NOVA YORK, terça-feira, 20 de maio de 2008 (ZENIT.org).- A visita de Bento XVI às Nações Unidas provocou um grande entusiasmo no Palácio de Cristal e está destinada a ter um impacto sobre o Direito Internacional, explica o observador permanente da Santa Sé na ONU.
O arcebispo Celestino Migliore, que recebeu o Papa em sua residência durante os dias de sua permanência em Nova York, nesta entrevista concedida à Zenit revela alguns detalhes dos encontros privados que teve com o Pontífice e fala sobre como as palavras do Papa foram acolhidas nas Nações Unidas.
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–Quais foram as reações das delegações nacionais presentes na ONU sobre o discurso do Papa?
–Dom Migliore: Também a ONU se encontra em um período de dificuldades e de tensões. Mas o Papa teve a capacidade de elevar os ânimos. Sabendo que na ONU nem tudo são flores, tive a impressão de que muitos diplomatas que o ouviram sublinhar os aspectos mais potencialmente belos das Nações Unidas, sentiram-se confortados e animados a trabalhar por uma ONU que funcione.
Sem dúvida, foi o encontro com essas pessoas que suscitou maior entusiasmo nas Nações Unidas. Durante sua intervenção, o Papa olhou várias vezes para a audiência sorrindo. Seu calor e seu sentir-se à vontade encontraram eco na resposta das pessoas, com sua excitação e aplausos e com a longa ovação que lhe tributaram. Uma resposta entusiasta que não era só uma excitação de estado, mas estava motivada também pelo conteúdo de sua mensagem.
–O Papa disse que a Igreja crê nas Nações Unidas e convidou a ONU a voltar aos princípios fundadores da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Como esta mensagem foi recebida pelos membros das Nações Unidas?
–Dom Migliore: A impressão geral é de que o Papa estava lendo em seus corações o desejo pessoal de justiça e liberdade. Pelos comentários dos diplomatas e dos funcionários da ONU, as palavras do Papa estão destinadas a ter uma ressonância e um seguimento profundo e consciente, sobretudo com relação ao papel das Nações Unidas e do Direito Internacional.
–De que forma a «responsabilidade de proteger», citada pelo Santo Padre, poderá se apresentar como um novo princípio do Direito Internacional? Em que se diferencia da tradicional resposta da comunidade internacional contra os governos opressores?
–Dom Migliore: O Papa sustentou que o fundamento moral no qual um governo pode afirmar sua autoridade, sua soberania, é seu senso de responsabilidade, sua vontade e sua eficácia em proteger sua população de todo tipo de violação dos direitos humanos.
Assumindo esta expressão do documento final aprovado pelos chefes de estado e de governo em 2005, o Papa estendeu o conceito: a responsabilidade de proteger cobre não só as chamadas intervenções humanitárias (militares), mas poderia ser usada como sinônimo de soberania, que por sua vez não é só um direito, mas é sobretudo uma responsabilidade dirigida a proteger e promover as populações em sua vida cotidiana.
Fonte - Zenit