segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

2010: quem vai governar o mundo no ano do Tigre?

Em boa parte do mundo, o novo ano só começará em 14 de fevereiro, dia do Ano Novo chinês. Adeus ano do Boi, bom dia ano do Tigre. Segundo a astrologia chinesa, esse tigre será de metal. É suficiente para gelar o sangue daqueles que, no Ocidente, no Japão ou na Índia, assistem à inexorável ascensão do gigante chinês no cenário mundial, perguntando-se aonde isso vai parar. Aliás, Pequim acaba de anunciar uma previsão de crescimento de seu PIB de 9,5% em 2010. Crise? Que crise?

Em outros lugares, o espectro da Grande Depressão se afastou, mas uma crise pode esconder outra. O grande abalo financeiro mundial, ao enfraquecer a legitimidade e a autoridade do país de onde partiu, os EUA, provocou uma crise de governança mundial. Quem governará o mundo em 2010? A questão agita tanto Pequim quanto Washington, Tóquio ou Bruxelas, pois 2008 e 2009 foram, desse ponto de vista, igualmente devastadores.

Se a conferência de Copenhague sobre a mudança climática, em dezembro passado, servir de indício, a reconstrução da ordem internacional não será um longo rio tranquilo. Copenhague é, em primeiro lugar, o fracasso da gestão da ONU, templo do multilateralismo herdado da Segunda Guerra Mundial. Os organizadores foram impotentes para conciliar as exigências de 193 países, alguns dos quais eram mais iguais que os outros, segundo a expressão de Coluche. A fórmula de blocos de países não funcionou melhor. A UE ficou ausente.

Foi afinal um punhado de dirigentes que concluiu a negociação, não sem algumas peripécias reveladoras. Barack Obama teve muita dificuldade para administrar uma relação direta com o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, que ora lhe enviava seus adjuntos, ora preferia a companhia dos dirigentes de países emergentes. Obama, pensando que se sentaria sozinho com o chinês, não apenas teve a surpresa de encontrar, reunidos em torno de Wen, os presidentes brasileiro, Lula, e sul-africano, Zuma, como o primeiro-ministro indiano, Singh - que supostamente já teria partido -, mas o chefe de Estado americano foi tão bem recebido que ele mesmo teve de encontrar uma cadeira para sentar-se ao lado de "My friend Lula - Hey, Lula!"

Copenhague também tocou o dobrado do "G-2", se é que jamais existiu. Forjado pelo historiador de Harvard Niall Ferguson em 2007, sob o termo de "Chimerica", a ideia de uma dupla sino-americana, a aliança do maior devedor mundial com seu principal credor, foi popularizada por Zbigniew Brzezinski, ex-conselheiro de Jimmy Carter, que há um ano propôs o conceito de um G-2, "o grupo de dois que poderia mudar o mundo".

Os chineses não têm a menor vontade de codirigir o mundo com os americanos, menos ainda de mudá-lo, por enquanto. Wen Jiabao disse isso em maio de 2009, ao denunciar o conceito de G-2 como "ruim e sem fundamento"; ele prefere de longe a "multipolaridade". Poderíamos imaginar os dirigentes chineses lisonjeados por ver-se repentinamente elevados tão alto no pódio do mundo; é conhecer mal suas preocupações, que se concentram em seu fenomenal esforço de crescimento e sua estabilidade interna. Para eles, o G-2 é oferecer à China para substituir a União Soviética na dupla soviético-americana do fim da Guerra Fria. Longe de reivindicar uma posição de superpotência, a China quer ser considerada um país em desenvolvimento, conforme as estatísticas do PIB por habitante: US$ 3.566 para a China, US$ 46.443 para os EUA. O Japão ainda é a segunda economia do mundo, e a China só produz 7,1% do PIB mundial.

Ser uma superpotência cria expectativas e deveres. Uma superpotência deve ter uma moeda conversível. Uma superpotência pode ser chamada a tornar-se o policial do mundo. Mesmo que Pequim não recuse mais emprestar capacetes-azuis à ONU nem a enviar navios de guerra para o golfo de Áden, suas prioridades são outras. Os dirigentes chineses sabem que essa posição geraria tensões na Ásia: seja o Japão ou a Índia, as outras potências veriam com maus olhos Pequim assumir com Washington as rédeas da governança mundial - sem falar na Rússia.

Quem, então? A globalização fez surgir novas configurações, do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) ao G-20, sobre as ruínas do G-8. Copenhague chegou a inventar o Basic (Brasil, África do Sul, Índia, China). A crise financeira acelerou tudo: o G-20 tornou-se uma cúpula de chefes de Estado, depois em abril de 2009 uma instância decisiva para salvar a comunidade internacional do abismo financeiro, em Londres, onde a China demonstrou uma nova segurança. Seja qual for o esquema, a China terá um papel central, que ela mesma ainda não parece ter definido.

Apesar de sua fragilidade financeira, os EUA continuam sendo a primeira economia do mundo, os campeões da inovação tecnológica e sobretudo a única superpotência militar. São as duas únicas certezas. Como o mundo se articulará, dentro e ao redor desses dois gigantes, resta a ver. Bipolaridade, multipolaridade, alianças e contra-alianças: sob o signo do Tigre, tudo é possível.

Fonte - BOL


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