ROMA – Depois da reabilitação do papa em relação ao grupo de bispos que causaram desentendimentos, incluindo aquele que negou o Holocausto, um segundo escândalo levantou um debate dentro da Igreja, sobre se o foco do Papa Bento 16 na doutrina e a insensibilidade perceptível em seu tom político está alienando os católicos e prejudicando a autoridade moral da instituição.
Neste domingo, um sacerdote conhecido por seus relatos provocativos, como ter culpado os pecados de New Orleans, nos Estados Unidos, pelo Furacão Katrina, pediu ao papa para cancelar seu compromisso como bispo auxiliar na Áustria.
O assunto desencadeou uma tempestade de críticas sobre a hierarquia da Igreja e levou a esforços frenéticos para acalmar a raiva e a confusão dos fiéis em todo o mundo. Enquanto isso, a última controvérsia criou uma preocupação de que as ações poderiam ser parte de um padrão de desordem.
George Weigel, especialista sobre Vaticano, criticou o Vaticano em um artigo recente na First Things, publicação religiosa dos Estados Unidos, pelo “caos, confusão e incompetência”.
Nesta segunda-feira, em Viena, 10 bispos austríacos se reuniram em uma sessão sobre a crise para lidar com suas consequências. Eirch Leitenberger, porta-voz da arquidiocese de Viena, disse que oficiais da Igreja em todo o país receberam centenas de cartas, ligações e e-mails, incluindo alguns sobre fiéis dizendo que estavam deixando a Igreja.
A Áustria, país com maioria católica e com um complicado passado nazista, ficou perturbada com o fato de o papa ter anulado a excomungação de quatro bispos, feita pela Sociedade de St. Pio 10, que é ultraconservadora, incluindo o bispo Richard Williamson, que negou a existência das câmaras de gás e a magnitude e intenção genocida do Holocausto.
Enquanto a confusão aumentava, Bento 16 deu início a outra ao indicar o reverendo Gerhard Maria Wagner, conhecido por seu comentário sobre Katrina e por dizer que o homossexualismo era curável, para ser bispo auxiliar de Linz.
O cardeal Christoph Schoenborn, que ocupa a posição mais elevada da Igreja Católica na Áustria, disse nesta segunda que as decisões feitas quanto aos bispos cismáticos e Wagner não tinham relação, e que elas foram “feitas sob diferentes circunstâncias”. Mas a proximidade delas intensificou o rancor entre os católicos austríacos que têm uma visão mais reformista. “A desaprovação cresceu exponencialmente”, disse Leitenberger.
Elisabeth Felbermair, 28, que estava do lado de fora da Catedral de São Estéfano em Viena, disse que estava aliviada por que Wagner seria colocado de lado. “Graças a Deus que ele vai embora”, disse, chamando as visões dele de “muito reacionárias”. Ela disse que provavelmente abandonaria a religião, embora por razões pessoais não diretamente relacionadas às controvérsias nas últimas semanas.
Para muitos católicos, as questões são mais profundas do que o caso de Wagner. Como foi publicado na primeira página do jornal austríaco, Die Presse, nesta segunda: “O nome dele apoia uma batalha de posições: Linz deveria ser mais fiel a Roma ou a Igreja deveria ser mais democrática e mais liberal?”
Mas o escândalo por causa de Williamson não foi apenas devido sua negação sobre o Holocausto e a demora do Vaticano em condená-la, mas também pelas preocupações de católicos centristas sobre a direção da Igreja e seu papel dentro dela.
Mesmo com com a luta de muitas igrejas locais para garantir aos paroquianos que as controvérsias são excepcionais, muitos veem o interesse de Bento 16 em se aproximar dos tradicionalistas como perfeitamente coerente com suas visões no passado.
Bento 16, um teólogo mais na biblioteca de sua casa do que na frente de uma multidão, foi por duas décadas chefe da Congregação da Doutrina de Fé e estava mais ligado à teologia de questões de doutrina esotérica do que ao potencial de suas ramificações políticas. Mesmo que seus últimos erros tenham tido consequências acidentais, ainda assim eles demonstraram a muitos paroquianos que as preocupações do papa são bem diferentes das suas.
“Tínhamos recuperado muito da confiança daqueles que estavam insatisfeitos, aqueles que precisavam saber que reconhecemos as preocupações de muitos católicos”, disse monsenhor Bernard Podyin, porta-voz da Conferência de Bispos Franceses. “É um trabalho muito, muito grande”.
Fonte - Último Segundo
Nota DDP: Penso que cada uns dos passos seguidos pelo Vaticano são milimetricamente calculados, inclusive para eventualmente tornar a figura do Papa altamente objetável, de forma a trazer um outro com um parelho discurso da linha "we can", afim de também ganhar a multidão, como recentemente tratado neste espaço.
No entanto, mesmo com todas as suas "trapalhadas", não se pode perder de vista que o pontífice está sempre na mídia e tem saído ileso de seus discursos políticos, o que demonstra o interesse dos segmentos em manter ligações com Roma, ainda que com um papa impopular.
Se vier um popular...