A Rússia e o Vaticano decidiram estabelecer relações diplomáticas "completas" e elevar seus representantes ao status de embaixador e núncio apostólico, anunciaram ao fim de uma audiência no Vaticano o papa Bento XVI e o presidente russo, Dimitri Medvedev.
"No decorrer da conversa, as duas partes manifestaram sua satifação com as relações cordiais existentes, e concordou-se em estabelecer relações diplomáticas completas entre a Santa Sé e a Federação Russa", indicou o Vaticano em uma nota.
Por sua vez, o presidente Medvedev confirmou ao pontífice "que havia assinado um decreto permitindo o estabelecimento de relações diplomáticas completas com o Vaticano", declarou à imprensa a porta-voz do presidente russo, Natalia Timakova.
"Por isso, pediu ao ministério de Relações Exteriores que adiante as negociações com o Vaticano para elevar o nível das representações, tanto da nunciatura apostólica como da embaixada", explicou.
Em 1990 os dois países haviam estabelecido relações em nível de representantes.
O novo passo dado às relações diplomáticas acontece num momento em que as relações entre as igrejas católica e ortodoxa da Rússia, tensas nos últimos anos, parecem melhorar, desde a entronização, em fevereiro, do patriarca Kirill, que esteve durante longo tempo na direção da diplomacia da Igreja Ortodoxa.
Durante a audiência, o presidente russo presenteou o Papa com uma caixa, adornada com a imagem da catedral da Rússia - destruída pelos bolcheviques e reconstruída após o colapso da União Soviética -, e com dois volumes da enciclopédia Ortodoxa.
Seu predecessor, Vladimir Putin, doou em 2007 os primeiros volumes da coleção.
"Não posso ler tudo isso", comentou Bento XVI.
"Nós o ajudaremos", respondeu Medvedev.
"Os movimentos feitos por Moscou estão estritamente ligados às relações entre o Vaticano e a Igreja ortodoxa" uma vez que "os governantes russos são muito sensíveis a esta Igreja", revelou o vaticanista Marco Tosatti, ouvido pela AFP.
"O governo russo não quer melindrar o patriarcado de Moscou, não faz nenhum gesto que possa lhe desagradar", acrescentou.
De fato, após anos de tensão, com o ex-patriarca russo Alexis II acusando regularmente os católicos de proselitismo na Rússia, um encontro histórico entre o Papa Bento XVI e o patriarca Kirill não está totalmente excluído.
"Desejamos preparar esse encontro", declarou recentemente o chefe diplomático da igreja Ortodoxa russa, o bispo Ilarion.
O predecessor de Medvedev, Vladimir Putin, havia sido recebido três vezes no Vaticano: por Bento XVI, em março de 2007; e por João Paulo II, em 2000 e 2003.
O ex-presidente soviético Mikhaïl Gorbachev foi recebido em audiência no Vaticano por João Paulo II há 20 anos, no dia 1º de dezembro de 1989.
Fonte - Último Segundo
Nota DDP: Ver também "Vaticano e Rússia estabelecem relações diplomáticas". Destaque:
Bento XVI e Medvedev, que conversaram a sós durante cerca de meia hora, analisaram a situação económica e política internacional, à luz da encíclica papal «Caritas in Veritate», com a qual o líder russo foi presenteado.