Revista EXAME - Tudo parece, hoje em dia, andar cada vez mais depressa. Que o diga, entre tantos outros, o presidente dos Estados Unidos. Ainda não faz um mês que Barack Obama assumiu seu posto na Casa Branca - e já começam a ser feitas perguntas do tipo "será que o governo Obama deu errado?" Os motivos dessa impaciência construída em tempo recorde estão, aparentemente, na súbita constatação de que Obama não é capaz de resolver com um golpe único e certeiro a crise econômica dos Estados Unidos e do mundo. Foi o que se viu na semana passada, quando ele anunciou seu pacote de medidas para estimular a economia americana com uma injeção de quase 3 trilhões de dólares. Os mercados não gostaram. O presidente mal tinha acabado de falar e as bolsas de valores já caíam de novo - enquanto investidores, economistas, analistas, comentaristas e quem mais tenha tido oportunidade de dar algum palpite expediam sentenças sumárias de condenação ao conteúdo, à forma e à eficiência das medidas que Obama propôs em seu discurso. Em sua maneira de ver as coisas, o pacote do presidente foi pouco específico, pouco articulado e pouco ambicioso. Faltou foco. O rombo a cobrir é superior aos recursos de que o governo dispõe. O problema da insolvência do sistema financeiro não foi enfrentado de modo coerente. O pacote apresenta questões erradas e respostas erradas. Deveria ser completo - e não foi. É ruim pelas medidas que tem. É ruim pelas medidas que não tem.
O que será que os mercados e os críticos esperavam? Pelo visto, esperavam uma solução imediata, correta e final para todos os problemas. Obama, por essa expectativa, teria dentro de um cofre, como no terceiro segredo de Fátima, um envelope com revelações só conhecidas por ele - e instruções precisas para resolver a crise. Aconteceu, então, o que acontece quando se espera um milagre: o milagre não vem. A crítica se decepciona, o público também e o resultado das esperanças frustradas é a sensação de fracasso. As bolsas voltam a despencar. As empresas cortam custos e demitem. Os investidores não investem e os compradores não compram. De quebra, aproveita-se a oportunidade para acusar o governo americano de protecionismo, por pedir que os consumidores comprem produtos locais, e de xenofobia, por não condenar manifestações sindicais contra a presença de estrangeiros no mercado de trabalho - como se os Estados Unidos fossem o único país do mundo onde esse tipo de coisa ocorre. Quanto ao presidente Obama, por fim, os mais respeitados observadores da economia mundial lançam um ultimato: ou faz muito depressa um novo pacote, e desta vez um pacote perfeito, ou o seu governo está morto.
É claro que a economia mundial não vive uma mera crise psicológica - um período prolongado de pânico e histeria no qual expectativas irreais de solução, ênfase nas más notícias e culto ao desastre se combinam para gerar fatos negativos, que, por sua vez, se multiplicam alimentando-se uns aos outros. Há questões objetivas de solvência do sistema financeiro. Há quedas concretas na produção e no consumo. Há, sobretudo, a depredação do mercado de trabalho - a crise é tragicamente real para o cidadão que perdeu o emprego e não pode marcar uma reunião no BNDES para discutir a reestruturação de seu capital com o professor Luciano Coutinho. Ao mesmo tempo, constata-se que o mundo, neste que é descrito como o pior momento da economia moderna, nunca teve um número tão grande de gente vivendo livre da pobreza - 2,5 bilhões de pessoas nos países emergentes, como lembrou na semana passada a revista The Economist. No Brasil, especialmente, o avanço é notável. Pela primeira vez em 500 anos de história, os não-pobres - ou seja, os que chegaram aos degraus iniciais da pequena classe média - são a clara maioria da população. Não há, por enquanto, um entendimento satisfatório do que isso significa. Mas é indiscutível que existe progresso aí, e muitas empresas estão operando com a cabeça nessa realidade. A Petrobras, por exemplo, acabou de anunciar que vai acelerar, em vez de reduzir, o ritmo de construção de duas novas refinarias, investimentos que realiza com seus recursos e sua capacidade de obter crédito; não faz isso por ser estatal, mas por uma lógica de negócio segundo a qual o mercado continuará querendo comprar gasolina e óleo diesel daqui a dez anos. Empresas que agem assim podem não estar tomando a decisão certa. Mas sem dúvida vale a pena prestar atenção no que estão fazendo, e por quê. A alternativa é começar uma novena para Santo Obama, pedindo que ele acerte da próxima vez.
Fonte - Exame