comum, na linha daquela que foi assinada entre Bento XVI e o Patriarca Ecuménico de Constantinopla, Bartolomeu I, dando continuidade ao diálogo católico-ortodoxo - uma das prioridades deste pontificado - ao mais alto nível.
Outro gesto significativo foi a entrega de parta da cadeia da prisão de São Paulo, conservada na Basílica dedicada ao Apóstolo, em Roma. Christodoulos desejou que o gesto simbolize “uma cadeia inquebrável que una Oriente e Ocidente pelos laços do amor”.
O dinamismo ecuménico de Bento XVI viveu um ímpeto especial no último mês, com a assinatura de três declarações comuns – às duas já referidas soma-se a que foi firmada com o Primaz Anglicano, Rowan Williams, em Novembro passado.
Menos de 24 horas depois da sua eleição, o Papa disse que eram necessários “gestos concretos” para promover qualquer avanço no ecumenismo. Eles têm sido muito visíveis nos tempos mais recentes e poderão deixar adivinhar um passo futuro, que inclua o desejado e aguardado encontro com Alexis II, Patriarca Ortodoxo de Moscovo.
Apesar da importância que poderia ter uma plataforma de entendimento com a Rússia, parece claro que o Papa já identificou qual o principal tema em que se deve concentrar o diálogo católico-ortodoxo: a questão da autoridade da Igreja, sobretudo o que diz respeito ao papel do próprio Bispo de Roma na comunidade eclesial universal, tendo consciência da tradição de sinodalidade nas Igrejas Ortodoxas.
Na recente viagem à Turquia, Bento XVI manifestou abertura para uma discussão relativa às formas de exercício do ministério petrino, mas a declaração conjunta assinada com Bartolomeu I deixava nas mãos da Comissão Mista Internacional Teológica - que regressou aos trabalhos no passado mês de Setembro, em Belgrado - a missão de aprofundar as questões levantadas pelo debate em volta do tema “Conciliariedade e Autoridade na Igreja” a nível local, regional e universal.
Por isso mesmo, já se aposta na presença do Papa e do Patriarca de Constantinopla na próxima sessão de trabalho desta Comissão bilateral, que decorrerá na Itália. Uma mudança fundamental, seja qual for o próximo "grande" gesto ecuménico, começa a ganhar forma: o diálogo teológico católico-ortodoxo já não discute a legitimidade de um primado universal, mas sim a forma de exercitá-lo..
Internacional Octávio Carmo 15/12/2006 17:22 3028 Caracteres 194
Fonte - Ecclesia
Domingo e ecumenismo, prioridades recorrentes, não?
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