Financiado pela Nasa, novo estudo adianta em pelo menos 30 anos derretimento da camada gelada no Pólo Norte
THE TIMES
O gelo que cobre o Oceano Ártico tem derretido de forma tão rápida que o Pólo Norte será um mar aberto em apenas 30 anos, segundo previsão de climatologistas americanos. Para eles, até 2040 a região não terá mais aquele lençol gigantesco de água congelada, como acontece hoje.
No verão ártico, os navios poderão navegar tranqüilamente no topo do mundo, cheios de turistas que observarão o que era uma das paisagens mais inacessíveis do planeta até que o aquecimento global desse conta do recado. Um pouco de gelo pode resistir em áreas costeiras, como na Groenlândia e nas Ilhas Ellesmere, e só.
É um processo que durará menos de uma geração e que já está em curso. Os cientistas, financiados pela Nasa (a agência espacial americana), calcularam a diminuição do gelo com base nos índices registrados hoje em dia. Nos últimos 25 anos, o gelo ártico reduziu em 25%.
A perda será constante até 2024. A partir de então, o processo se acelera, num efeito que os pesquisadores chamam de “feedback positivo” - ou efeito dominó. Isso porque o gelo normalmente reflete de volta para o espaço parte da radiação solar que a Terra recebe. À medida que a área coberta diminui, essa radiação é absorvida pelo oceano, que por sua vez esquenta e impulsiona um derretimento mais rápido.
Esse processo já era conhecido e, só com ele, o gelo ártico sumiria lá para 2080. A data mudou em virtude de um fator que havia sido esquecido pelos cientistas. Em um novo estudo, um grupo formado por cientistas do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR) e de duas universidades americanas incluíram, no cenário já trabalhado pela ONU, correntes oceânicas mais quentes.
“Testemunhamos grandes perdas de gelo, mas a pesquisa sugere que a redução será ainda mais dramática nas próximas décadas, de uma maneira que nunca aconteceu antes”, diz Marika Holland, do NCAR, principal autora do estudo. “À medida que diminui a cobertura de gelo, o oceano transporta mais calor ao Ártico e o mar aberto absorve mais radiação solar.”
GASES DO EFEITO ESTUFA
O derretimento desse gelo todo, por si só, não elevaria o nível dos oceanos - uma vez que é apenas água sólida sobre água líquida, como uma pedra de gelo num copo d’água. Mas o aquecimento pode alavancar o derretimento já em curso da camada gelada sobre a Groenlândia - isso sim suficiente para acrescentar 7 metros àquele nível.
Para confirmar o resultado, o cálculo foi replicado em outros modelos climáticos, com datas similares na maioria deles. “O ritmo e a maneira pelos quais o gelo diminui afetam a habilidade de ecossistemas e sociedades se adaptarem às mudanças”, alerta o grupo.
Para alguns cientistas, a previsão de 30 anos é até superotimista. Um deles é Chris Rapley, coordenador do Serviço Antártico Britânico. Ele acha mais provável que a perda de gelo se agrave com o crescimento acelerado da emissão de gases do efeito estufa, que mais do que dobrou desde 2000. O efeito estufa agrava o aquecimento global. “O estudo pode ser uma subestimativa de quando o gelo ártico no verão terá sumido”, diz.
Por outro lado, em um discurso muito próximo ao dos ambientalistas, os climatologistas afirmam que a perda pode ser minimizada com a redução da emissão de gases-estufa. “Tais reduções aliviam a pressão sobre estes eventos.”
Jeff Ridley, cientista do Centro Hadley, da Grã-Bretanha, que não participou do estudo, olha os dados com precaução. Lembra que todos os estudos anteriores apontavam para um tempo de 65 a 75 anos antes de o gelo sumir no verão ártico. “Todos os nossos modelos globais, no relatório do IPCC, indicam que o gelo não vai desaparecer até 2070 ou 2080.”
O IPCC, ou Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, é o órgão da ONU que estuda as questões e congrega todas as descobertas no setor, ao publicar documentos que nortearão políticas sobre a questão.
Fonte - Estadão
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