ZENIT - O mundo visto de Roma
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Código: ZP06051416
Data de publicação: 2006-05-14
«Domingo é dia de Deus»
Dom Odilo Pedro Scherer
Bispo auxiliar de São Paulo e secretário-geral da Conferência episcopal brasileira
SÃO PAULO, domingo, 14 de maio de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos artigo de Dom Odilo Pedro Scherer, bispo auxiliar de São Paulo e secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), sobre o significado religioso do Domingo. O texto foi difundido hoje pelo organismo episcopal.
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Domingo é dia de Deus
Cada vez mais, o domingo perde seu significado religioso e vai se tornando apenas um dia de lazer, de comércio e até de trabalho regular. Estranho! Justamente quando os filhos das grandes religiões do Oriente mostram entre nós grande apreço pelo seu dia sagrado semanal, a sociedade ocidental, por vezes identificada impropriamente como “Ocidente cristão”, descaracteriza mais e mais o dia sagrado semanal dos cristãos.
Cada domingo lembra aquele “primeiro dia da semana”, no qual os discípulos reunidos tiveram seus encontros marcantes com o Senhor Jesus ressuscitado dos mortos (cf Jo 20,19.26). Por isso mesmo o primeiro dia da semana judaica passou a ser chamado pelos cristãos “dia do Senhor” – domingo. Ainda hoje, é o dia da Páscoa semanal dos cristãos; dia de encontro com o Senhor vivo e presente no meio dos seus, e também de encontro com os irmãos na comunidade de fé; dia de manifestar a alegria de crer, de ouvir a Palavra de Deus e celebrar a Eucaristia. O domingo é dia sagrado, dia de Deus.
A participação na Missa dominical foi sempre um dos sinais identificadores mais fortes da vida cristã. Não participar na Missa ou, de alguma forma, da celebração dominical, denota distanciamento da Igreja e pouca identificação com a vida cristã. Católico praticante vai à Missa aos domingos.
Sem Missa e sem a celebração comunitária da fé, o domingo fica vazio de significado religioso. Transformado apenas em dia de descanso, de lazer e desafogo para as tensões da semana de trabalhos, o domingo acaba entrando na sucessão monótona do tempo, dos projetos e iniciativas humanas. Santificado, como a Igreja sempre propôs, o domingo ajuda o homem a sair da esfera da imanência e do narcisismo de suas próprias realizações, para contemplar a obra de Deus, à espera do “dia sem ocaso”, quando Deus manifestará toda a beleza de sua obra (cf Ap 21,1-8).
Quem participa da celebração dominical com a comunidade de fé descobre o horizonte transcendente da existência. A vida não é só trabalhar, produzir, entesourar, consumir; o tempo não é nosso, nele entramos de graça e por graça de Deus. O domingo é tempo de contemplar, com alma reconhecida, a obra de Deus e de pensar que Ele tem mais para nos dar; muito mais que nossos melhores esforços poderiam assegurar. Domingo é dia de sonhos bons e de partilha da esperança com os irmãos.
A celebração da eucaristia dominical é o eixo central da vida da Igreja e seu momento mais elevado; a eucaristia é fonte e ápice da vida da Igreja e de cada cristão. Quem nunca, ou quase nunca participa da Missa dominical, tende a ficar distante da Igreja e vai se sentindo estranho dentro dela; é inevitável que surjam as dificuldades para acompanhar a comunidade de fé e para continuar aceitando as propostas cristãs para a vida moral.
A santa Missa dominical é também o momento essencial da evangelização. A própria celebração litúrgica é evangelizadora. O anúncio sistemático da Palavra de Deus, através das leituras bíblicas e da homilia, oferece o alimento espiritual indispensável para perseverar na fé e no seguimento de Jesus Cristo. A maioria dos católicos tem na celebração dominical o único alimento da sua fé. Quem perde também esse momento, acaba desnutrido espiritualmente se expõe a perder a fé e até a sensibilidade religiosa e moral.
Em nossos dias tudo é medido pela eficiência, a vantagem, a utilidade e o lucro. O domingo também acaba sendo uma oportunidade a mais para fazer negócios: Não se pode perder tempo, tempo é dinheiro! No entanto, a perda do sentido religioso do domingo seria um dano irreparável para o ser humano e sua cultura; significaria, na prática, que não há mais tempo nem espaço para Deus e, com isso, também o ser humano perde suas referências. O domingo é o principal dia de manifestação da fé, de exercício da caridade e de alimentação da esperança.
Foi por esse motivo que o papa João Paulo II enumerou a santificação do domingo, através da celebração eucarística, como um dos pontos referenciais da vida cristã a serem especialmente zelados pela Igreja no terceiro milênio do Cristianismo.
Não terá chegado a hora de uma intensa valorização do domingo e da celebração dominical? Domingo é dia de Deus e lhe deve ser consagrado. Sendo dia de Deus, bem por isso também é, por excelência, dia do ser humano, para retomar fôlego, levantar a cabeça e pensar na vida e viver melhor.
D. Odilo Pedro Scherer
Bispo auxiliar de São Paulo
Secretário-geral da CNBB
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