Afirmei que Copenhague reza a última missa do aquecimento global, e muita gente ficou brava. Alguns ficaram verdadeiramente furiosos: “Se você mesmo disse que não é especialista na área, por que fala besteira?” Quem escreve também não é. Ele considera que falo besteira porque não concordo com ele. Entenderam o espírito da coisa? Já escrevi e reitero: desde sempre, o meu ponto é outro. Por que a imprensa esconde a argumentação dos que contestam os apocalípticos? Por que estudiosos não menos respeitados e respeitáveis que negam as conclusões do IPCC são tratados como párias? Estamos num terreno semelhante ao da ideologia. Mais: o espírito que passou a conduzir este debate passou a ser religioso.
Estamos vivendo num cenário tão surrealista que as pessoas parecem não se dar mais conta do que pensam ou escrevem — ou talvez se dêem, sei lá, e estão apenas garantindo posições que foram assumindo no establishment. Prefiro não especular sobre motivações e me fixar nos absurdos que leio.
No dia 8, numa coluna no New York Times, Paul Krugman — pode não ser o meu predileto, mas, de hábito, não é um imbecil — disse algumas notáveis imbecilidades. Sei lá que diabo de e-mails ele anda recebendo, mas, segundo diz, as pessoas que contestam as teses do aquecimento global se mostram furiosas com quem sugere que “talvez, apenas talvez, a esmagadora maioria dos cientistas esteja certa” (sobre o aquecimento).
Os leitores de Krugman são realmente diferentes. Mundo afora, o que desperta fúria e censura é justamente duvidar desse consenso. Mais: Krugman não se dá conta do que escreveu: ele diz de uma esmagadora maioria que “talvez, apenas talvez”, esteja certa. Em suma: ele fala de uma maioria que acredita numa possibilidade — como numa religião qualquer. Ocorre que essa crença pode ter conseqüências. Mais: em ciência, duvidar do “talvez” e, sobretudo, da “convicção da maioria” é mister e virtude, não defeito.
Krugman diz ainda que os que contestam o aquecimento global se alinhariam àquele antiintelectualismo que cantava as glórias de George W. Bush porque ele não era alguém que pensasse muito. Entenderam? Não endossar as teses escatológicas nas quais Krugman acredita é uma manifestação de estupidez, de burrice. Mais: ele atribui a “loucura antiambientalista” ao fato de que muitos não suportam viver em mundo em que tenham de controlar seus apetites. Ah, bom!
Ninguém vai perguntar o que entende Krugman das geleiras ou da temperatura do mar. Mas respondo: “Nada”! Como eu e a maioria de vocês. A fama e o respeito de que desfruta se baseiam em outra especialidade. Tem tanta autoridade para falar sobre o assunto quanto eu e Angelina Jolie — só a beleza nos diferencia. Mas ele não será questionado porque, vê-se, aderiu à religião. Krugman não precisa nem mesmo dizer por que seus opositores estão errados. Basta que os classifique de antiintelectualistas — e, vejam lá, “conservadores”. Um conservador pode até saber por que apanha. Mas um “progressista” não precisa saber por que bate… O analista da alma dos antiambientalistas conclui o seu texto não com ciência ou evidência, mas com um norte moral: “Precisamos controlar nossos apetites”. É o que diz o nosso padre, o nosso rabino, o nosso monge, o nosso pastor. Krugman, definitivamente, tornou-se um crente.
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Mas Krugman acha que precisamos aprender a ter limites. Começaram nesse negócio como cientistas e já falam como se fossem nossos padres, nossos rabinos, nossos pastores, nossos monges. O nome disso é religião.
Copenhague já deu com os burros n´água. E, por isso, a economia criada pelo terror do aquecimento global, para sobreviver, vai ter de recuar um pouco. E vai até esfriar um pouco o planeta para justificar seu arrefecimento. Querem apostar?
Fonte - Blog Reinaldo Azevedo
Nota DDP: A citada frase de Krugman é apenas um reflexo do mesmo contexto debatido por outro importante líder global acerca do consumismo, para se ver como a linguagem de um economista e um líder eclesiático pode se alinhar rapidamente. Ver também "Fome de ar, água e comida". Destaque: "Os donos do mundo e seus sábios reunidos em Copenhague ainda não se entenderam sobre como salvar o planeta. A COP15 já funcionou, porém, como uma martelada na cabeça dos líderes, alertando-os para a superlotação da Terra e a dramática escassez de recursos naturais". Também "Gelo polar pode desaparecer em cinco anos".